Exatamente. As duas faces são do autor do dicionário 'Aurélio', o maior sucesso do mercado editorial no Brasil, com mais de 15 milhões de exemplares vendidos.
O livro do jornalista, Cézar Motta, ‘Por trás das Palavras ( editora Máquina de Livros), revela as tramas e intrigas na construção de um dos mais importantes dicionários da língua portuguesa e como o lexicógrafo e filólogo, o autor, Aurélio Buarque de Holanda, transitou entre as contradições de personalidade – o gênio e o homem imperfeito.
O gênio era um apaixonado pelas palavras e um caçador incansável de seus significados; o homem comum era descumpridor de prazos, até certo ponto preguiçoso, desorganizado e ardiloso ao desdenhar o esforço da equipe que atuava na elaboração do dicionário.
Motta coloca a personalidade do “Aurélio” às claras, fundamentado em uma detalhada pesquisa que incluiu entrevistas com o jornalista, Joaquim Campelo (hoje com 89 anos), que disputa com ele a coautoria da obra, demais membros da equipe, editores e pessoas que testemunharam a criação da monumental publicação, que na sua primeira edição lançada em 1975, já reunia 120 mil verbetes e 1.536 páginas.
De acordo com o contrato inicial com a editora, o ‘Aurélio’ deveria estar pronto em seis meses e, no entanto, levou 10 anos sendo elaborado para surgir como uma Bíblia, na sua concepção, papel e capa dura. O dicionário tornou-se ícone para os ávidos em conhecimento sobre palavras da língua portuguesa e muito indicado por professores como um completo exemplar que explicava o significado das palavras.
A trajetória de elaboração envolveu intrigas, paixões e disputas depois que virou um sucesso editorial de vendas e gerou milhões em receitas, A história de sua construção mais parece um romance de ficção se não fosse a existência dos personagens reais.
O jornalista Joaquim Campelo teve um papel importante na montagem da equipe e no sentido de vender o projeto para as editoras. Segundo relato de Cézar Motta, “o coautor correu como um louco atrás de uma editora que comprasse a briga,, ou de um patrocinador que bancasse o projeto.. Prazos foram descumpridos,, contratos foram quebrados,, até que surgiu a Editora Nova Fronteira,, do ex – governador Carlos Lacerda.. A partir de 1982,, começaram as brigas e disputas judiciais . Campelo e Aurélio romperam uma longa amizade,, e as pendengas acabaram apenas em 2013 no Supremo Tribunal Federal,, com um voto da ministra Rosa Weber.”
O jornalista Cézar Motta nasceu em Niterói. Trabalhou na Rádio Jornal do Brasil, nos jornalis O Globo e Correio Braziliense e n Revista Veja, e foi diretor da Rádio Senado. Hoje, além de escritor, escreve para revistas, jornais e sites brasileiros.
Equipe que colaborou na construção do ‘Aurélio’. Da esquerda para direita, Joaquim Campelo, Giovani Mafra e Elisabeth Dodsworth (datilógrafos), Margarida dos Anjos, Aurélio Buarque e Elza Tavares.
“Carlos Lacerda temeu que o dicionário quebrasse a editora.. Era tudo muito caro e de difícil execução.. Mas o ‘Aurélio’ se tornou o maior êxito editorial do Brasil até hoje.. Nem Jorge Amado vendeu tanto.”
“O contrato foi firmado no dia 17 de abril de 1974. Pelo acordo, Aurélio se comprometia a entregar o dicionário pronto à gráfica em seis meses – era um prazo razoável para Campelo e as moças,, porque estava quase tudo pronto.. O único a receber um adiantamento seria Aurélio; os outros teriam um percentual das vendas.. A divisão seria assim: os royalties para os autores seriam de 10%% das vendas,, inicialmente,, e depois 12%%,, quando aumentasse a tiragem.. Aurélio teria 7 % e os outros dividiriam os 3%% restantes.. Quando passassem a 12%%,, Aurélio teria mais 1,25%%,, e os outros,, mais 0,75%%.”
O livro já está à venda online em diversas livrarias. Mais informações com os editores:
Bruno ys
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Luiz André Alzer
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O ‘Aurélio’ foi ícone até quase as últimas décadas do século XX, antes da internet impor-se na vida dos jovens como tecnologia fácil, rápida, porém voraz. Na minha vida, a sagrada Bíblia da língua portuguesa está imponente na prateleira da minha estante até hoje. Confesso que o uso pouco o dicionário em papel pelo tamanho e por estar rendida às facilidades de dicionário online, mas entendo a paixão do Aurélio pelas palavras e lembro do poema de de Pablo Neruda, e um texto que publiquei tempos atrás: A arte das palavras e o gozo pelos seus significados.
“O livro em publicação impressa está sendo cada vez menos usado pela juventude, talvez pelo desconforto em carregá-lo ou pela dificuldade em manuseá-lo, dando lugar a pesquisa superficial pela internet. Com isso, os jovens perdem a oportunidade vivenciar a emoção de entender a palavra na raiz de sua definição e descobrir em diversos autores as diferenças na forma de explicar o significado da palavra.
Somente quem usa frequentemente dicionário é que sabe o quanto é intenso o prazer, quase um gozo quando se encontra um palavra em que o significado abrange exatamente aquilo que se deseja expor. Quanto mais se pesquisa mais se descobre – origem, história e se viaja no tempo”.