Foto por Mari Weigert. Fundo de um poço utilizado pelos cristãos que viviam no subterrâneos da Capadócia.

Neurociência da beleza. Sua aproximação com a arte

O tema é fascinante e desperta curiosidade. Uma luz no fundo do túnel sobre o debate do que é arte e o que é o belo.

O livro de Jean-Pierre Changeux, Neurociência da Beleza, explica  as reações químicas que a arte provoca no cérebro humano. “Acrescenta no debate sobre ciência e arte uma nova dimensão: aquela do conhecimento científico tanto pela contemplação da obra de arte, quanto de sua criação”, coloca a pesquisadora italiana, Alice Traforti, num artigo publicado no site CollezionedaTiffany.  O livro não tem tradução para o português.

Com a neurociência, de fato, abre-se um novo campo de pesquisa sobre a obra de arte, de modo que podemos agora falar de uma verdadeira “neurociência da arte”.

“Compreender como nosso cérebro intervém na relação entre o ser humano e a obra de arte tornou-se possível e promissor. E é o caminho que proponho a vocês neste novo livro meu”, Jean-Pierre Changeaux.

O assunto é fascinante e já foi abordado pelo PanHoramarte em artigos anteriores. O fisiologista Eric kandel falou sobre o assunto no artigo Neurocientista explica a relação entre o cérebro e a arte.

Escalada além dos terrenos cromáticos, Sheila Hicks, Bienal de Veneza de 2017.

“O que é o belo na arte? 

Uma pergunta que muitas pessoas fazem e a resposta, a professora do Departamento de História da Arte, da Universidade de Roma “La Sapienza, Maria Letizia Proietti, encontrou nos estudos psicanalíticos de Freud. A professora e também pesquisadora da crítica de arte faz do tema o assunto de suas lições na universidade. 

“O belo não é o que já vem pronto, codificado, com o qual não se sabe a que corresponde, a isto ou aquilo, uma fórmula conceitual”, explica a professora. 

“A função do belo Freud introduz pela psicanálise. É alguma coisa que repelimos e que atinge a ‘ignorância essencial’ um ‘non so che ’ – o não sabido. Algo diferente, involuntário, que faz atração imprescindível sobre esta resistência e o trabalho de atração sobre a repulsão é a obra”, afirma. 

É por isso, que segundo ela, para entender “o belo” é preciso manter presente a psicanálise – porque é por ela que se explica que o indíviduo em seu inconsciente é transformado e como acontece essa transformação para se aproximar do belo. 

“O que é transformado não é somente o indivíduo consciente, mas é aquele do oposto, do gozo, sobretudo do inconsciente, que a partir dos efeitos da pulsão ( impulso vinculado à linguagem, a letra ) pensa, sonha e diz, e se aproxima do belo”. Portanto – continua – a psicanálise tem uma função também terapêutica , mas “a você te interessa tanto como terapia quanto como um método de conhecimento. 

Para explicar a questão, cita como exemplo o pôr do sol que é igual quase todos dias e e quase não se faz caso dele. Mas quando e se alguém improvisadamente o vê e o aprecia e o coloca luz – “mette in luce”- este pôr do sol, sim, lhe desperta atenção e vem ao seu encontro como se tivesse marcado hora e força a pessoa acolher- lo como qualquer coisa que craveja na sua verdade em questão, do qual não sabe: e o elabora. E neste movimento, por certo vem o tremendo ( como o poeta alemão Rainer Maria Rilke diz, “porque o belo não é tremendo ao seu início) cada um é, e vem poeta. 

Em suas aulas sobre “Funzione del bello e la declinazione delle n-iente nella critica d`arte dopo Freud”, Maria Letizia aprofunda-se na inerência, recíproca e imprescindível entre o saber crítico-filosófico e o saber psicoanalítico em torno da questão da representação, de interpretações dos seus limites, centrados na tradição frediana e póstfreudiana e na própria atenção dada à figura e aos meios de colocar em cena . 

Maria letizia Proietti é autora, entre outros livros, do “ Storie di critica d`arte”, que se encontra para venda em língua italiana no site www.scriptaweb.it e também co-fundadora do Jornal Europeu de Psicanálise.  A Função do belo na crítica de arte, leia aqui.

 

Ativo desde o início dos anos 1960, Jean-Pierre Changeux (Domont, 1936) é um dos principais neurobiólogos contemporâneos e também um colecionador apaixonado de arte moderna e contemporânea.

Fascinado “pela beleza oculta e pela diversidade insuspeitada”, começou a colecionar insetos no ensino médio, cultivando simultaneamente seus interesses pela música, composição e pintura até pintá-los, insetos.

Durante o doutorado, acompanhou sua pesquisa com centenas de desenhos sobre a morfologia e a anatomia interna das matérias que analisou, espelhando uma conexão inata entre sua atividade intelectual e o amor pela beleza. A partir daí, o passo para coletar os mestres franceses foi curto.  A arte sempre foi um complemento necessário  a sua atividade científica.

O que é arte e o que não é?

Na Neurociência da Beleza podemos encontrar um ponto de vista objetivo sobre este panorama indefinido em que o conceito de beleza é prerrogativa do indivíduo, mas onde também existe algum princípio que regula o seu funcionamento.

Comments are closed.