O brilho da primavera européia estará sempre presente nas telas impressionistas de Claude Monet. E para quem deseja apreciar a arte de um artista que abriu a janela de seu atelier e deixou a luz e a cor entrar, a mostra Monet em Roma está especial. O pintor que imortalizou as Ninféias era fascinado pela natureza, sobretudo flores. “Amo a água, mas amo também as flores”, deixou registrado para a posteridade.
Hoje, os recursos multimídia aproximam o amante da arte às telas famosas recriando para o observador os detalhes e a sensação de sentir-se parte da obra.
Se não é possível conhecer a casa e o jardim de Monet, em Giverny, na Normandia, ou apreciar os gigantescos painéis das Ninféias, no Museu L’Orangerie, em Paris, ao menos o visitante poderá ter a sensação de estar visitando esses locais com a força da imagem e a emoção da música ambiente.
Esse é a proposta da mostra Monet, no Complesso del Vittoriano, Roma, que convida quem a visita, a percorrer um longo corredor simulando água no chão e o exuberante jardim do pintor em Giverny, nas paredes laterais. Ela permanece até 3 de junho.
No interior estão expostas 60 obras vindas do Museu Marmottan Monet de Paris, as mesmas obras que o artista conservava em seus últimos dias em Giverny e que foram doadas pelo seu filho Michel ao Museu.
Impressionismo
A visão do mundo impressionista compreendia o velho, o novo, natureza e indústria, beleza e banalidade e marcou o início da era moderna na arte. A invenção da fotografia certamente impulsionou as tendências deste movimento pictórico do século XIX e transformou o mundo.
palheta, óculos e cachimbo do pintor.
O impressionismo empurrou o pintor para fora de seu ateliê e lhe mostrou o mundo real que precisava ser pincelado. Ao contrário daquele proposto pelos delírios da aristocracia francesa e a competitiva e poderosa igreja católica européia (Itália, Espanha e Portugal).
Efeitos do sol num entardecer. 1875
“ Escancararam as janelas e deixaram entrar o sol e passar o ar”, escreveu Edmond Duranty em 1876, sobre as telas impressionistas.
Charles Baudelaire
Da mesma forma outro crítico e também poeta, Charles Baudelaire, deixou registrada a sua indignação sobre a fotografia e arte em cartas enviadas aos seus amigos.
“Como a fotografia nos dá todas as garantias desejáveis de exatidão (eles crêem nisso, os insensatos!), a arte, é a fotografia. A partir desse momento, a sociedade imunda pôs-se à rua, como um só Narciso, para contemplar sua imagem trivial sobre o metal”, disse ele.
Grande loucura industrial
Mais adiante escreve que:
“ A cada dia a arte diminui o respeito por sim mesma, se prosterna diante da realidade exterior, e o pintor torna-se mais e mais inclinado a pintar, não o que sonha, mas o que vê. Entretanto, é uma felicidade sonhar, e seria uma glória exprimir o que se sonha; mas, que digo eu!
Conhece ainda o pintor tal felicidade? O observador de boa fé afirmará que a invasão da fotografia e a grande loucura industrial são estranhas a este resultado deplorável? É permitido supor que um povo, cujos olhos se acostumam a considerar os resultados de uma ciência material, como os produtos do belo não acabe por ter diminuída, singularmente, ao fim de um certo tempo, sua faculdade de julgar e de sentir o que há de mais etéreo e imaterial?”, afirmou Baudelaire, durante o “Salão de 1859”. “O Público Moderno e a Fotografia./
Na antiguidade os pintores faziam o papel dos fotógrafos de agora e pela sua arte deixaram um testemunho da história da humanidade. O impressionismo é exatamente a transição entre a aceitação da nova tecnologia e a arte se adaptando às mudanças.
Pensem qual seria a reação de Baudelaire hoje com os celulares e a explosão dos selfies!