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Escravo, nem pensar!

Livro didático sobre escravidão contemporânea trata da nossa triste história

As ilustrações s Marcela Weigert no livro “Escravo, nem pensar!” compõem a parte lúdica de uma história triste sobre escravidão que se repete na sociedade brasileira.

livroA publicação fez parte de um programa desenvolvido pela ONG Repórter Brasil, desde 2004.   O trabalho da Repórter Brasil é incansável na luta contra o trabalho escravo. Foram 10 mil exemplares utilizados como material de apoio à formação de líderes comunitários e educadores, que atuam na prevenção do trabalho escravo e tráfico de pessoas.

O combate a essa aberração da sociedade em todos os tempos ainda não acabou. Há poucos dias foi publicada uma notícia sobre a descoberta de pessoas sendo escravizadas em uma fazenda no Rio Grande do Sul.

Lúdico e social

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O programa leva o mesmo nome do livro e  já beneficiou mais de dois milhões de pessoas em seis estados das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste do Brasil, onde são frequentes os  casos de aliciamento de trabalhadores para uso de mão de obra escrava.

“Ao criar as ilustrações percebi os dois lados de uma produção artística voltada ao tema social. De um lado, a condição de me sentir extremamente gratificada em colaborar com importante trabalho de conscientização dentro da sociedade, e de outro, o empenho de produzir imagens que mostrassem, com sensibilidade, a indignidade de uma condição de trabalho tão colonial que ainda persiste no Brasil”.

Repórter Brasil

A Repórter Brasil foi fundada em 2001 por jornalistas, cientistas sociais e educadores com o objetivo de fomentar a reflexão e a ação sobre a violação dos direitos dos povos e dos trabalhadores do campo.

Os números mostram que desde 1995, quando o governo brasileiro admitiu a existência do trabalho escravo contemporâneo, até 2011, mais de 43 mil pessoas foram resgatadas dessa situação. Casos de jornadas exaustivas, ameaças físicas e psicológicas, servidão por dívidas e outras condições degradantes têm sido flagradas nos meios urbanos e rurais em todas as regiões brasileiras.

“A forma de escravidão contemporânea não prende suas vítimas a correntes, mas continua negando-lhes o direito à dignidade e à liberdade”, refere o livro.

O livro “Escravo, nem pensar!” se utiliza de fatos já divulgados para apontar alternativas às situações de exploração. Um exemplo é reportagem publicada na Agência de Notícias da Repórter Brasil pelo jornalista Rodrigo Rocha, no dia 26 de abril de 2010, sobre a situação precária em que 28 trabalhadores rurais se encontravam na Fazenda Tarumã, em Santa Maria das Barreiras (PA).  A notícia chama atenção para a concentração de renda e a exploração de mão de obra.

Não só na zona rural

Outra matéria publicada pela jornalista Bianca Pyl aborda a questão da imigração. O fato de que não há trabalho escravo somente no meio rural.

Em abril de 2011, numa rua tranquila da Zona Norte de São Paulo, 16 pessoas vindas da Bolívia viviam e eram exploradas em condições de escravidão contemporânea na fabricação de roupas. O grupo costurava blusas da coleção Outono-Inverno da Argonaut, marca jovem da tradicional Pernambucanas.

O livro é de fácil manuseio e se divide em capítulos temáticos, Direitos do Trabalho, O que é Trabalho Escravo Contemporâneo?, Questão Agrária, Migração, Tráfico de Pessoas para o Mercado do Sexo, Questão Ambiental, Repressão ao Trabalho Escravo no Brasil, Rompendo o Ciclo da Escravidão, Como posso me Envolver na Luta Contra o Trabalho Escravo?.  Além do relato de experiências de prevenção e violações de direitos humanos, propõe metodologias para trabalhar com esses temas nas escolas e nas comunidades.

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Outro Livro

  Um segundo livro da biblioteca da Repórter Brasil, um relato dos 10 anos de atuação da Repórter Brasil,  é dedicado “a todos que foram submetidos à severa experiência do trabalho escravo contemporâneo: heróis”. O destaque é um reconhecimento da ONG(organização não governamental) e da equipe que atua no programa, aliás, tão extraordinária em seu trabalho quanto o próprio herói homenageado no livro.

O grupo juntou duas frentes importantes, o jornalismo da Repórter Brasil para provocar impactos e mais as ações na área de educação para construir resultados a médio e longo prazo.

Jornalismo e Educação

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“Essas duas áreas – jornalismo e educação – são duas metades complementares na ação e nas suas motivações”, identifica Leonardo Sakamoto, que fez parte da ONG. “Pode demorar um pouco, mas é o caminho e é fundamental”, complementa Luiz Machado, coordenador da OIT (Organização Internacional do Trabalho) para o Brasil.

O programa atuou, em 10 anos, em mais de 130 municípios brasileiros, com a participação de aproximadamente 250 mil pessoas por meio de ações educativas.

Conquistas

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Não cabe aqui enumerar as conquistas do Escravo nem pensar! , sem dúvida, tão importantes para um Brasil que ainda não perdeu o costume colonial de escravizar o outro, por estarem bem especificadas no livro, que pode ser baixado pela Internet, ou na página da ONG. Na Internet também será possível descobrir quem faz parte da lista suja de empresas autuadas por escravizarem gente humilde e desavisada.

A equipe fez um trabalho de formiguinha para clarear um pouco o panorama negro desta capítulo triste da história brasileira contemporânea.

Vale destacar, sim, os colaboradores por trás deste trabalho de transformação: a Repórter Brasil, com profissionais competentes e engajados num ideal de mudança social.

Vale destacar também pessoas como Oneide Maria Costa Lima, educadora de São Geraldo do Araguaia (Pará), que encontrou no programa um meio de trabalho e ao mesmo tempo um canal de divulgação para superar suas marcas de perseguição na luta pela terra. José Ferreira de Lima, trabalhador de uma fazenda no sul do Pará, que foi escravizado, tentou fugir da condição e pela rebeldia levou um tiro no rosto e perdeu um olho.

Olhar Crítico

Iniciativas como a do programa Escravo nem Pensar e de tantos outros programas sociais desenvolvidos por heróis anônimos fazem a diferença no processo de evolução social. O sentimento de solidariedade é item número um para qualquer ideologia ser levada adiante,  o segundo é a caridade nesta escala de valores.

Uma palavra  que deve ser considerada na sua acepção correta, de oferecer algo novo, não aquilo que se joga fora e não usa mais, algo que faria ou daria para um amigo, à família, sobretudo dar oportunidade àquele que recebe, de enxergar a si mesmo de uma outra maneira. Caritatem é palavra latina e significa “amor ao próximo”.

 

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