A primavera no mundo das artes em Veneza, na Galeria do Palazzo Cini, em San Vio, inicia com as obras do artista brasileiro Vick Muniz. A mostra ‘Afterglow: Pictures of Ruins’ abre no dia 21 de abril ( um pouco antes da 57a Bienal de Veneza/13 de maio- 26 de novembro) e encerra no dia 24 de julho.
A oportunidade é ímpar para brasileiros que costumam ir à bienal veneziana. Entre maio e julho será possível conhecer o extraordinário trabalho de Muniz. O artista e fotógrafo paulista, que vive há 25 anos em Nova Iorque, atraiu a atenção da comunidade artística internacional com fotografias de trabalhos realizados a partir de técnicas variadas e materiais quase sempre inusitados – como a Mona Lisa feita de pasta de amendoim, o Che Guevara desenhado em geleia ou o retrato de Elizabeth Taylor montado a partir de centenas de pequenos diamantes.
As suas séries de imagens surpreendem quando insinuam o consumo exagerado, lixo e apresentam os pecados da humanidade como a obra-protesto, o barco de papel lançado no mar de Veneza durante a bienal de 2015.
Os artesãos construíram uma embarcação de 14 metros em madeira e inteiramente revestido com as notícias sobre a o naufrágio do barco Líbio na costa da Itália, carregado de imigrantes ilegais.
A ideia original era de servir de lembrete sobre a operação Mare Nostrum e as tragédias que poderiam acontecer de novo na costa da Europa.
A originalidade de sua obra lhe garantiu o reconhecimento da crítica e o estabeleceu como um dos criadores mais bajulados da arte contemporânea, presente no acervo dos principais museus do mundo.
Vik Muniz, filho de um garçom e de uma telefonista, criado em São Paulo, onde iniciou estudos de artes, mudou seu destino no momento em que tentou ajudar uma pessoa numa briga e levou um tiro. O autor do disparo foi a mesma pessoa que estava defendendo na briga. Para compensar o transtorno, o homem ofereceu-lhe uma boa quantia em dinheiro e foi o que bastou para financiar sua viagem a Chicago, em 1983. Dois anos depois ele foi para Nova York, onde vive até hoje.
O sucesso, no entanto, chegou somente há 14 anos, quando um crítico do New York Times foi conferir a exposição principal de uma galeria e se deparou com a série ‘Sugar Children’ alojada discretamente em uma sala dos fundos. Encantado, ele escreveu uma resenha que abriu inúmeras portas ao brasileiro: além de receber um convite para participar da prestigiosa mostra New Photography, no MoMA, Vik viu suas obras serem adquiridas por museus como o Guggenheim e o Metropolitan Museum of Art.
A frase de Vik Muniz escrita no início da exposição mostra humildade de um mestre. “Acredito que nem todas as pessoas sejam artistas, mas todas que desejarem ser, possuem tudo que o mundo tem a oferecer para que, um dia, elas se tornem, se eu pude, qualquer um pode”.