A escravidão tem mil faces, sim. Não é apenas algo que se possa visualizar como imagem física de uma pessoa acorrentada, ou submetida a um trabalho árduo sem direitos, em cativeiro.
Existe formas mais sutis de escravidão, invisíveis, que tiram a liberdade das pessoas, sem que elas se sintam de fato acorrentadas. A mente é capaz de escravizar o homem pelos tormentos, medos e manias. Portanto, ela está oculta por outro rótulo. Muitas vezes, é provocada pela própria pessoa, ou por manipulação do meio social.
Logo, a escravidão tem mil faces.
Grande parte da sociedade é conduzida a consumir produtos que incorporam aos hábitos diários, como os vícios, bebidas, cigarros, drogas, medicamentos. No caso dos chamados vícios, as pessoas que induzem o outro ao vício são indiretamente o opressor, o feitor. Digam que não é verdade!
Estados psicológicos como os medos e fobias nos escravizam a tal ponto que nos tornamos dependentes de medicamentos para nos entregarmos inteiramente à indústria farmacêutica.
A palavra escravo é definida pelo dicionário Aurélio como “que ou aquele que está inteiramente sujeito a outrem, ou a alguma coisa – um que ou aquele que está sujeito a um senhor, como propriedade dele”.
Atentem para o detalhe: “sujeito a outrem ou a alguma coisa“. Aí que mora o grande perigo e prova que podemos, indiretamente, nós próprios colocarmos correntes que nos tiram a liberdade em função de um sistema político, de usos e costumes, de fatores religioso, de conceitos morais ou culturais.
A liberdade, neste caso, somente pode ser conquistada com um espírito crítico aguçado e força de vontade, condições capazes de nos dar a segurança para afastar de nossas vidas os grilhões da dependência e de todas as situações que dissimulam uma finalidade de escravização.
A busca pela liberdade exige um minucioso trabalho de observação, isso porque a nossa liberdade termina onde começa a liberdade do outro. A forma como interpretamos o processo de liberdade é fundamental para “estabelecer” o que deve ser o verdadeiro código de ética e de direitos humanos.
Curiosamente, o livro 1822, de Laurentino Gomes, compara a postura em relação à escravidão do patriarca brasileiro José Bonifácio de Andrada e Silva com a do americano Thomas Jefferson. O conceito de liberdade de Thomas Jefferson quando escreveu a declaração de independência americana – pela qual “todos os homens nascem iguais”e com direitos que incluíam a liberdade, era totalmente oposta a de Bonifácio. “Tomas Jefferson bateu-se até o fim da vida contra qualquer proposta de abolição da escravatura. Jefferson era dono de 150 escravos e tinha entre suas principais atividades o tráfico negreiro. No seu entender, portanto, todos os homens nasciam livres e com direitos, desde que fossem brancos. Bonifácio, ao contrário, nunca teve escravos e era um abolicionista convicto”.
Portanto, a escravidão é um sistema tão antigo, arcaico, que deveria estar obsoleto e ultrapassado. Infelizmente, no entanto, de alguma forma, dissimulada ou não, a escravidão está presente a todo momento na sociedade moderna…..