O cineasta italiano Pier Paolo Pasolini (1922-1975) pode ser visto como um dos mais importantes intelectuais do século 20.
Vale a pena rever fatos que marcaram sua contraditória carreira: de um lado cineasta, artista, poeta e escritor, reconhecido pelo seu talento e, de outro, um marxista engajado, um crítico mordaz da burguesia que escancarava, sem pudores, o sagrado e o profano da sociedade italiana.
O cineasta foi assassinado numa praia perto de Roma que permanece até hoje um mistério. A tese é de um crime sexual atribuído ao homossexualismo de Pasolini,embora inúmeros documentários e livros tentarem demonstrar que o crime, nunca esclarecido, foi o resultado de um complô mafioso ou político para calar o incômodo crítico da política italiana, sobretudo na coluna “Escritos corsários”, publicada no Corriere della Sera, nos dois últimos anos de vida. Seu amigo e escritor Alberto Moravia, sugeriu um crime político:
“Uma sociedade que mata seus poetas é uma sociedade doente”.
A crítica ácida e refinada de Pasolini incomodava sempre e no artigo “O vazio do poder na Itália ou O artigo dos vaga-lumes ( Il vuoto del Potere in Italia ovvero L`articolo delle lucciole), publicado em 1975, o escritor já dizia que na Itália existia um dramático vazio de poder.
“O ponto é que não é um vazio de poder político no sentido tradicional, mas, um vazio de poder em si”. Luiz Nazario , em seu blog, faz uma boa análise sobre o papel político de Pasolini.
Com este perfil intelectual Pasolini produziu obras-primas do cinema italiano que merecem ser assistidas a qualquer tempo.
Filmes de Pasolini
“O Evangelho Segundo Mateus”, 1964, trata da vida de Jesus de maneira antidogmática.Um filme que sofreu diversas censuras e era visto como uma blasfêmia pela Igreja e alguns setores da imprensa.
Em o documentário “A raiva”( La rabbia), em 1963, Pasolini inclui uma poesia dedicada a Marilyn Monroe, meses depois da artista ter sido encontrada morta por ingerir doses excessivas de barbitúricos. Neste filme, Pasolini coloca em debate as contradições de uma sociedade de consumo e o mundo dos negócios.
“Discursos do Amor”( Comizi d`Amore), o cineasta faz uma fotografia da Itália e da sua relação com o erotismo e a religião. De gravador em mãos ele perguntou diretamente aos italianos, jovens e idosos, o que achavam do sexo e do amor e encontrou respostas que até hoje ainda permanecem no inconsciente coletivo da sociedade italiana, que tem suas raízes no rigor de uma religião, o catolicismo, que na Idade Média castrou a libido de seu povo para eliminar da memória a devassidão dos últimos dias vividos como império romano.
O filme Teorema, de 1968, entre os mais aclamados, retrata e critica as instituições italianas de forma sutil, por intermédio da história de um individuo e a sua influência em uma família burguesa.
Quando foi assassinado estava escrevendo e seu último trabalho, o livro Petróleo, mesmo inacabado foi publicado em 1992.
Olhar Crítico
Pier Paolo Pasolini foi uma artista que esteve à frente de seu tempo e representou bem o clamor dos movimentos pós-guerra, em busca de uma sociedade mais justa, de respeito ao planeta e livre de preconceitos.
Denunciou as artimanhas do poder e a manipulação de massa. No dia dos mortos de 1975 seu corpo foi encontrado massacrado na praia de Ostia e um delinquente Giuseppe Pelosi assumiu a responsabilidade do crime.
Pasolini foi calado pelos poderes que ainda dominam o mundo. Um crime que jamais será esclarecido porque é assim que funciona o espetáculo da vida: com o silêncio dos inocentes.