Biblioteca Nacional de Viena

O poder transformador da literatura

Às vezes, sentada no meu cantinho da casa, fico pensando sobre as pessoas que afirmam não gostar de ler. Desde pequena tive dificuldade de entender como pode existir pessoas que não gostam, que não apreciam, que não querem dedicar parte do seu tempo a ler.

Não aquelas que não gostam de ler algo em concreto, mas o simples fato de não gostar de ler.

Fui estimulada à leitura desde pequena, escutando sempre do meu pai que a leitura tinha que ser algo prazeiroso, não uma obrigação. Via ele sempre com uma revista na mão, sempre lendo pelos cantos. Deve ser que puxou a minha vó, que andava na minha casa lendo tudo o que via, desde bula de remédios até dicionários.

Transformação

Só agora, com quase 30 anos começo a entender toda a revolução que se produziu dentro de mim, e de como a literatura foi uma das principais armas de transformação do meu caráter.  Muitas pessoas podem pensar que ler é um ato de ócio, de pura diversão. Outras de obrigação, de estudo. Mas antes do prazer e do ócio, a literatura tem outras funções, muito mais sociais e éticas que imaginamos.

Não nego que ler é um dos meus passatempos mais divertidos, junto com a escritura; a leitura não me trouxe só um novo vocabulário, uma forma de me expressar melhor, senão também novas perspectivas e pontos de vista e… acima de tudo, empatia com o próximo.

The school of life

Porque não faz muito tempo estive em Londres, na conhecida “Escola da Vida”. A Escola da Vida é um novo conceito de escola que dão cursos que aportam perspectivas e respondem a perguntas que a escola convencional não aporta e não responde. 

Quem pensa que é uma nova forma de visitar o psicólogo se engana. Os cursos são variados, mas todos enfocados a questões existenciais que nem os pais, nem o colégio, nem a sociedade, muitas vezes, dão conta de responder. Ela nasceu em 2006 em Londres ( e hoje já tem sede em São Paulo) com o objetivo de ajudar a questões que todos sabem que existem mas muitas vezes nos fazemos de surdos para a questão.

Quando estive em Londres, fiz vários cursos na The School of Life, mas o principal, o que eu estou escrevendo nesse artigo em questão é “como a literatura pode te ajudar a melhorar como pessoa”, ou, melhorando a pergunta, “pra que serve a literatura”?!

E, ainda que pareça um tópico simples, não é fácil falar sobre a questão. Ainda mais num país em que a maioria da população não lê, não tem acesso à literatura e nem são estimulados a ela. Falar de literatura no Brasil é mais complicado do que parece.

Ainda que eu tenha sido desde pequena estimulada à leitura, minha família está longe de ser aquela família idílica em que o pai ou a mãe mais se parece com o dono da livraria e conhece todos os títulos clássicos da literatura. A leitura e o prazer pela leitura vieram pra mim de forma gradual. Meus pais liam, mas não eram pessoas saiam com um Tolstoi o um Dostoiévski debaixo do braço; nem liam pra mim quando era pequena ou me aconselhavam leituras. Na verdade, eu aprendi na base da repetição; via-os lerem e queria ler o que eles leiam. Porém, sempre tive muita liberdade pra escolher aquilo que eu queria ler; e, estimulado pelos meus professores de literatura, acabei me interessando pela literatura.

Minha primeira fase foi a de experimentar, aquela que não tinha certeza do que gostava, mas seguia lendo; porque, de uma forma ou de outra, os clássicos me atraiam. Mas foi só na faculdade, já nos últimos anos dela, que entendi minha condição de escriba e de como os livros me chamam, me atraem e me transformam como pessoa.

Foi lendo Nelida Piñón (Coração Andarilho), que pela primeira vez senti vontade de escrever como ela; foi lendo a James Salter (Anos Luz) que comecei a empatizar com várias questões que até então eram alheias a minha pessoa. E hoje, estou dedicando uma segunda leitura a Érico Verissimo (Olhais os lírios do campo), porque, ainda que tenha lido com 16 anos e tenha me impactado, acho que certamente terei outra perspectiva da historia e descobrirei coisas que naquela época não tinha interpretado.

Foi através da literatura que pude entender o mundo em que vivemos; foi através da palavra escrita que entendi comportamentos, épocas, preconceitos. E é através dela que o mundo ainda pode se tornar um lugar melhor para se viver.

Criar consciência, memória histórica, empatia é muito mais fácil através da leitura, porque quem melhor que os livros pra ensinar a ver o mundo com os olhos de outra pessoa. Estimular a leitura no Brasil não é uma forma de ter um povo mais educado, que o faça aprovar nesses inúmeros testes que qualificam o nível de educação do país, sem na verdade dizer nada; senão o torna melhor, mas sábio e mais empático em todos os sentidos.

“A literatura transformou a minha vida, mas principalmente me deu a oportunidade de ver o mundo de cabeça aberta e olhos adiante. Com cada vez menos preconceitos ou juízos de valor. Entender que nem tudo é preto ou branco e de quantos lados a vida é feita é fundamental pra começar a entender o mundo que nos rodeia. E a literatura pode ser uma arma poderosa nesse sentido.”
AE

Partícula do Diabo

Está divertido ver na mídia as explicações sobre a descoberta da partícula subatômica que começa com um nome complicado, bóson de Higgs. Para simplificar, atribui-se um nome popular, chamando-a “partícula de Deus”. Mas pelo que se houve daqueles que querem entende-la está mais para uma partícula do diabo.

Agora as revistas semanais e os grandes jornais diários ilustram suas matérias sobre o assunto até com fotografias da tal partícula, tida como uma coisa fabulosa. Colocam informações sobre o peso do tal bóson, de 126 bilhões de eletro volts (e nem explicam que peso é esse que não é medido em quilogramas), falam de “nível 5 sigma”, do campo Higgs ( campo… de futebol?), do tamanho desse monstro, (dez elevado a menos quinze metros) sem falar de assuntos paralelos como o LHC – o “maior acelerador de partículas do mundo”, colisão de prótons e do famoso big bang. Um verdadeiro samba do criolo doido.

Na verdade essas coisas são muito mais teóricas que visíveis. Se um átomo é tão pequenino imagine seus componentes (diante dessas partículas, considerados gigantes) prótons e neutros no núcleo e elétrons na periferia. E ainda, são carregados com cargas negativas e positivas. Os elétrons são tão misteriosos que um GPS não apontaria sua localização porque –embora existam – tem presença incerta.

E que dizer de prótons que vivem juntos apesar de todos possuírem cargas iguais? Atribuem-se misteriosas “forças nucleares” para essa convivência. E aqueles prótons que tal como o super homem faz numa cabine telefônica, se transformam em nêutrons trocando partículas subatômicas e com isto fazendo a transubstanciação tão procurada na antiguidade?

Não seria mais confortável informar para a galera que o que se descobriu (ou pensa que se descobriu) foi uma fabulosa partícula subatômica responsável pela transformação de energia em matéria?

Fui professor de Física durante minha vida (hoje sou aposentado) e pertenci a uma escola que procurava simplificar as informações em vez de complicá-las em nome da ciência.  Uma vez fiz uma experimentação interessante sobre este assunto, confinando alguns grãos de feijão dentro de uma ampola de vidro hermeticamente fechada e com luz, água e nutrientes para que os feijões brotassem num sistema fechado.

Acompanhamos o crescimento das plantinhas pesando-as em uma balança de precisão da PUC, Curitiba, e para nossa surpresa, a massa do sistema diminuía a medida que a plantinha crescia. Isto se explica porque para formar a vida, ela “roubava” matéria e energia do meio. Como o fundamento “vida” não tem peso, o sistema pesava cada vez menos. E na morte, ele devolve toda essa massa adquirida (um ser humano perde 21 gramas quando pesado antes e depois de morrer).

Portanto, não existem somente as transformações lineares entre matéria e energia sob a responsabilidade do tal bóson. Na verdade são três componentes universais – matéria, energia e vida – cada um ocupando o vértice de um triângulo e trocando partes de si com os dois outros.

Simples assim.

 

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Claudia Lara tece e molda memórias do feminino

 Claudia Lara é a primeira da série  ‘Artistas’  que o PanHoramarte abre como espaço específico para falar de nomes atuais na arte e sobre a evolução poética de suas obras. Acompanho o trabalho de Claudia há vários anos  e o mais extraordinário de sua trajetória é a elaboração do conteúdo criativo. A artista é uma pesquisadora incansável e coloca em grau superlativo o feminino.

 

Neste momento, muito mais do que em todos outros de suas fases pictóricas, inspira-se na herança ancestral das mulheres de sua família. A beleza de sua obra está exatamente nisso, quando explora habilidades femininas pela costura e o bordado como  suporte às técnicas da pintura e do desenho. Além de usar a referência da fotografia como base na maioria de suas fases, a exceção da última que tornou-se “mais orgânica”, como diz a artista. Para o site oficial da artista paranaense clique aqui

Tecido

O tecido, a linha e a lã estão presentes nesta transferência poética que se elabora pelo tecer  e o delinear  conceitos da vida. No início dos anos 2000, Claudia começou a manusear o tecido usando a técnica da colagem e textura acrílica, em figuras humanas. Com uma poética que visita outros horizontes que transcendem ao olhar da realidade.

“Na verdade, não foi uma fase apenas; retalhos, a costura, a linha, o tecido são recursos utilizados para a elaboração das minhas obras e sempre fizeram parte de mim. É a mulher presente”, diz ela. Na sequência deixou a colagem de lado e passou para costura. “Retalhos que pertencem” trabalha com desenhos e fotos de família.

Sua trajetória artística é vibrante pelas cores e temas que utiliza. As séries ao longo de sua carreira demonstram toda a inquietude que marcam seu processo criativo. Slow Motiam, Bicicletas, Diversão, Cotidiano Desorientado, entre outros, usam a fotografia na base para desenvolver o desenho, a pintura e outros suportes.

O vídeo “Retalhos que Pertencem”,  dirigido por Thereza Oliveira, dá uma ideia de como a artista usa a imagem fotográfica, que é manipulada por meio do computador e durante este processo introduz o efeito pictórico.

 

Ninhos

A vibrante série ‘Ninhos’ dá início ao que ela chama de mais ‘orgânica’ e reafirma a força do feminino. A série traz para a superfície aquele lugar protetor, que acolhe, que é preciso preservar e que se camufla nos emaranhados de nossos pensamentos. “Um ambiente para estar”, como diz ela, sem deixar de destacar que esse ambiente é também o da cor e da pintura.

Mesmo sendo uma série mais orgânica, ela não deixa de ter a referência da foto. “Chegou um momento  em que joguei imagens com computador e projetor, imagens que fotografava e colocava em cima da obra  e dava uma nova camada, um novo ruído. E não adianta não querer essa referência, o uso da fotografia e das sobreposições fazem parte do meu processo criativo”, confirma.

Hoje Claudia Lara prepara-se para abertura da AVE MÃE, em setembro. Um mostra que vale uma matéria específica sobre ela porque reafirma o uso da costura, da linha, do tecido, e os transfere para arte. A artista eleva as habilidades restritas ao universo feminino e lhes conceitua na forma de refletir sobre o papel da mulher no mundo moderno.

 

 

 

 

 

 

 

 

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Artista mexicano cria antes de Trump o muro da esperança

O artista mexicano Enrique Chiu conseguiu 3.800 voluntários para ajudá-lo a construir o Mural da Irmandade entre a fronteira do México com os Estados Unidos. A ideia é espalhar mensagens de paz e esperança às pessoas que cruzarem a fronteira. Ao contrário de Donald Trump, que prometeu construir um muro na fronteira mexicana para conter imigração, o grande e belo muro de Chiu irá expressar partilha e fraternidade entre povos e culturas.

Chiu contou sua experiência como imigrante. Nascido em Guadalajara, no México, ele cruzou a fronteira dos EUA com sua mãe quando tinha oito anos. Os dois viveram em Los Angeles na ilegalidade por um ano antes de retornarem ao México. Mais tarde, Chiu retornaria aos Estados Unidos para estudar na California State University com um visto de estudante, mas permaneceu no país por 12 anos.

«Na Califórnia vivi o sonho americano. Eu fui para a escola, tive meu emprego, minha casa, minha galeria, meu estúdio, três carros. Eu tive tudo “, contou ao Hiperalergic. Em 2009, ele decidiu voltar ao México para se juntar à próspera cena artística de Tijuana: “Aqui também você pode experimentar o sonho americano e fazer o que quiser”, continuou Chiu.

Em 2017, a administração Trump testou oito protótipos de parede em Otay Mesa, em San Diego, em frente a Tijuana, do outro lado da fronteira. Os protótipos não foram avaliados apenas pela sua eficácia, mas também pela sua estética, com maior ênfase na aparência da frente dos EUA. Todos os oito protótipos, quatro de concreto total e quatro materiais misturados, falharam no teste de penetração básica.

Em 2018, oito modelos melhorados testados em San Diego finalmente passaram nos testes dos militares dos EUA. No entanto, um impasse entre Trump e os democratas pelo financiamento do muro até agora impediu o presidente de cumprir seus planos.