Quem tem fé, não tem medo!
Quando o taxista que fazia o trajeto entre o aeroporto até a cidade lendária de Istambul, na Turquia, olhou para trás e percebeu o meu pânico, estendeu a mão e me ofereceu um Masbahas.
Imediatamente, o medo passou e diretamente fixei meu olhar aos olhos daquele homem simples, que não falava patavina de inglês (cá entre nós eu também não), e nada de qualquer outro idioma que não fosse o turco, entendi o seu recado silencioso. A mensagem estava dada somente com um gesto e um olhar. Quem tem fé, não tem medo!
Masbahas
Este Masbahas, que é um objeto usado pela religião islâmica, guardo até hoje como um talismã de bom augúrio e proteção.
Ele é composto de um cordão de contas azuis, cujas pontas se encontram formando um colar com um pingente ao final, muito parecido com o rosário católico. Masbahas ou qualquer que seja o nome para cada povo – grego ou árabe, é usado para as meditações, orações e pedido de auxílio quando a pessoa se sente nervosa.
Presente igual eu recebi também quando era muito jovem. O primeiro Masbahas veio de um namorado que fez uma viagem à Grécia. Quando me deu de presente contou que viu diversos homens andando com o cordão na mãos, dedilhando as contas.
“É para acalmar os nervos”, informou.
Por que fiz esta introdução?
Para mostrar que o episódio do motorista em Istambul e a informação do namoradinho da juventude foram as fontes de inspiração para chegar até o rosário católico e como adquiri o hábito de rezar o terço.
Rezar um terço inteiro
Antes também preciso contar que vivi alguns anos convivendo com depressão e medo. O pânico e a depressão são doenças que se instalam na mente da gente sem pedir licença. Infelizmente elas fizeram parte de minha vida por um período de tempo ao ponto de ser tratada e medicada, primeiro com medicamentos alopáticos e por fim com a boa Homeopatia unicista(de Hahnemann), que me curou, com o reforço de fé e determinação.
Já na Itália em 2009 quando estive por um período para estudar, o medo de estar só e sem ninguém ia e vinha, à noite, quando estava comigo mesma no quarto do apartamento que eu e minha prima alugamos em Roma. Sozinha…
É claro que não estava. Mas como convencer a minha mente que teimava em me apavorar e numa angústia sem fim não me deixava dormir . Eu estava apenas fora do meu ninho habitual e longe das minhas filhas. É a mais horrível das sensações. Coração bate aceleradamente e, como um filme, a tua mente projeta todas as possibilidades de tragédias….É algo sufocante que te deixa sem condições de raciocínio.
Este foi dos muitos estados de pânico que tive no decorrer da doença.Contudo, não me entrego facilmente. Num destes dias horrorosos lembrei do meu talismã turco que estava comigo em Roma e lembrei da informação do namoradinho. “Eles usam para acalmar os nervos”.
Comecei a alisar aqueles continhas suavemente tentando desviar o meu pensamento para algo mais elevado, como uma meditação. Tive momentos que comecei a rezar Ave-marias como se fossem um mantra e vejam só, deu resultado.
Dedilhar as contas
O fato de sentir nos dedos as contas, como num ritual, fazendo orações me dava uma espécie de sonolência para em seguida me sentir serena. Acalmava.
Contudo, usar o Masbaha até chegar ao rosário católico tem mais história. Quando visitei a Basílica de São Pedro, no Vaticano, encontrei milhares de modelos de terço para serem comprados como lembranças turísticas. Consumista ao extremo de quinquilharias turísticas, comprei vários, inclusive um me dei de presente. Aquele que é de praxe todo mundo levar, o terço com as contas imitando pétalas de rosas e perfumado.
Dias depois recebo um telefonema da minha filha mais nova me informando que ela pretendia viver no Rio de Janeiro porque precisava buscar novos horizontes de vida e com uma amiga que não seria a companhia ideal. Aí, neste momento, o sentimento foi de uma mãe muito preocupada e que vivendo longe da jovem não podia fazer nada além de rezar. Sabia que o objetivo dela era encontrar um companheiro e não se jogar numa aventura sem rumo.
Reza com fé
Peguei o terço de rosas e rezei por inteiro, do meu jeito, com ave-marias e pais-nossos, sem as formalidades de primeira ou segunda anunciação, rezando como se tivesse repetindo mantras e com a fé religiosa que busquei durante toda minha vida. Diga-se de passagem, sou uma católica multidisciplinar, com o pé na Umbanda, no Budismo, no Taoísmo e simpatizo com as ideias de Lutero, pois era a religião de meu pai.
Assim, rezei cinco dezenas em Ave-marias com todo o fervor, os pais-nossos entre as dezenas, glória ao pai, desejando o melhor caminho para ela.
Coincidência? Não deu uma semana ela me ligou e contou que tinha encontrado um “cara legal”. “Mãe estou namorando”, disse. “É… que bom!”, respondi e timidamente perguntei: “não vai mais morar no Rio de Janeiro? “Não, mãe, aquilo foi só uma ideia”.
Hoje ela está casada e feliz com o namorado que evitou a sua ida ao Rio com alguém que não lhe faria bem.
Muitas rezas no terço me fizeram bem e fazem bem a quem eu quero bem.
No caso específico do meu amor que vive na Itália, foi também uma situação inusitada, quando se preparava para entregar o Trabalho de Conclusão de Curso e temia o professor que era muito rígido, senti que ele precisava de uma ajuda num nível mais elevado e rezei por ele. O temido professor de uma hora para outra abriu espaço para meu amor e avaliou com cuidado seu trabalho que resultou no diploma universitário. Claro que meu italiano é esforçado e inteligente.
– A história foi assim: no meio da conturbação perguntei o nome do professor avisando que era para rezar pelos dois. “Stefano”, me respondeu. “Mas, por favor, reze pelo Deus dos católicos”, emendou o italiano fervoroso e preocupado com a diversidade religiosa do brasileiro. rsss…
Naquela noite, antes de voltar para o Brasil, rezei com muita fé pensando num sentimento de paz e parceria entre os dois, aluno e professor.
Em novembro recebi um e-mail do meu amor me agradecendo pelas orações. “Acho que foi um milagre porque ele não deu chances para mais ninguém, somente eu passei”, repete isso diversas vezes como se quisesse se convencer da história.
Então, acompanhem o meu raciocínio. Um hábito que começou de mansinho, para resolver um problema e por necessidade foi ajustado em outra situação. Um hábito que acima de tudo fortaleceu a minha fé.
Medo jamais! Corro em busca do meu terço ou do meu Masbahas….
Feliz Natal! Um 2015 com muitos projetos de paz e amor!
* Rosário – é uma palavra derivada do latim, rosarium, rosaio, e começou a ser usada no século XIII em sinal de devoção porque as orações formam como uma coroa de rosas para Nossa Senhora. ( Fonte: dicionário O Devoto – Oli)