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A solidão de Alan Turing

Por Lucia Helena Fernandes Stall – “O Jogo da Imitação” do diretor norueguês Morten Tyldum, para mim, um jovem e desconhecido cineasta. Dirigiu também “HeadHunter”.

“O Jogo da imitação” narra a vida do britânico, Alan Turing, matemático, lógico, criptoanalista e cientista da computação, que conseguiu com sua genialidade decifrar os códigos criptografados dos alemães nazistas na 2ª. Guerra Mundial.

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Foto Internet do filme O jogo da Imitação

 

Ao decifrar o enigma, os alemães perderam a guerra, e, milhares de vidas foram poupadas.O cerne do filme é em torno do grupo de jovens matemáticos liderados por Alan, no desvendamento do Enigma (utilizado pelos alemães para suas mensagens cifradas).

Até aí tudo bem, uma narrativa histórica empolgante, mas, o que me envolveu no filme não é a linearidade da história da 2ª. guerra, mas, a história do jovem e belo matemático, nos seus 27 anos. Me afundei nas peculiaridades da personalidade do cinebiografado, extremamente inteligente, e totalmente antisocial, com características da Síndrome de Asperge (um tipo mais leve de autismo).

As dificuldades de relacionamento com o grupo, que se comprovam nas rápidas cenas dele relembrando a sua vida escolar. O bloqueio emocional, e, a racionalidade exacerbada, incomodam o expectador, deixam uma inquietação profunda na alma.

O homossexualismo que surge na parte final do filme, numa Inglaterra moralista, que punia com prisão ou castramento químico, opção de Turing no processo criminal que sofreu em 1952, que lhe levou a um suicídio prematuro (42 anos), é torturante, mas não representa nada diante da racionalidade que lhe impedia se emocionar, amar, perceber situações humorísticas, saber ler as faces de seus interlocutores, tem um peso enorme que a questão sexual deixa de ser relevante no contexto.
É um filme inquietante, que me levou algumas horas de reflexão durante a semana. Mas, aos apreciadores de bons filmes, vale assistir.

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“All the World`s Futures” é o tema da Bienal de Arte em Veneza.

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Por Mari Weigert – Veneza começa a primavera respirando arte por todos os cantos de sua exótica construção urbana. Este é o ano que acontece a Bienal, um dos mais tradicionais eventos, que reúne artistas e obras de destaque no campo das artes plásticas, cinema, arquitetura, dança e teatro, até 22 de novembro.

O ponto alto da Bienal  é a Exposição Internacional das Artes que este ano foi aberta para o público na primeira semana de maio. Uma iniciativa que atrai visitantes do mundo inteiro que se enveredam num percurso único na máxima expressão da criatividade de artistas que representam as diversas culturas existentes ao redor do planeta.

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Uma das obras premiadas da Bienal de Veneza em 2013. Foto Mari Weigert

Visitar Veneza em época de Bienal, para o amante das artes, é ultrapassar os limites da realidade e transitar em uma outra dimensão da matéria. Aquela que sublima na forma, na cor e na linguagem a poética da humanidade.

Publicação original no site oficial da Bienal –

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foto site da Bienal.http://www.labiennale.org/it/arte/esposizione/56/

“Aberta na primeira semana de maio, a tradicional Exposição Internacional de Arte de Veneza, este ano a 56a. com o tema “All the World`s Futures”, sob a curadoria de Okwui Enwezor e organizada pela Bienal de Veneza presidida por Paolo Baratta.

A mostra mantém 89 participações nacionais nos pavilhões ‘ai Giardini, all`Arsenale’ e no centro histórico de Veneza. São cinco países presentes pela primeira vez: Grenada, Ilhas Maurício, Mongolia,  Moçambique e República de Seychelles. Outros países também participam este ano depois de uma longa ausência: Equador (1966), Filipinas (1964), Guatemala (1954).

O Vaticano participa com uma mostra na Sala das Armas, um espaço que a Bienal restaurou para ser destinado aos pavilhões permanentes.

O Pavilhão da Itália no Arsenal, organizado pelo Ministério dos Bens e Atividade Cultural com a direção geral de arte e arquitetura contemporânea e periferia urbana, tem a curadoria este ano de Vincenzo Trione.

São 44 os eventos oficiais paralelos autorizados pela curadoria e promovidos por organizações internacionais, que estabelecem suas mostras e iniciativas em vários lugares da cidade.

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Mostra Internacional

A  mostra “All The World`s Futures” forma um único percurso expositivo que se articula com o Pavilhão Central ( Giardini) e Arsenalle, incluindo 136 artistas dos quais 89 estão presentes pela primeira vez, provenientes de 53 países e 159 são novas produções realizadas por esta edição.

“A Bienal tem 120 anos de idade, e ano após ano continua a construir até mesmo a sua própria história, que é feita de muitas lembranças, mas, em particular, de uma longa sucessão de diferentes pontos de observação do fenômeno da criação artística na contemporaneidade.”

Assim Paolo Baratta abriu a edição deste ano, recordando que “Bice Curiger nos trouxe o tema da percepção e Massimiliano Gioni estava interessado no fenômeno da criação artística do interior, as forças interiores que levam o artista a criar”.

Hoje, o mundo nos é apresentado por meio de fraturas e lacerações graves, por assimetrias e incertezas sobre as perspectivas. Apesar dos enormes avanços no conhecimento e tecnologia, vivemos uma espécie de ‘idade da ansiedade’.E a Bienal retorna a observar  a relação entre a arte e o desenvolvimento da realidade humana, nas forças sociais, políticas, e nas buscas dos fenômenos externos. Se quer, então, indagar de modo as tensões do mundo externo tocam a sensibilidade, as energias vitais e expressivas dos artistas, seus desejos e os movimentos da alma. A Bienal chamou Okwui Enwenzor, explica Baratta, também pela sua particular sensibilidade a estes aspectos.

“Curiger, Gioni, Enwezor: quase uma trilogia – sintetiza o presidente – três capítulos de uma pesquisa da Bienal de Veneza e seus referimentos úteis para formular juízos estéticos sobre a arte contemporânea, questões ‘critica’ depois da fim da vanguarda e da arte ‘não arte’.”

“Okwui não pretende ser juiz ou exprimir uma profecia, mas quer convocar a arte e os artistas de todas as partes do mundo e de diversas disciplinas: um Parlamento das Formas. Uma mostra global onde nós podemos interrogar, ou ao menos escutar os artistas provenientes de 53 países, e muitos de várias áreas geográficas que nós denominamos de periféricos. Isto nos ajudará também a nos atualizar-se sobre a geografia e os percursos dos artistas de hoje, matéria esta que será objeto de um projeto espeical: aquele relativo ao Currículo dos artistas que operam no mundo. Um Parlamento , portanto, para uma Bienal de várias e intensa vitalidades.”

“Aquilo que se expõe na Bienal tem como fundamento 120 anos de história das artes, cujos fragmentos são em cada angulo e de várias frentes, considerando a instituição obra na arte, na dança, no teatro, na música e no cinema (…). É um lugar de ‘imagens dialéticas, usando a expressão de Walter Benjamin”.

“E ainda estou satisfeito – conclui Baratta- de não ter escutado as tristes considerações de quem, em 1998 dizia que a mostra com pavilhões estrangeiros era outmoded(fora de moda) e que já estava eliminada, talvez colocando em prática um cubo branco, um espaço asséptico, no qual seria  exercitar a nossa abstrata presunção ou para dar hospitalidade à ditadura do mercado. Na verdade, a nossa articulada e complexa realidade nos ajuda a evitar este perigo. A grande montanha de fragmentos de nossa história cresce a cada ano, e à frente esta ainda uma montanha maior daquilo que não foi mostrado nas Bienais do passado”. 

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Lisboa: um cantinho brasileiro em plena Europa

 Não faltam motivos para os brasileiros se apaixonarem por Portugal.

Aqueles que vivem longe então, encontram sempre ali um lugar de refúgio, um pedacinho do Brasil em terras europeias. E é que Portugal tem mais que ver com o Brasil do que pensamos.tram

Exílio

Talvez menos se vemos pela perspectiva do brasileiro que vive no seu país. Mas para aquele que vive longe, aquele que está no exílio, não há lugar mais prazeroso pra relembrar o país e matar a saudade; palavra que, por certo, só os portugueses e lusófonos entenderiam.calzada

Comecei entender os laços que nos unem quando comecei a viajar por Portugal e percebi que não só os portugueses influenciaram nossas costumes, senão também os brasileiros influenciaram as deles. Não é só o brasileiro que come feijão, que tem calçadas de basalto e é apaixonado pelo café.

Lisboa emana brasilidade, seja pela sua arquitetura, pela sua culinária ou mesmo a forma de viver. Se pode encontrar desde o típico arroz e feijão até o famoso pão de queijo. Bacalhau não pode faltar, nem portugueses e brasileiros juntos tocando violão e cantando sucessos do Brasil.

Na televisão portuguesa reina as novelas brasileiras -que os portugueses adoram – e nas livrarias, ao lado de Saramago podemos encontrar Nélida Piñon e ao lado de Eça de Queiroz, Machado de Assis. mirador

As delícias de Lisboa

Lisboa é uma cidade de colinas, em que requer andar muito ou pegar muitos bondes (que nunca são pontuais). O bonde número 28 é o que dá a volta nos pontos turísticos principais da cidade, desde o Castelo de São Jorge até a Praça da Liberdade. O Castelo é uma visita indispensável, só pelo fato das vistas que oferece à cidade.

Pra quem gosta dos vinhos portugueses, é de parada obrigatória o Wine Bar do Castelo, na rua Bartolomeu de Gusmão, bem na saída do Castelo. O Wine Bar do Castelo é um bar que oferece mais de 150 marcas de vinhos, todos Portugueses. O conceito do bar é buscar que tipo de vinho a pessoa prefere e, de acordo com o que se descreve, o somellier da para provar 3 tipos de vinhos, sempre adaptando ao gosto e ao preço do consumidor.

Deles você escolhe qual você mais gostou e pede uma taça pra degustar. Se você quiser também pode acompanhar com uma tábua de queijos e charcutaria local. E se você quiser um atendimento bem brasileiro fala com o Marcio que é um experto em atender e satisfazer os desejos vínicos dos clientes.winebar

Casas de Fado

Uma das músicas mais populares da cidade é o Fado, que se pode escutar todos os dias ao vivo na Alfama, também bem perto do Castelo. É uma boa oportunidade também pra andar e descobrir um pouco mais do bairro e os cantinhos desconhecidos.

Encante-se pelos azulejos e vielas do bairro. Vale muito a pena, e além de você conhecer a Lisboa não turística, você sempre pode encontrar um bar local perdido e uma boa comida.

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No centro da cidade umas das estações mais míticas é o Alto Chiado.

Descendo do metro, você já encontra a O Largo do Chiado, onde artistas de ruas fazem as suas peripécias todos os dias. Logo ali está o mítico café “A Brasileira, um dos café mais tradicionais de Lisboa, muito elegante e requisitado. Conseguir uma mesa na hora ponta é algo extremadamente difícil. Paralelo ali você pode encontrar a Rua Augusta que apesar no nome não tem anda a ver com a rua Augusta de São Paulo onde as principais lojas e armazéns estão ali.cafe a brasileira

Pastéis de Belém

Outro lugar indispensável é Belém. Não falo só pelos famosos Pasteis de Belém, que são realmente fabulosos, mas também pelo seu legado histórico.

Foi desde à praia de Belém que as Caravelas  de Vasco da Gama partiram rumo as Índias. As calçadas de basalto em forma de ondas relembram o Rio, e o Monumento do Descobrimento enquadra a historia de duas nações que já foram uma. A igreja do mosteiro, a Igreja de Santa Maria de Belém, é uma magnífica igreja sustentadas por pilares elegantes que terminam com uma linda cúpula pontiaguda.

A Torre

A luz natural que atravessam os vitrais é magnifica. Os túmulos de Vasco da Gama e do porte Luis de Camões estão ali, relembrando 2 vertentes que marcaram o descobrimento do Brasil: a histórica e a literária. No deixe de ver também a Torre de Belém. Considerada Patrimônio Histórico pela UNESCO, a torre foi construída no século XVI por Francisco Arruda. Com formato quadrangular, a torre tem uma fachada com influencias árabes e venezianas e o seu e baluarte poligonal está orientado ao rio Tejo.

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Para chegar em Belém você pode pegar o bonde número 15 desde a praça da Figueira ou da praça do Comercio. Praça que é parada obrigatória a todo viajante. faro

Quem deseja conhecer bem Lisboa o aconselhável é ficar entre 4 e 5 dias e explorar dois bairros por dia. Não faltam lugares pra surpreender e pra aprender. Se tiver um minuto de pausa sugiro subir a um dos muitos miradores que tem na cidade pra poder apreciar ela do alto. As vistas são incríveis. Ler uma obra de época, como Os Lusíadas ou o Livro do Desassossego podem fazer a imaginação voar. pensando

Porque Lisboa é uma cidade inspiradora e uma visita ali não te defraudará.

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Notas sobre Charles Bukowski: “A vida é uma aposta perdida”

 

Por Erol Anar / Charles Bukowski nasceu na Alemanha, filho de um soldado americano, aos três anos mudou-se para os Estados Unidos com seus pais.

Sua vida foi difícil pelo sofrimento com as dificuldades sócio-econômicas pelas quais sua família passou. Teve acesso a livros e leituras apenas nos recintos das bibliotecas públicas.

Charles Bukowski (1920-1994) viveu nos Estados Unidos por quase toda sua vida. O escritor foi uma criança atormentada  por um pai extremamente autoritário e que o espancava quase todos os dias, teve dificuldades de socialização e  encontrou muito mais espaço para estabelecer sua rotina diária ao lado de vagabundos e prostitutas.  Publicou muitos poemas, cujos temas preferidos eram mulheres, bebidas e corrida de cavalos. Bukowski dizia que era do “mau”. Ele escrevia o que pensava, sem censura, não tinha meio-termo,  tanto era amado como odiado, mas sua literatura é profundamente filosófica em relação a compreensão da vida.

O lado sarcástico, polêmico e obsceno do poeta e escritor Charles Bukowski  fascinou gerações de jovens nos anos 70, ele publicou mais ou menos 50 livros.

“Misto Quente” é um romance de formação com traços autobiográficos considerado por muitos como o melhor livro do autor. O livro narra a infância do seu alter egoHenry Chinaski, durante a recessão pós 1929, menino de origem alemã, pobre, com um pai autoritário beirando a psicopatia, uma mãe passiva, nenhuma namorada e com muitas espinhas. Ele se vê apenas com a perspectiva de servir de mão-de-obra barata em um mundo cada vez menos propício às pessoas sensíveis e com problemas. Este romance é sem dúvida uma das obras mais comoventes e mais lidas de Charles Bukowski. Parece que Bukowski gostava do escritor russo Dostoíevski por causa disso, porque Dostoievski perguntou em um dos seus escritos: “Quem não quer matar seu próprio pai?”

“Eu não tinha interesses. Eu não tinha interesse por nada. Não fazia a miníma idéia de como iria escapar. Os outros, ao menos, tinham algum gosto pela vida. Pareciam entender algo que me era inacessível. Talvez eu fosse retardado. Era possível. Frequentemente me sentia inferior. Queria apenas encontrar um jeito de me afastar de todo mundo. Mas não havia lugar para ir. Suicídio? Jesus Cristo, apenas mais trabalho. Sentia que o ideal era poder dormir por uns cinco anos, mas isso eles não permitiriam.” [1]

Bukowski era criança durante a recessão pós 1929, essa recessão foi a causa da sua pobreza.

“Acho que o único momento em que as pessoas pensam em injustiça é quando acontece com elas.” [2]

Verdadeiro romance de formação com toques autobiográficos, Misto-quente cativa o leitor pela sinceridade e aparente simplicidade com que a história é contada. Estão presentes a ânsia pela dignidade, a busca vã pela verdade e pela liberdade, trabalhadas de tal forma que fazem deste livro um dos melhores romances norte-americanos da segunda metade do século XX. Apesar de ser o quarto romance dos seis que o autor escreveu e de ter sido lançado quando ele já contava mais de sessenta anos, Misto-quente ilumina toda a obra de Bukowski. Pode-se dizer: “quem não leu Misto-quente, não leu Bukowski.” [3]

  • Misto Quente: infância e adolescência problemática;
  • Factótum/ou Cartas na Rua: a vida ruim, sem perspectiva de melhoras;
  • Mulheres: o poeta já era conhecido, mas possui uma aversão àqueles que o excluíram a vida toda e agora o adoram;
  • Hollywood: o autor famoso que começa a questionar se não estaria se vendendo ao escrever um roteiro para um cineasta famoso. [4]

Segundo ele, o álcool é um deus agradável

Nos seus livros há uma descrição de sua autobiografia. Normalmente, quando descreve através da narrativa do protagonista, sobre o incidentes da sua própria história. Tem uma linguagem sem censura e direta, uma linguagem que se purifica do tabu e das regras sociais. Considere-se que o autor e o leitor dialogam sobre o lado mau existente em cada um. Os personagens marginalizados dos livros são: profissionais do sexo, alcoólicos, perdedores … Ironicamente, há uma aproximação entre os eventos que experenciam e a vida em  sociedade em si.

Charles Bukowski se qualifica como uma pessoa apolítica. Segundo ele, o álcool é um deus agradável. [5]

No entanto, eu discordo que ele é apolítico, mas não se colocou numa missão política. Ele critica o sistema, a sociedade e permanece contra a tudo estabelecido como regra. Critica às vezes filosóficamente, mas desprovido de qualquer crítica disciplinar dirigida. Escreve direto sem auto-censura e de maneira simples, porém coloca os aforismos entre as palavras e isso dá profundidade aos seus textos.

“Não pareciam ruas boas , muitas vezes não parecem mesmo.”

Às vezes seus textos demonstram que ele fica tão emocional quanto uma criança:

“Eu estava bêbado,caminhei para o meu quarto. Havia uma lua cheia em Nova Orleans. Eu andei por um tempo e começou a fluir lágrimas. Uma torrente de lágrimas ao luar. Em seguida, parou, eu sinto que elas estão secando no meu rosto, minha pele estava tensa. Quando entrei no meu quarto e sem acendar a luz deixei meus sapatos minhas meias e fui para a cama… quando eu acordei perguntei pra mim mesmo: qual cidade agora?… qual trabalho?….  Levantei-me,   coloquei minhas meias e meus sapatos e fui pegar uma garrafa de vinho. Não pareciam ruas boas , muitas vezes não parecem mesmo. Elas foram planejadas por seres humanos e pelos ratos, e se você vive nelas você teve que morrer.” [6]

O apelido de Bukowski é Buk e o nome utilizado em suas obras são Hank e Henry Chinaski.  Ele contava sobre Los Angeles, a cidade na qual morava. Foi influenciado por Hemingway e Dostoyevsky. Escreveu cerca de 50 livros, alguns de seus trabalhos foram filmados e viraram musicais tambem, como  Anthrax, Apollo 40, Modest Mouse, Leftover Crack, Bad Radio, Eddie Vedder, Red Hot Chili Peppers e seus poemas viraram composição musical nas letras dessas bandas também. No livro “Hollywood”,  Bukowski escreveu uma anedota vivida por ele, Mickey Rourke ator protagonista do seu livro que virou o filme Barfly (neste filme há uma aparição silenciosa do próprio Buk),  recebeu 750 mil pela sua atuação. Porém Buk pergunta: quanto o escritor ganhou, você sabe? E responde: “ 10 mil”. Também pergunta enquanto Mickey Rourke estava sob os holofotes e sendo fotografado: Onde estava o escritor que criou seu famoso personagem? Ele  responde: “ estava no lado escuro, olhando a cena e bebendo.”

Álcool, mulheres e corridas de cavalos eram sua paixão. Ele não é diferente das outras pessoas, quando critica os outros , critica ao mesmo tempo a ele mesmo também. Não tentava ter razão, não ligava para o que as outras pessoas irião pensar sobre ele e suas escritos.

“Eu gosto de homens desesperados, homens com dentes quebrados e mentes quebradas e caminhos quebrados. Eles me interessam. Eles estão cheios de surpresas e explosões. Eu também gosto de mulheres vis, malditas, bêbadas com meias soltas e rostos de máscaras desleixados. Estou mais interessado em pervertidos do que nos santos. Eu posso relaxar com vagabundos, porque eu sou um vagabundo. Eu não gosto de leis, costumes, religiões, regras. Eu não gosto de ser moldado pela sociedade. ” [7]

Segunda muitas revistas, ele é um dos escritores americanos mais imitado e influente.

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“Quando você bebia, o mundo continuava lá fora, mas por um momento era como se ele não o trouxesse preso pela garganta.” [8]

Nos Estados Unidos, ele foi excluído durante anos pelos críticos literários do mundo da literatura. Eles classificaram as escritas de Bukowski alegando tratar-se de “lixos” e textos “fora da literatura”. Contudo,  primeiramente na Europa, depois dos Estados Unidos o escritor foi reconhecido como bom e inusitado, um estilo único,  ficou mundialmente famoso. Há muito mais fãs e leitores para Charles Bukowski do que para a maioria dos outros escritores. Mas, ainda assim,  ele odiaria encontrá-los pessoalmente.

“A gente tem que ser um pouco duro, senão eles ficam aporrinhando.  Muitos que acham que, de alguma forma, você vai convida-los para entrar e beber a noite toda. Prefiro beber sozinho. Um escritor não deve nada, exceto ao seu texto. E melhor leitor e melhor pessoa são os que me recompensam com sua ausência.” [9]

 “Tudo é uma prisão!”

Eu escrevi assim no meu livro “Café da Manhã Existencialista”:

“Na biblioteca da casa onde me hospedo achei um livro de Bukowski e , como é um livro que aprecio, comecei a relê-lo. Depois de um tempo (antes eu gostava mais dele do que agora) lendo, eu me aborreci, pensei :  O que eu gosto nos livros dele? …Na realidade, à primeira vista ele parece um homem asqueroso! Talvez ele seja, e nem fazia esforço para tirar essa impressão para seus leitores. Ele vendeu seus amigos, não acreditava em valores, mulheres para ele eram objetos para sexo, ele xingava todo mundo e todas as coisas. Mas quando ele fazia isso, (ele não alegou isso), tinha uma visão filosófica no seu modo de enxergar a vida. O nome do livro que estou lendo é “ Histórias das Loucuras Comuns “ , é uma história que toca os leitores como os demais livros dele. Estou pensando que Bukowski sempre escreveu sobre as mesmas coisas:  Corridas de cavalos, mulheres, sexo,  álcool, e vômito. Só que ele tem uma coisa que o diferencia dos outros: ele expõe sua intimidade asquerosa, e isso o fez viver em paz. O verdadeiro afirmado por Sartre é que não somos puros! Somos asquerosos!

Numa história do livro, uma menina de quatro anos pergunta para o seu pai o seguinte: “ – O que é prisão?”  . O pai dela responde: “- Tudo é uma prisão!”. Eu concordo com ele. Na realidade, quando avaliamos nossas vidas, milhões de vezes nos vemos presos pelo sistema da sociedade e por nós mesmos. Como nosso corpo dividido em milhares de partes, cada parte presa numa cela.

Todas as pessoas que nós conhecemos, para nós viraram uma prisão e nós para eles também. Nós temos muito medo da eternidade ilimitada, como se estivéssemos numa floresta distante, com olhos brilhantes de lobos selvagens nos observando, nós sentimos que tudo esta sem remédio ou solução, ficamos desnudos. Corremos muito rápido para nossas celas com nossos desejos, quando entramos nelas nosso corpo e alma ficam calmos, achamos que no escuro ficamos  melhor.” [10]

O filosofo frânces Jean Paul Sartre afirma que “o inferno são os outros.” Bukowski, afirmou que esse aforismo de Sartre acertou exatamente no centro do alvo.

“Não há nada mais para se lamentar a respeito da morte do que se lamenta o crescimento de uma flor. O que é terrível não é a morte, mas as vidas que as pessoas vivem ou não vivem até suas mortes. Elas não honram suas próprias vidas, elas mijam em suas próprias vidas. A maioria das mortes das pessoas é um engano. Não sobrou nada para morrer” [11]

Bukowski tinha uma abordagem especial e irônica sobre os acontecimentos. Por exemplo, ele explica como ocorreu a extinção dos dinossauros:

“Daqui a 4.000 anos, não teremos pernas, nos arrastaremos sobre nossas bundas, ou talvez só rolemos como tumbleweeds. Cada espécie destrói a si mesma. O que matou os dinossauros foi que eles comeram tudo à sua volta e depois tiverem que comer uns aos outros e com isso só restou um e filho da puta que morreu de fome.” [12]

 Bukowski é um membro de a “Beat Generation (Geração Beat)?”

Segundo alguns críticos, Bukowski é um membro da “Beat Generation (Geração Beat)” mas ele mesmo não se via nessa categoria. Uns dos demais escritores importantes da Geração Beat são Jack Kerouac e Allen Ginsberg entre outros… Porém, Bukowski não gostava deles.   Ele queria ficar sozinho, sempre deixou claro que o melhor para ele era ficar sozinho do que pertencer a uma categoria qualquer que fosse. Eu acho que Bukowski estava certo, seu estilo e sua perspectiva de vida era muito diferente dos outros escritores da Geração Beat. Os escritores da Geração procuravam a liberdade e queriam mudar o mundo, como observou Jim Morrison. Bukowski, não mudou o mundo porém mudou a literatura.

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“É isso que as pessoas querem: mentiras, mentiras maravilhosas. Eles precisam as mentiras. As pessoas são idiotas. Isso vai ser facíl para mim.”[13]

Bukowski não se interessava por nada, não tinha preocupações sociais. Não pretendia mudar o mundo também. Queria só ficar sozinho e escrever sem perturbação. Ele fazia seu papel e era uma pessoa associal. Não gostava dos outros escritores. Uma vez disse que só gostava dos escritores mortos.

Com  o estilo sarcástico de escrever e com o seu papel, ele é um  anti-herói tendo como alter-ego  “Hank” e “Henry Chinaski”.

“Às vezes, me sinto como se estivessémos todos presos num filme. Sabemos nossos falas, onde caminhar, como atuar, só que não há uma câmera. No entanto, não conseguimos sair do filme. E é um filme ruim.” [14]

Bukowski é uma pistola de suicídio que tinha uma bala na arma

Disse que era “apolítico” embora não fosse satisfeito com o sistema, ele também o critica:

“Nesse sistema não há nada para desenvolver, pode ser numa vila nem numa cidade. Não há algo que você pode desenvolver.”

Mesmo depois que ele foi detido pelo FBI.

“Lembro decomo oscaras de FBI estavam putos comigona viagem de carro. “EI, ESSE CARA ESTÁ CALMO DEMAIS”, gritou um deles, furioso. Eu não tinha perguntado por que tinham me pegado ou para onde estávamos indo. Não me importava. AApenas mais uma fatia da falta de sentido da vida. “AGORA, ESPEREM”, disse a eles. “ Estou com medo.” Isso pareceu fazer com que se sentissem melhor. Para mim, eles eram como criaturas do espaço sideral. Não conseguíamos nos relacionar.” [15]

Bukowski, foi investigado pelo FBI por causa de seus artigos no jornal subterreno “Open City (Cidade Aberta)” de Los Angeles. Ele era colunista desse jornal e publicou “Notas de Um Velho Safado”. Era um tablóide, foi lançado em uma base semanal entre os anos de 1967-1969.

 “Alguns dias são melhores do que o topo do edredom puxado ficar na cama.” (Mulheres)

Bukowski disse a respeito do autor do livro “ Pergunte ao Pó”, John Fante, “ ele era meu deus”. Mesmo depois de se tornar famoso ajudou a publicar os livros de Fante, na mesma editora que  publicava seus livros. Neste livro, Fante conta uma historia de um escritor pobre que lutava com a vida e depois teve um amor trágico. Bukowski gostava tanto desse livro porque parecia a história pessoal dele mesmo.

Jean Paul Sartre considerou Charles Bukowski como o  “melhor poeta dos Estados Unidos”.

Os poemas dele tem um simples texto, como olhar para uma planície, sem muito romantismo, longe de simbolos, imagens, relata os pequenos detalhes da vida cotidiana. Bukowski tem um livro chamado “Shakespeare Never Did This (Shakespeare Nunca Fez Isso)”, li anos antes, penso que então Bukowski é a antítese do Shakespeare.

 

“Nos todos vamos morrer, todos, que circo!”

Na lápide dele esta escrito “Don’t try (Nem Tente)”. Porém, ele tentou e deixou muitas folhas verdes atrás dele, viajou pelo mundo como o vento.

Morreu na Califórnia, aos setenta e três anos, de leucemia.

Descanse em paz Hank …

Termino esse texto com um poema de Bukowski:

poema nos meus 43 anos [16]

terminar sozinho
no túmulo de um quarto
sem cigarros
nem bebida—
careca como uma lâmpada,
barrigudo,
grisalho,
e feliz por ter um quarto.
…de manhã

eles estão lá fora
ganhando dinheiro:
juízes, carpinteiros,
encanadores , médicos,
jornaleiros, guardas,
barbeiros, lavadores de carro,
dentistas, floristas,
garçonetes, cozinheiros,
motoristas de táxi…
e você se vira
para o lado pra pegar o sol
nas costas e não
direto nos olhos.


 

 

 Referências

[1]  Bukowski, Charles: “Misto-Quente”, Editora: L&PM, 2012, Brazil.

[2]  Bukowski, Charles: “Misto-Quente”, Editora: L&PM, 2012, Brazil, pp. 219.

[3]  “Misto-Quente”, lpm.com.br

[4]  Marçal, Marcelo: “Bukowski é nova modinha das redes sociais”, papodehomem.com.br

[5] Bizio, Silvia:  Charles Bukowski: Quotes of a Dirty Old Man (1982)”, High Times.

[6] Bukowski, Charles: Notes of a Dirty Old Man”, City Lights Publishers; 2nd revised edition, January, 2001.

[7]  Bukowski, Charles: “South of North

[8]  Bukowski, Charles: Factótum”, Editora: L&PM, 2010, Brazil. pp. 55.

[9]  Bukowski, Charles: O capitão saiu para o almoço e os marinheiros tomaram conta do navio”, Editora: L&PM, 2003, Brazil, s. 8.

[10]  Anar, Erol: “Café da Manhã Existencialista”, Editora Júrua, 2009, Brasil.

[11] Bukowski, Charles: O capitão saiu para o almoço e os marinheiros tomaram conta do navio”,

[12] Bukowski, Charles: O capitão saiu para o almoço e os marinheiros tomaram conta do navio”, pp. 31.

[13] Bukowski, Charles: “Ekmek Arası (Misto-Quente)”, Editora: Metis Yayıncılık, Istambul, 2000, pp. 63.

[14] Bukowski, Charles: O capitão saiu para o almoço e os marinheiros tomaram conta do navio”.

[15] Age, pp. 49-50.

[16] Tradução do poema: Jorge Wanderley, revistabula.com