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Hoje profano o que no passado era sagrado

O turismo deve ser feito com calma em lugares como Stonehengen, Machu Picchu, Mont Saint Michel

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Foto por Mari Weigert. Stonehengen. Inglaterra

Os turistas que visitam diariamente os antigos círculos sagrados de Stonehenge, na Inglaterra, ou Mont Saint Michel, na França, Machu Picchu, no Peru,muito rápido, não se envolvem com o verdadeiro significado do lugar

Talvez devido ao grande fluxo e a rapidez como se processam as visitas, perdem  a oportunidade de perceberem melhor a história e o mito que envolvem estes locais construídos na antiguidade. Devido a agitação e o foco na curiosidade, os visitantes se entregam à leitura mecânica, profana, de algo que o homem fez sagrado no passado.

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Stonehengen, Inglaterra. Foto por Mari Weigert

A melhor maneira de apreciar os aspectos artísticos e sentir a aura de mito e mistério que envolvem estes locais,  é visitá-los por conta própria ou em eventos organizados com o objetivo de realizar uma comunhão maior com o significado histórico e espiritual.

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Antigos círculos de pedra e megalíticos (pedras grandes) existem em todas partes do mundo, embora pouco se saiba sobre eles. É possível deduzir algo sobre quem erigiu os sítios britânicos de Stonehenge, que se unem de Silbury a Avebury, em Wiltshire, ao sudoeste da Inglaterra, assim como a data das obras e quase nada sobre o porquê disso.

Para alguns, os círculos concentram e difundem energias telúricas, como as agulhas de acupuntura fazem com o corpo. Outros sugerem uma conexão com ritos da fertilidade, mas a única coisa que parece certa é a conexão dessas construções com as estações do ano.

O complexo megalítico de Avebury, em Wiltshire, foi construído em várias etapas e foi no passado maior do que é hoje Stonehenge. Calcula-se que foi erguido no período neolítico por volta de 2500 aC.

O grande círculo de pedras permaneceu importante para a Idade do Bronze (2.200-1.500 aC), quando muitos túmulos foram construídos nas proximidades. Hoje, Stonehenge, Avebury e juntamente com outros sítios associados, formam o coração de um Património Mundial com uma concentração única e densa de notáveis monumentos pré-históricos.

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Monte São Michel. França. Foto Internet

Mont Saint Michel

A ilha sagrada ligada ao continente conforme a maré, na região da Normandia, na França, atrai hoje milhares de turistas durante o ano, para visitar a abadia.  Um local que no século 18 foi de peregrinação cristã devido ao bispo Aubert, de Avranches ter construído ali um santuário dedicado ao São Miguel Arcanjo.

Acredita-se que o local era usado por druidas, para adoração ao sol e ao deus Mitras e também utilizado como cemitério celta.  La Merveilhe, um conjunto de construções religiosas góticas do século 13, domina a ilha.

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Catedral de São Michel. Foto por Mari Weigert
Machu Picchu

 

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Machu Pichu. Foto por Janine Malanski
A cidade perdida de Machu Picchu, no Peru, no alto dos Andes peruanos, é um dos sítios mais espetaculares do mundo.

É defendida em três lados por um desfiladeiro com mais de mil metros de profundidade – onde correm as nascentes dos rio Urubamba, tributário do Amazonas – e, no quarto lado, por uma crista montanhosa que faz as vezes de guardiã.

 

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Sérgio e a sabiá

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Por Luiz Ernesto Wanke – Este é um ‘causo’ acontecido em Brasília. Como sabemos a nossa capital é toda planejada, com prédios iguais distribuídos em conjuntos, tendo entre os blocos aquelas alamedas de árvores frondosas. Este, dessa história é um prédio diferente, novo, com apartamentos médios e que se destaca por ter no último andar uma pequena cobertura  proporcional à área da morada daquele espaço. Dela podia se ver na parte frontal uma pracinha que, por estar perto da Universidade de Brasília, era frequentada por jovens.

O apartamento tinha uns cem metros quadrados, mas era premiado por uma sacadona no último andar, justamente o detalhe que tinha encantado o meu amigo Sérgio e o convencido a compra-lo. Era uma delícia: lá em cima ele dormia nas noites de calorão e era também seu lugar preferido para esticar sua rede, ouvir músicas e ler o jornal diário. De lá ele via toda a movimentação da vizinhança, as copas das árvores e também os jovens universitários nas suas folgas. Alguns deles fumando baseados.

Claro, também acompanhava os passarinhos que ele adorava. Debruçado sobre a murada, um dia viu sobre um galho de uma mangueira, um ninho com quatro filhotes zelosamente alimentados pela mãe sabiá que voava dando grandes e graciosas voltas buscando alimento. Mas numa dessas ausências cíclicas da sabiá, um miserável gato malhado subiu rapidamente pelos galhos da árvore, numa destreza espantosa, abocanhou um dos filhotes e ainda, sob os olhos horrorizados do Sérgio, desceu rapidamente e comeu o bichinho em baixo de uma dessas caixas metálicas de lixo.

Agora que o gato tinha achado o caminho, o destino dos filhotes seria virar comida? Não, era muito para a sensibilidade do Sérgio. Matutou, matutou e achou uma solução. No dia seguinte emprestou uma longa escada e foi retirar o ninho. Mas onde coloca-lo ao alcance da mãezona? Ora, na sacadona, um lugar seguro e sem acesso do miserável bichano. Foi o que fez, arriscando despencar das alturas, mas enfim ficou feliz ainda mais quando a mãe sabiá achou o ninho com seus filhotes no meio da folhagem de sua mulher, num lugar mais seguro possível.

Agora sim, Sérgio estava feliz, acompanhando da sua rede o trabalho incessante da mamãe sabiá indo e vindo com a comida. Mas como nem tudo é perfeito, ao longo da semana surgiu um problema: dois dos sobreviventes do ninho eram mais espertos e sempre eram eles que abocanhavam a porção da mãe deixando o menorzinho sempre faminto. E o miudinho ia cada vez mais definhando.

Outro problema para o Sérgio resolver. Que fez?

Mãos à obra: emprestou uma pá e lá foi ele cavar o jardim do prédio buscando as minhocas para o menorzinho. Sentiu-se feliz porque a quantidade de minhocas que conseguia dava para alimentar toda a família, facilitando a tarefa da mãe sabiá.

Assim virou uma rotina para o Sérgio. No começo fazia este trabalho com satisfação, mas foi ficando cada vez mais chato porque tinha que balizar seus horários de trabalho para satisfazer a necessidade de alimentar a família sabiá. Mas se conformava porque seria uma tarefa de tempo limitado até os filhotes irem embora.

Mas sua mulher – vejam só – começou a reclamar da sujeira que mamãe sabiá fazia na sacada. Sem problemas, Sérgio arrumou um paninho molhado que ele mesmo usava para limpar as carimbadas da madame. Tinha até uma latinha para guardar o pano.

Bem confortáveis e, principalmente, melhor alimentados, os filhotes foram crescendo e ganhando penas. Sérgio ficou aliviado porque agora era hora dos bichinhos apreenderem a voar e, claro, também de cada um dos personagens desta história cuidar da própria vida.

Seus olhos brilhavam ao ver os pequeninos dar as primeiras tentativas de voo.  No começo todos bonitinhos como qualquer filhote, mas logo foram se encorpando e passaram a voar por toda a sacada, de um lado para outro, desajeitados, derrubando os vasos, estragando a folhagem e pintando tudo de branco com suas cacacas fedidas. Nada escapava nem o chão, as paredes pintadas de nova e folhagens da mulher. Sérgio não mais vencia limpar aquele caos.

E sua mulher buzinando no ouvido… Ela ficou tão brava que ameaçou mudar-se para a casa da mãe. Ele, coitado, só pedia mais alguns dias de paciência porque o tormento estava se encaminhando para uma solução final.

Graças a Deus, foi o que aconteceu. Um dia ensolarado a família empenada finalmente se mandou sem se despedir nem agradecer. Uns foram para o prédio ao lado, outros para a praça dos viciados. Então o Sérgio encheu-se de brio e satisfeito foi contar a grande novidade para a mulher. Até prometeu-lhe que no sábado faria a faxina geral da sacada restabelecendo o território dos humanos.

No dia, foi o que fez. Foi duro. Cansado, tudo limpinho, arrumou sua rede, colocou o fone de ouvido e buscou seu aparato para as leituras. Mas logo caiu num sono gostoso.

Não é que foi acordado com um alarido dos antigos moradores? Lá, apoiados na murada estava toda a família sabiá reclamando… Pela gritaria, queriam a comida de direito!

Sérgio levantou-se silenciosamente e foi para perto da mãe sabiá. Então, sem nenhuma delicadeza, gritou, liberando toda raiva acumulada nos ouvidinhos dos passarinhos:

“- Se virem!!!”

(do livro inédito, ‘Pobrete, mas alegrete’)

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Art of the words and the pleasure by their meanings

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Museu da Língua Portuguesa. Foto Mari Weigert

Geraldo was leaning in about three books at a time when his young student arrived to the Italian lesson. The air of astonishment and inquiry stamped on her face betrayed something like …. What is all this for?

– Do you never consulted a dictionary? Asked the teacher removing his attention from the books and looking towards the young.

– Normally, I use the internet. I think my parents still use dictionaries, she replied kind of uncertain. Iphone and Google solve my problem in a second, she added.

The scene was only a parenthesis that Geraldo did during one of my Italian classes to count as young people today view the use of the dictionary.

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The book in printed publication is being each time less used by youth, maybe because of the discomfort in carrying it or the difficulty of handling it, leading to superficial research on internet. With that, young people lose the opportunity to experience the thrill of understanding the word in the root of its definition and discover in various authors the differences in the way to explain the meaning of the word.

DSC00623Actually, fail to develop such a healthy addiction that is to produce a text with more refinement, seeking new words with the same meaning, but with a clearer definition, more complete to express the idea, feeling or information that is wanted to place in the sentence.

Only those who frequently use the dictionary knows how intense is the pleasure, almost an orgasm, when the word found explains exactly what is wanted to expose. The more you search, more discovers – origin, history and travels in time.
The feeling I get when performing this job is like if I were producing a work of art and the screen was the text where I write on. Greater is the delight when I translate my ideas into Italian (language that also has its origins in Latin), especially when some corrections need to be explained in classes from Geraldo, who loves get involved with his dictionaries around the big table situated on the room where the class is given. The experience is fascinating and gives us the chance to travel into a discovery world, on the etymology of the word, and this exercise improves knowledge of Portuguese and Italian.
– Did you know that “donna”, woman in Italian, has its origin in the latin word “domina”? So, dominating is the original expression of the word woman to Italian, explains with a malicious smile. I also find grace in the information and think that in Italian culture this word has come in such remote times that probably had the sense of defining who really commanded and maybe until today.

In Italian, there is “lavoro” and “travaglio” and in portuguese, only “trabalho” (work). Travaglio means extreme suffering, acute, stormy hard work.

Thus the hours pass like minutes and time is short for the infinite universe of words. Nothing is boring in this game/lesson.

Writing is an art and if compared to the artist in his screen, is like searching the exactly color in traits of its creation. Brush a word here and another there to intensify the meaning of the sentence is exciting and the pursuit of meaning makes the eyes sparkle with excitement.

The very name of the site is a decoding of the word “panorama” (view) and was chosen because it provided a real love affair during its conception. Panorama is of Greek origin, and the prefix “pan” means “all” and horam “vision”. The vision of all. Beautifuuuuul!

The poet Pablo Neruda has created a magnificent text entitled “The Word” and on it he confessed his unconditional love affair with words that help us expressing emotions, writing stories, keeping alive the memory of things, giving information…
pablo-neruda“You can say anything you want, yessir, but it’s the words that sing, they soar and descend…I bow to them…I love them, I cling to them, I run them down, bite into them, I melt them down…I love words so much…The unexpected ones…The ones I wait for greedily or stalk until, suddenly, they drop…Vowels I love…They glitter like colored stones, they leap like silver fish, they are foam, thread, metal, dew…I run after certain words…They are so beautiful that I want to fit them all into my poem…I catch them in mid-flight, as they buzz past, I trap them, clean them, peel them, I set myself in front of the dish, they have a crystalline texture to me, vibrant, ivory, vegetable, oily, like fruit, like algae, like agates, like olives…And then I stir them, I shake them, I let them go…I leave them in my poem like stalactites, like slivers of polished wood, like coals, pickings from a shipwreck, gifts from the waves…Everything exists in the word…An idea goes through a complete change because one word shifted its place, or because another settled down like a spoiled little thing inside a phrase that was not expecting her but obeys her…they have shadow, transparence, weight, feathers, hair, and everything they gathered from so much rolling down the river, from so much wandering from country to country, from being roots so long…They are very ancient and very new…They live in the bier, hidden away, and in the budding flower…What a great language I have, it’s a fine language we inherited from the fierce conquistadors…They strode over the giant cordilleras, over the rugged Americas, hunting for potatoes, sausages, beans, black tobacco, gold, corn, fried eggs, with a voracious appetite not found in the world since then…They swallowed up everything, religions, pyramids, tribes, idolatries just like the ones they brought along in their huge sacks…Wherever they went, they razed the land…But words fell like pebbles out of the boots of the barbarians, out of their beards, their helmets, their horseshoes, luminous words that were left glittering here…our language. We came up losers…We came up winners…They carried off the gold and left us the gold…They carried everything off and left us everything…They left us words.” (“The word”, from Pablo Neruda, translated from the Spanish by Hardie St. Martin from Memoirs. Farrar, Strauss and Giroux, 1977)

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A arte das palavras e o gozo pelos seus significados

Geraldo estava debruçado em cerca de uns três livros no momento em que sua jovem aluna chegou para a lição de italiano.

O ar de espanto e a indagação estampada no rosto dela deixava transparecer algo como…. para que tudo isto?

– Você nunca consultou um dicionário? perguntou o professor retirando sua atenção dos livros e olhando em direção a jovem.

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– Normalmente uso a internet. Acho que meus pais usam ainda dicionários, respondeu ela meio incerta. Iphone e  Google resolvem meu problema num segundo, completou.

A cena foi apenas um parêntese que Geraldo fez durante uma das minhas aulas de italiano para contar como os jovens hoje encaram o uso do dicionário.

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Livro sendo substituído

O livro em publicação impressa está sendo cada vez menos usado pela juventude, talvez pelo desconforto em carregá-lo ou  pela dificuldade em manuseá-lo, dando lugar a pesquisa superficial  pela internet. Com isso, os jovens perdem a oportunidade vivenciar a emoção de entender a palavra na raiz de sua definição e descobrir em diversos autores as diferenças na forma de explicar o significado da palavra.

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Na verdade, deixam de desenvolver um vício tão saudável que é o de elaborar um texto com mais refinamento, buscar novas palavras que tenham o mesmo significado, mas com uma definição mais clara, mais completa para exprimir a ideia, sentimento, ou informação que se deseja colocar  na frase.

Dicionário

Somente quem usa frequentemente dicionário é que sabe o quanto é intenso o prazer, quase um gozo quando se encontra um palavra em que o significado abrange exatamente aquilo que se deseja expor. Quanto mais se pesquisa mais se descobre – origem, história e se viaja no tempo.

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A sensação que sinto ao realizar este trabalho é como se estivesse produzindo uma obra de arte e a tela fosse o texto em que escrevo.

Maior é o deleite quando traduzo minhas ideias para o italiano( idioma que também tem origem no Latim), sobretudo quando algumas correções ficam por conta de uma explicação em uma aula de Geraldo que ama se envolver com seus dicionários espalhados na grande mesa  situada na sala em que ministra a aula.

A experiência é fascinante e nos dá a oportunidade de viajar para um mundo de descobertas, na etimologia da palavra e este exercício melhora o conhecimento do português e do italiano.

–  Sabia que “donna” mulher em italiano tem sua origem na palavra latina “domina”.

Portanto, dominar é a expressão original da palavra mulher para o italiano, explica com sorriso malicioso. Também acho graça na informação e penso que na cultura italiana esta palavra surgiu em tempos tão remotos que provavelmente tinham o sentido de definir quem comandava de verdade naquela época e talvez até hoje.

Em italiano existe “lavoro e travaglio e em portugu6es somente trabalho. Travaglio significa extremo sofrimento, agudo, tormentoso trabalho duro.

Horas passam rápido

Assim as horas passam como se fossem minutos e o tempo é pouco para o universo infinito dos vocábulos. Nada é enfadonho neste jogo/ aula.

Escrever  é uma arte  que se comparada ao artista na concepção de sua tela na busca da cor exata nos traços de sua criação. Pincelar uma palavra aqui e outra acolá para intensificar o sentido da frase é excitante e a busca dos significados faz os olhos brilharem de emoção.

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O próprio nome do site é uma decodificação da palavra panorama e foi escolhido porque proporcionou  um verdadeiro caso de amor durante o período de sua concepção. Panorama é de origem grega, sendo que o prefixo pan significa o “todo” e  horam “visão”. A Visão do todo. LIndoooooooo!

Pablo Neruda

O poeta Pablo Neruda  criou um texto magnífico intitulado “A Palavra” e nele confessou o seu caso de amor incondicional às palavras que nos ajudam expressar emoções, escrever histórias, manter viva a memória do universo e informar. Ahhh…

Palavras que me envolvem, palavras que expressam o que sinto. Amo-te!

“Sim Senhor, tudo o que queira, mas são as palavras as que cantam, as que sobem e baixam … Prosterno-me diante delas… Amo-as, uno-me a elas, persigo-as, mordo-as, derreto-as …

Amo tanto as palavras … As inesperadas …

As que avidamente a gente espera, espreita até que de repente caem … Vocábulos amados … Brilham como pedras coloridas, saltam como peixes de prata, são espuma, fio, metal, orvalho …

Persigo algumas palavras … São tão belas que quero colocá-las todas em meu poema … Agarro-as no vôo, quando vão zumbindo, e capturo-as, limpo-as, aparo-as, preparo-me diante do prato, sinto-as cristalinas, vibrantes, ebúrneas, vegetais, oleosas, como frutas, como algas, como ágatas, como azeitonas …

E então as revolvo, agito-as, bebo-as, sugo-as, trituro-as, adorno-as, liberto-as … Deixo-as como estalactites em meu poema; como pedacinhos de madeira polida, como carvão, como restos de naufrágio, presentes da onda … Tudo está na palavra … Uma ideia inteira muda porque uma palavra mudou de lugar ou porque outra se sentou como uma rainha dentro de uma frase que não a esperava e que a obedeceu …

Têm sombra, transparência, peso, plumas, pelos, têm tudo o que ,se lhes foi agregando de tanto vagar pelo rio, de tanto transmigrar de pátria, de tanto ser raízes … São antiquíssimas e recentíssimas. Vivem no féretro escondido e na flor apenas desabrochada … Que bom idioma o meu, que boa língua herdamos dos conquistadores torvos …

Estes andavam a passos largos pelas tremendas cordilheiras, pelas .Américas encrespadas, buscando batatas, butifarras*, feijõezinhos, tabaco negro, ouro, milho, ovos fritos, com aquele apetite voraz que nunca. mais,se viu no mundo …

Tragavam tudo: religiões, pirâmides, tribos, idolatrias iguais às que eles traziam em suas grandes bolsas… Por onde passavam a terra ficava arrasada… Mas caíam das botas dos bárbaros, das barbas, dos elmos, das ferraduras. Como pedrinhas, as palavras luminosas que permaneceram aqui resplandecentes… o idioma.

Saímos perdendo… Saímos ganhando… Levaram o ouro e nos deixaram o ouro… Levaram tudo e nos deixaram tudo… Deixaram-nos as palavras”.     ( A Palavra de Pablo Neruda)