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O que seria da vida sem as Redes Sociais?

A resposta é fácil. Afinal, as pessoas que pertencem a minha geração nasceram sem ela… Mas hoje em dia parece impossível; já não imaginamos a vida sem celular, sem Facebook, sem Twitter, sem Instagram, sem Google + ou sem whatsApp.

Faz mais ou menos duas semanas venho pensando nesse tema seriamente. Principalmente porque a época natalina vai se aproximando e parece que já não nos importamos com mais ninguém. Todo mundo manda mensagenzinhas pelo Face, pelo WhatsApp; desses tipo mensagens massificadas… sem nenhum significado, sem nem dizer nada realmente a ninguém.

Faz mais ou menos dois anos que venho utilizando a maravilha do Whats up. Poder mandar mensagens sem ter que pagar nada, poder falar com gente do outro lado do oceano sem custo nenhum. Não! Não pretendo nem nunca vou negar o beneficio das novas tecnologias no mundo atual.

Faz 10 anos, quando cheguei em Londres, tinha que ligar pro meus pais de um  orelhão qualquer da cidade e falar o mais rápido possível para dizer que estava bem. Depois escrevia e-mails intermináveis contando realmente minhas aventuras e peripécias. Passava uma semana juntando as melhores histórias pra poder narrar das forma mais prazerosa possível. Hoje, o que eu quero contar, já falo no instante. Porque mesmo que a minha mãe não tenha WhatsApp, tem Messenger do Face e está toda hora conectada.

É certo que nossa forma de comunicar mudou. Senão não estaria escrevendo esse post do meu Mac, senão da minha Olivetti Valentine que tenho aqui estacionada do meu lado.

E é certo que essa nova forma de comunicar as vezes ajuda muito, principalmente quando a gente precisa avisar a alguém que está no meio do nada  e que precisa de ajuda.

Mas o que aconteceu com o anonimato? O que aconteceu com a privacidade das pessoas? Passei a ser cobrada constantemente por não atender o celular ou não responder os whatsApp em uma margem de 5 minutos. Saio de viagem e as pessoas estão me pedindo feedback constantemente. Passei dias e dias no trabalho agoniada por estar tocando o celular constantemente, noites e noites vibrando e eu pensado que tinha que dormir e se respondesse não saia mais dali. E as pessoas ainda por cima ficavam magoadas, tristes e chateadas.

Hoje em dia ficou estranho até ligar pra perguntar se alguém está bem. Por que não mandar uma mensagem? Se ela quiser ela responde ué.

Não é bem assim,  e devo ser uma pessoa antiquada em pensar que isso não é correto. Essa semana me propus um desafio: ficar uma semana desconectada de todas as redes sociais que não influenciavam meu trabalho diretamente. Não acendi meu celular pessoal (o de empresa não teve jeito), não me conectei no Face, no Twitter ou no Google +. Avisei os amigos mais próximos da decisão e disse que se quisessem falar comigo ou me chamassem em casa ou que me mandassem um email no trabalho.

E tenho que dizer que funcionou bem. As pessoas que realmente se preocupam comigo não se importaram de fazer isso e até me escreveram emails mais detalhados com muito mais entusiasmo que uma simples mensagem. Me limitei a ver  meu email pessoal uma vez ao dia e ver as chamadas do celular também. Não abri o whats up e não entrei em nenhuma rede social.

Pensei que talvez isso me causaria ansiedade, mas foi um alívio. Tive muito mais tempo pra ler, escrever e me dedicar as coisas que eu realmente gosto e me queixo que não tenho tempo. Quando estive com os meus amigos, em nenhum momento fiquei pensando no celular ou nas mensagens que podiam me estar enviando: afinal, quem é mais importante? Quem esta na sua frente, de corpo presente demandando a tua atenção ou o teu amigo virtual?

Montei minha árvore de Natal e pensei em todas as pessoas que são importantes pra mim. Pensei no verdadeiro significado do Natal e de como gostaria de dizer a cada um o quanto me importava e o quanto podia contar comigo. Finalmente entrei na internet: não pra me conectar, mas pra buscar cartões de natal e presentes. Fiz uma lista, revisei, revisei e revisei. E comprei finalmente os cartões: que contrariando todas as tecnologias, contrariando todas as expectativas, vou escrever um por um pra desejar um Feliz Natal as pessoas que fazem parte da minha vida. Porque nesse momento, mais do que qualquer outro momento do ano, devemos parar e pensar; devemos refletir e falar cara a cara, se é possível, com as pessoas que a gente gosta. E à parte de mensagens massificadas, se molestar em escrever duas linhas que seja desejando toda a felicidade do mundo e um Feliz Natal àquelas pessoas que você sabe que estão sempre ali. 

Porque somos seres humanos e necessitamos de relações verdadeiras.

PS: A minha semana sem Redes Sociais termina nessa segunda. Até lá, me liga!

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Fabrice e Efigênia têm a mesma sintonia artística

A semelhança entre as obras da nossa Rainha do Papel e da Bala, Efigênia Rolim, cidadã honorária de Curitiba, e as fotos elaboradas pelo artista africano Fabrice Monteiro é incontestável.

Ambos utilizaram em suas criações o lixo produzido pelo exagero de consumo de uma sociedade globalizada e alertam para o problema da poluição ambiental. A sintonia é a mesma, apenas com uma ressalva:

Efigênia traz para suas obras um universo lúdico e Monteiro, ao contrário, coloca em pauta o continente africano, que é deposito de lixo dos países desenvolvidos.

A artista paranaense é sonhadora em sua arte, se inspirou numa lufada de vento.

“No início dos anos 1990, Efigênia Rolim andava pela Rua XV de Novembro, quando perto do bondinho, foi surpreendida por uma lufada de vento, acompanhada por um redemoinho, que jogou aos seus pés papéis de bala lançados à calçada. De um deles, verde, reluzente, que ela achou parecido com uma pedra preciosa, ela fez uma flor – ou teria sido um passarinho? 

A velha senhora, então com um pouco mais de 60 anos, gostou tanto da sensação de transformar os invólucros em figuras que nasciam de sua imaginação, que logo procurou um suporte para suas criações, e o encontrou em uma sandália havaiana, também largada na rua. Nesse suporte de borracha criou sua primeira árvore de sonhos, feitos a partir de material reciclável, e ali nascia, como ela mesma gosta de contar, ‘a rainha do papel de bala pé de chinelo’, que ganharia o mundo com suas criações e sua personalidade singular”descreve a jornalista Dinah Ribas, no seu livro sobre a artista “A viagem de Efigênia Rolim nas Asas do Peixe Voador”.

Triste realidade

Por outro lado, a triste realidade de muitos países da África não permitiram a Fabrice Monteiro o olhar lúdico, muito embora os personagens criados em suas fotos sejam poéticos e elaborados a partir de uma beleza estética.

O artista reinventa, com poética,  a realidade dramática dos africanos. Olhar para as fotos de Fabrice e assistir o vídeo sobre Gana e o lixo tóxico provoca impacto e nos faz encarar algo que desejamos não saber. O subdesenvolvimento, a pobreza e falta de escrúpulos dos países ricos, assim  como de governos corruptos da própria África, contribuíram para criar essa situação.

A diferença  na arte de Fabrice Monteiro é que pela poética artística comunica toda a agonia e o drama de um continente. Efigênia, no entanto, viaja em alegorias que só  ela é capaz de criar. Um copo de plástico não é mais um copo, mas pata de cavalo, seu papel de bala reluz como uma pedra preciosa. Monteiro, por sua vez, dramatiza no silêncio de suas imagens. Pudera!

O vídeo Gana – A Lata de Lixo do Mundo, traduz a poética em realidade.

A arte de Efigênia é ingênua e genial, tanto quanto é genial a do fotógrafo africano, sem ser ingênua. Efigênia Rolim ou Fabrice Monteiro, ambos são artistas que lembram, por intermédio de suas obras, que o homem não respeita o planeta onde vive. Ele finge que limpa a casa, mas o lixo coloca embaixo do tapete.

 

 

 

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Natal de supermercado

Por Luiz Ernesto Wanke – Nosso supermercado do bairro não merece o superlativo. É um bom mercado, vá lá, tem açougue, padaria e tudo mais que se precisa para as necessidades básicas. Tem até um caixa eletrônico que nos salva porque é o único posto bancário do bairro, mas o gerente anda falando em retirá-lo por causa das explosões com dinamite que tem acontecido na cidade para rouba-los.

Por isto me surpreendi quando um dia desses, ao entrar pela porta, vi lá na lateral, bem no fundo do saguão, um Papai Noel abandonado, sentado numa cadeira velha e, principalmente, sem crianças ao redor. Ora, um velhinho sem crianças não faz sentido, é melancólico e triste. Reparei mais e o achei meio esquisito, diferente, com uma barba metade branca e metade natural, vestimenta puída, certamente de outros carnavais, ou melhor, de outros Natais e absurdamente calçando tênis também velhos. Tão mequetrefe que ninguém se importava com ele.

Reparei mais e vi que não estava confortável naquela cadeira dura. Provavelmente ficara ali o dia inteiro e visivelmente incomodado, mexendo-se e procurando uma posição melhor. Seu semblante de longe não correspondia a um distribuidor de felicidades. Fiquei triste por ele.

Fiz minhas compras e me coloquei no final de uma fila miserável de grande. Sabe como é esse aperto de final do ano quando o pessoal está com dinheiro no bolso por causa do décimo terceiro. Ninguém gosta de esperar, mas dizem que as filas são uma imposição democrática e quem sou eu para reclamar.

Pelo ‘rabo’ dos olhos fiquei espiando o Papai Noel, impassível na sua solitária invisibilidade no meio daquela gentarada. Não sei como, ele me viu – ou eu entendi assim – e eu interpretei no seu olhar triste uma atitude solidária de dois infelizes.

Assim esperando, num lapso de tempo lembrei-me dos Natais da minha infância, quando antes da hora ficávamos todos concentrados numa sala de porta de vidro fosco ansiosos pela chegada do ‘velhinho do Natal’ que era como nós chamávamos o dito cujo naqueles tempos. Enquanto víamos o vulto da mana Rose arrumando a árvore e os presentes, cantávamos ‘Noite Feliz’ e fazíamos orações em homenagem ao nascimento de Jesus.

Num repente, um estrondo: era papai jogando com força no chão as castanhas e nozes e em seguida o barulho das venezianas sendo abertas. Este ato teatral representava para nós crianças, a simulação da passagem do velhinho que teria mais coisas para fazer nessa noite do que ficar entregando nossos presentes e ainda, atrapalhando seu trabalho tão importante, comendo e bebendo adoidado.

Finalmente cheguei ao caixa e o Papai Noel continuava a olhar para nosso lado. Ansioso, arrisquei um pedido, gritando para ele:

– Não se esqueça de mim!

Mas o velhinho ou não ouviu ou estava tão distraído e não se ligou que meu brado era para ele. Olhei para trás e os desafortunados dos meus sucessores de fila olharam-me soturnamente. A caixa fez uma careta certamente de desaprovação pela minha gritaria. Dei uma ‘bola fora’, pensei. Naquele instante pareceu que apagaram a luz e todo o mercado escureceu. Mas logo me recompus, já que tinha deflagrado um vexame, tinha o direito constitucional de ir até o fim:

– Não se esqueça de mim! Repeti gritando a todo pulmão.

Não é que a luz voltou de uma forma resplandecente? A sala ‘se iluminou tal como a luz de um refletor’ como diria o poeta. A loura que estava nas minhas costas sorriu numa atitude compreensiva e o gelo se quebrou. O resto da turba começou a festejar, concordando com meu pedido e fazendo comentários a respeito do Natal.

Num repente e não sei como, instalou-se o chamado ‘espírito do Natal’.

Logo o tal Papai Noel se viu rodeado de fregueses. Até apareceu não sei de onde, uma menina que pulou no seu colo. Juro que vi uma senhora largar de suas compras e sair no saguão conversar com o bom velhinho.

Depois de pagar minha conta também passei por ele. Mas o velhinho estava tão ocupado distribuído balas e aconselhando a menina que nem ligou meu ‘tchau, Papai Noel!’

 

O autor é escritor com quatro livros de História publicados e um de ficção, O Gênio que Escrevia com Números.

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Divindades de lixo feitas na África mostram um continente em agonia

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As divindades agonizantes criadas pelo artista e fotógrafo, Fabrice Monteiro, nascido em Benin (África), de mãe belga, denunciam a grave poluição do continente africano por intermédio da poética artística. A África, assim como a Ásia, são depósitos clandestinos da grande quantidade de lixo produzido no mundo globalizado.

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Alegorias

Alegorias da Grande Mãe em Farrapos, Vênus dos Farrapos dos Pobres, são algumas das fotos contundentes  que em outubro foram expostas no Museu de Arte Moderna de Louisiana, EUA.  Monteiro para criar o ensaio fotográfico se uniu a designer de roupas  Dously e a ONG Ecofund. O projeto foi chamado de The Prophecy, e a série foi fotografada em dez localidades no Senegal.

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Deusas do futuro

A probabilidade de serem as deusas do futuro é muito grande. São cobertas  com trajes parcialmente feitos de lixo e detritos que interagem com uma paisagem poluída. As roupas foram construídas com os próprios materiais encontrados no local, o que dá uma ideia da sujeira em que se encontravam os espaços antes das fotografias serem realizadas. Para compor sua obra, Monteiro juntou os pedaços de um mundo em agonia.

Fabrice Monteiro não é o único artista africano a denunciar a poluição na África. Antes dele, outro artista africano,Pascal Marthine Tayou, nascido na República de Camarões, que hoje vive na Bélgica, elevou o plástico à nobreza de uma instalação. Participou de diversas bienais no mundo e no Brasil, na 25a. Bienal aguçou a curiosidade com a obra feita com casinhas de cachorro, referindo-se aos desabrigados da marginal Tietê.

Olhar Crítico

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As fotos de Fabrice Monteiro colocam em pauta um assunto grave e com poucas soluções práticas. Há décadas, a destinação clandestina do lixo tóxico feita pelos países do primeiro mundo está sendo denunciado, assim como as consequências na saúde das populações que vivem lá. A internet está para provar, considerando a infinidade de matérias tratando do problema. Nada mudou em comparação com o passado colonialista, em que países como a França, Itália, entre outros, dominavam os povos.

Com poética a arte apresenta a realidade do século XXI:  da dimensão em que o fantasma do colonialismo ainda persiste e persegue os confins do terceiro mundo. Hoje, no planeta globalizado o domínio do colonizador está travestido de democracia  sob a bandeira obscura que trêmula em nome da liberdade.

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