Captura/ frame Utopia e Barbárie

“Utopia e Barbárie” ontem, hoje e como será o futuro?

O filme Utopia e Barbárie é uma "história sem ponto final" como afirmou o cineasta Silvio Tendler nesse documentário produzido em 2009.

Hoje atualíssimo com as guerras, principalmente entre Israel e Palestina. 

O cineasta reconstrói o mundo a partir da segunda guerra mundial baseado em sua própria experiência de vida que o fez documentar, coletar imagens e realizar entrevistas com personalidades memoráveis durante quase 20 anos sobre os sonhos e utopias de sua geração, da qual eu também faço parte. Uma geração que tinha como lema  “Paz e Amor” e provocou mudanças no comportamento social nas décadas 60, 70, 80. 

“Utopia e Barbárie” trata exatamente da mudança de modelo tendo como pano de fundo as guerras e sua crueldade a  civis inocentes  em nome de utopias individuais,  por ganância e para aplacar o ego de governos autoritários.  

Pontua importantes fatos que marcaram época como o Holocausto, a Bomba de Hiroshima, Faixa de Gaza, Israel e Palestina, as ditaduras militares da América do Sul,  numa roteiro tão próprio e genial de quem sabe usar o cinema como arte e falar sobre as tragédias humanas com poética e sensibilidade. Na literatura, Mia Couto é mestre no jogo das palavras e seu texto é uma poesia trágica e emocionante em Terra Sonâmbula.

A narrativa de Silvio Tendler nesse documentário toca direto no fundo do coração e te obriga avaliar a humanidade  e o futuro.  Senti vontade de assistir novamente logo após a guerra na Faixa de Gaza e  porque lembrei de declarações visionárias sobre Israel e Palestina .

O filme está disponível gratuitamente no Youtube,  canal do cineasta – Caliban Cinema e Conteúdo, veja aqui o Trailer.

 

Silvio em ação dirigindo Brizola, um novo documentário
“Quando você viveu a pior das humilhações, a vergonha que tem de mais íntimo em você mesma,  é a verdadeira opressão. Você não viverá mais como os outros.  Aos poucos fui investindo na política, porque se não fizesse algo para mudar esse mundo, qual seria o sentido de eu ter escapado?”.  cineasta Marceline Loredan. 

Odocumentário tem cenas inesquecíveis e depoimentos comoventes como da Sra. Wakigwa – sobrevivente da Bomba Atômica, que relata que a imagem que mais chocou a ela: uma mãe embalando um bebê degolado e pedindo água nos escombros depois do bombardeio em Hiroshima. A fala da cineasta Marceline Loredan, sobrevivente do Holocausto, é também emocionante! As duas nos  dão lições de resistência e humanidade.

Tendler  também transita pelas lutas de hoje que são fragmentadas. “Os novos campos da batalha são a internet, as mídias alternativas e os fóruns sociais”.  É claro além das guerras que são lucrativas para quem fabrica armas. (imagem retirada do filme)

 “Somos aquilo que nós lembramos”. 

“Não há liberdade sem conhecimento. Não há paz sem liberdade. Paz e liberdade devem andar juntas!

Um trecho do monólogo do filme israelense Kedma, de 2002, do cineasta Amos Gitai, profetiza para os dias de hoje o que foi dito pelo camponês árabe.

Ouçam bem, permaneceremos aqui como muralhas, apesar de vocês! Lavaremos pratos em bares. Serviremos copos aos senhores esfregaremos o chão das cozinhas para arrancar o pão para os nossos jovens, de suas garras miseráveis! Permaneceremos aqui como muralhas, apesar de vocês! Sentiremos fome, andaremos aos farrapos… Mas nós os desafiaremos.Permaneceremos aqui como muralhas, apesar de vocês! Escreveremos poemas. Nossas passeatas encherão as ruas. Lotaremos as prisões com nosso orgulho! Seremos pais de crianças rebeldes!”

A turma do EGC conseguiu reunir-se presencialmente, em maior número, em 2023. Eu ainda não consegui e muitos outros também.

 Silvio Tendler é renomado documentarista, com mais de 300 filmes em seu currículo de cineasta, entre eles o premiado Jango, que conta a história do golpe militar que resultou na ditadura também chamado “Os anos de chumbo no Brasil”. Muitos de seus memoráveis documentários estão disponíveis gratuitamente para o público em seu canal, no Youtube. Conheci Silvio Tendler  virtualmente  pelo EGC. Um grande amigo admirado por mim e por todos que o rodeiam. Idealizou os Estados Gerais da Cultura – um movimento de artistas, intelectuais e de todos, todas e todes  que foram contra o aniquilamento da cultura realizado durante o governo do inominável. Nosso lema é e será sempre porque continuamos em busca disso  “Com arte, ciência e paciência mudaremos o mundo”. 

Utopia e Barbárie é um filme visionário que deveria ser exibido em todos os espaços comunitários como arte transformadora, igrejas, escolas, empresas, governos, terreiros, para debate, como um alerta, como advertência  sobre os perigos do retrocesso!

Perguntei ao meu amigo Silvio: o mundo gira em ciclos de violência desde os tempos remotos, acredita que poderemos mudar o mundo? 

Querida Mari,
Nos conhecemos nos Estados Gerais da Cultura,
Um grupo que criamos para abraçados virtualmente nos protegermos do Virus e do verme. Das boas coisas que fiz na vida.
Agora em meio a essa guerra insana ( como se fosse possível haver sanidade em alguma guerra, mesmo os que lutam do lado da razão, em algum momento, vivem atos de desrazao levados pela violência da guerra), voltamos a nos encontrar.
Sou um judeu-judeu e gosto do meu estado e a forma de ser mas não aprovo nadinha os maus modos dos dirigentes de Israel.
Nada jamais justificará o ataque de palestinos militantes do Hamas a civis em Israel. São tão canalhas que escolheram como alvo Kibutz onde as pessoas ainda sonham com utopias civilizatórias. São bárbaros merecem ser extipardos da terra sem dó nem piedade. Mas a reação Bárbara das autoridades israelenses foi a pior possível e mais injustificável ainda.
Será que meus mortos serão mais mortos que os teus? A dor de uma mãe palestina é a mesma dor de uma mãe Judia e a Lei do Talião (“olho por olho, dente por dente”) não cabe mais entre nós.
Israel só existirá, se fizer a paz. Nesse ritmo, separa cavando sua sepultura. Não quero ajudar a enterrar uma cultura milenar, minha cultura milenar.
Quero replantar o jardim das oliveiras e recriar um mundo de paz que um dia existiu e voltará a existir.
Mesmo em meio a essa terrível guerra fratricida, continuo um utopista. Com amor Silvio Tendler, cineasta utopista”.

  


 


 

Krenak

É mais que urgente colocar em prática ‘Ideias para adiar o fim do mundo’ de Krenak!

O filósofo indígena, ambientalista e ativista Ailton Krenak nunca perdeu o foco sobre a vida. Mais do que urgente colocar em prática suas "Ideias para adiar o fim do mundo', e salvar o planeta da barbárie humana!

Esse líder indígena foi o primeiro dos povos originários a ser eleito pela Academia Brasileira de Letras e pasmem, neste outubro de 2023, só agora no século XXI. Os povos da floresta, originários  estavam aqui antes, muito antes do colonizador, antes de 1500, mas foi preciso uma pandemia, que quase dizimou totalmente a humanidade,  para que a fala de Krenak fosse mais ouvida sobre a sabedoria ancestral de quem vive diretamente integrado com a nossa mãe, a Terra.  

Já estava em tempo dos imortais da ABL valorizarem as histórias e as letras  dos povos indígenas que no Brasil foram punidos, no passado, de se comunicarem em sua própria língua. Apesar que Krenak, o nome de sua etnia, que significa deitar a cabeça no chão, tocando a terra, já remete à ideia de imortalidade.

A luta de Krenak não é de agora. Em seus 70 anos tem muita história para contar para o mundo. Entre as tantas, a mais comovente delas  foi o  discurso memorável na Assembléia Constituinte, em setembro de 1987, para garantir os direitos aos indígenas na Constituição de 1988. Vale rever o vídeo sobre esse momento histórico (Achei essa maravilha no Youtube como documento).

Ideias para adiar o fim do mundo  é uma adaptação de duas palestras e uma entrevista realizadas em Portugal entre 2017 e 2019 e vendeu já mais de 90 mil cópias e foi traduzido em sete idiomas.  Além desse,  A vida não é útil, o Amanhã não está à venda, Lugar onde a terra descansa, têm assinatura de Krenak, entre outras publicações.

 

 

 

“Nosso tempo é especialista em criar ausências: do sentido de viver em sociedade, do próprio sentido da experiência da vida. Isso gera uma intolerância muito grande com relação a quem ainda é capaz de experimentar o prazer de estar vivo, de dançar, de cantar. E está cheio de pequenas constelações de gente espalhada pelo mundo dança, canta, faz chover. O tipo de humanidade zumbi que estamos sendo convocados a integrar não tolera tanto prazer, tanta fruição de vida. Então pregam o fim do mundo com uma possibilidade fazer a gente desistir dos nossos próprios sonhos. E a minha provocação sobre adiar o fim do mundo é exatamente sempre poder contar mais uma história. Se pudermos fazer isso, estaremos adiando o fim.

Krenak conta, numa entrevista no programa do Bial, que o título do livro foi resultado de uma história irreverente quando foi convidado para dar palestra em Portugal. “Eu estava juntando cisco no quintal e minha mulher me chama da cozinha dizendo que eu deveria repassar a eles o título da palestra”,  relata. Assim, como se não acreditasse que aconteceria o evento e meio que irreverente pensou na frase. “Diga para eles que serão ideias para adiar o fim do mundo”, disse ali varrendo o quintal. Quatro meses depois enviaram a passagem e o convite para expor suas ” Ideias para adiar o fim do mundo”.

Ailton Krenak nasceu na região do vale do rio Doce, onde a natureza foi afetada pela ação industrial do homem para extração dos minérios, infelizmente. “No livro, o líder indígena critica a ideia de humanidade como algo separado da natureza, de uma humanidade que não reconhece que aquele rio que está em coma é também nosso avó”. (parte do resumo da orelha da publicação)

 

A minha admiração pela sabedoria ancestral dos povos indígenas começou  quando realizei, na década de 90, uma exposição com a fotógrafa Fernanda de Castro intitulada a Farmácia da Floresta e visitei, entrevistei, diversos indígenas das etnias Kaigang e Guarani, nas Reservas de Mangueirinha e Ortigueira no Paraná. 

Dali pra frente fiz mais trabalhos com indígenas durante minha permanência na Secretaria do Meio Ambiente do Paraná, do governo Jaime Lerner. Entre eles, a realização vídeos para valorizar a criação dos Centros de Cultura dentro das reservas indígenas do meu estado. 

 Ao grande Ailton Krenak a nossa homenagem! Que suas ideias sejam transportadas pela força do vento para todos os cantos da Terra porque o que ele diz é para comungar em reflexão permanente: ” A água não é um recurso, é uma entidade”.  

Se todos entendessem a profundidade dessa reflexão de Krenak, como um conceito divino não mataríamos nossos rios de uma forma tão leviana e gananciosa.  A água é um ser espiritual, vivo e precioso e dela dependem todos os seres vivos deste planeta! 

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Trastevere une boa cozinha e filantropia na “Trattoria de gli amici”

A Trattoria de gli amici" não é um restaurante comum que somente oferece delícias da cozinha italiana. A diferença é que nele as pessoas que servem às mesas e ajudam na cozinha têm deficiência mental. Onde?

Em Trastevere, o famoso bairro boêmio de Roma, na Itália.

Com certeza, caro leitor, estará se perguntando porque divulgar um projeto de inclusão social de outro país, sobretudo de primeiro mundo, diferente da nossa realidade. Mas a editoria do Pan-horamarte acredita que atitudes boas que fazem bem devem ser divulgadas. 

Talvez exista nesse imenso Brasil projetos semelhantes e gente com boas ideias e coração caridoso, mas foi na Trattoria de gli Amici que  constatei que é possível ousar e acreditar num mundo melhor.

Lembrem-se de o Ocontrato, da amiga Lucia Stall que há 20 anos banca um projeto social sozinha e que já conseguiu transformar a vida de cinco meninos que viviam na rua e hoje são homens casados, pais e com filhos nas escolas. Lucia já é vovó de coração de várias crianças.

 São gotas d’água que fazem a diferença quando se trata de resolver os males da humanidade. Basta criatividade e amor ao próximo. Filantropia (palavra de origem grega) – filos amor, afeição – antropo- humanidade.

Mas voltando ao Trastevere porque vale a pena conhecer a ideia:

Amaneira que achei a Trattoria foi muito interessante e intuitiva. Trastevere é um bairro boêmio de Roma, gostoso de circular sob a luz amarela bruxuleante na iluminação das ruas, suas lojas e restaurantes lotados, burburinho, pleno de pessoas, com filas em restaurantes esperando para degustar as delícias da cozinha italiana. Exatamente, filas em alguns restaurantes que certamente foram indicados por blogueiros pagos na internet. Nunca vi isso desde que visito Roma e andei por lá estudando arte.

Nessa caminhada ziguezagueando pelas ruas, a quase perder-se nas vielas estreitas ladeadas por casarões antigos de cores pasteis no ocre e rosa, o estômago começou a pedir socorro e dar sinais de fome. Pensei comigo: vou entrar naquele restaurante todo iluminado com luzes que colocamos em árvore de Natal. Eis minha surpresa quando cheguei ao garçom pedindo uma mesa. Ele me disse que anotaria meu nome e eu deveria aguardar numa fila imensa. Provavelmente muitos tiveram a mesma ideia e foram atraídos pelos brilhos da porta.

Como detesto filas e acho que quando acontece isso, em caso de consumo, é por histerismo coletivo, fui em busca de um lugar mais tranquilo. Andando um pouco adiante vi a Trattoria como um lugar aparentemente aconchegante, com algumas mesas vazias. Vi na entrada do restaurante uma mulher, que depois a conheci, Sofhie Jansses, que estava coordenando o atendimento dos garçons e acolhendo com sorriso os que chegavam para “cenare” (jantar). Para mim, a conexão estava estabelecida e o convite feito. Entrei e sentei numa mesa vazia e esperei o garçom – jovem sério e compenetrado me atender.  

Aquele ir e vir me deixou intrigada e como Sofhie passou por mim, fiz comentários sobre o local e imediatamente ela começou a contar que era o seu dia de voluntária pela Comunidade de Santo Egídio para administrar o movimento do restaurante. Começou a contar sobre o projeto de inclusão para pessoas com deficiências mentais e como o trabalho era feito. Assista o vídeo acima que está em italiano, mas não é difícil entender o recado de Sofhie.

Olhem só a beleza dessa entrada com ‘bresaola, queijo e tomate seco! E ao final um delicioso Tiramissú.  Curiosa quis saber  mais sobre o projeto e acessei o site Trattoria de gli amici:

” Na amizade com pessoas com deficiência, a comunidade de Sant’Egídio assumiu a necessidade de dar atendimento às dificuldades e expectativas dessas pessoas.

Isso nas diferentes esferas de cada indivíduo em situação vulnerável. Da mesma maneira, a também nossa Cooperativa Pulcinella Lavoro, além da feliz experiência na área de restaurante, com mais de 25 anos de história, ativou cursos de formação e treinamento, sob a confiança de especialistas e técnicos qualificados da indústria hoteleira e restaurantes para treinar 200 pessoas com deficiência, interceptando oportunidades de trabalho contínuas”.

 

Trastevere é um nome derivado do latim, que significa além do Tevere ou Tibre. Isso em relação ao coração da cidade de Roma que era do outro lado do rio. Era um bairro isolado no tempo dos romanos habitado por etruscos, num tempo antiquissimo em idade, depois imigrantes, judeus, sírios. 

Vamos usar aqui uma frase conhecida de todos, “muita gente pequena, fazendo coisas pequenas em lugares pequenos, podem mudar o mundo”.  Concedo-me  a licença poética de alterar a frase e  dizer que não somente em lugares pequenos, mas em todas partes do mundo, se cada um de nós olharmos para o outro com afeto e humanidade será possível construir um mundo melhor.

Matérias relacionadas: Lucia Stall distribuiu afetos e recebeu gratidão       

                                             Fazer o bem que mal tem 

                          

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Marrocos: um povo, uma tragédia

Estava em Fnideq, cidade litorânea ao norte de Marrocos, quando aconteceu o terremoto no sul. O mar Mediterrâneo azul e cristalino terminava na areia branca e a vida seguia seu curso nas praias do norte...

Ao sul, milhares de mortos e comunidades inteiras destruídas, e monumentos de valor histórico inestimável numa das cidades ícones de Marrocos – Marrakech. É assustador o contraponto, de um lado a tragédia e de outro a vida seguindo seu curso, mais assustador é -acompanhar a situação assistindo tudo numa realidade virtual e ao mesmo tempo, estar tão perto da tragédia. 

Dolorosa sensação de incapacidade e medo!

Nesse momento temos a exata noção da impotência diante da fúria da natureza e a impermanência da vida, na qual cada pessoa nesse mundo tem uma trajetória a percorrer para evoluir ou não. Por que? … é sempre a pergunta.

Uma tristeza e constrangimento invadiram o meu coração e por um tempo perdi a motivação para escrever. Tanto vi e muito senti pelo  povo marroquino.  Por isso, decidi colocar aqui o meu olhar  sobre uma cultura, sobretudo de mulher ocidental independente interpretando modos diferentes de vida e tentando entender o papel da mulher em sociedades, cujo sistema é autoritário e rigoroso.

 Apenas rápidas impressões sobre a vida de pessoas que seguem e acreditam numa outra verdade, que interfere em seu comportamento cotidiano.  Marrocos é um país, cuja religião, comida, hábitos são  totalmente diferentes do nosso modo de vida ocidental. Um país com belas paisagens, rico em cultura e que vive em aparente tranquilidade sob o comando de um rei ( todos os estabelecimentos comerciais e públicos  tinham a foto de Moammed VI). Enfim, vamos aos flagrantes que fazem a arte da vida e a vida como arte.

Essa imagem do camelo ou dromedário (não soube definir qual deles era)  e seu guia é a representação de carinho na forma como ele trata o animal. Foi gostoso de ver o prazer do animal saborear os famosos figos da região. Assistam o vídeo e percebam que o olhar do camelo perdia-se no horizonte mastigando a fruta que seu amigo homem colocava em sua boca com a mão, sem receio de que escapasse uma dentada em seus dedos.

 

Não pensem que vivenciei um filme no deserto vendo inúmeros camelos passarem pelas areias quentes ou ruas da cidade. Ali, no norte, um tanto distante do deserto os camelos ( que importa se é camelo ou dromedário) aparecem um ou outro na praia, apenas para fins turísticos. Por uns trocos levar turista interessado na experiência de andar num camelo.

A realidade de fato, era que estávamos a 641 quilômetros de Marrakech, distante do sismo e ali em Fnideq o mar continuava intensamente límpido e turquesa. A ruas arborizadas e tudo muito comportado (para turista ver)  e limpinho num país que é governado por um rei – Moammed VI – pertencente a uma dinastia que tem reinado em Marrocos desde 1666.

Pessoalmente adorei a comida cheia de especiarias, tomilho, cúrcuma, açafrão, etc. 

Além do cuscuz marroquino, os tajines são pratos poderosos que alimentam sem deixar espaço no estômago. As opções de carne são cordeiro, frango, ou peixe, bem cozidos numa panela especial de barro. O que aparece na foto, com batatas fritas, é de frango e as fritas são uma adaptação ocidental. O tradicional é com legumes.

O mais interessante na alimentação deles, é que não usam muito os talheres. Os tajines são praticamente consumidos com as mãos. A família se alimenta com o pão embebido no molho e vai beliscando a carne.

 Os tapetes e utensílios que mostramos na imagem  são do centro de artesanato da Medina Antiga de Tetouan. 

Medinas são um aglomerado de casas e ruelas, partes antigas e históricas, que costumam ser muradas. São verdadeiros labirintos de ruas estreitas e comércio diversificado. 

Entrando na Medina de Tetouan com Helena minha neta

Não se arrisque a andar sem guia nesses locais porque jamais achará o lugar por onde entrou. Apesar disso, uma medina é imperdível e deve ser visitada. Por acaso, mas não tanto, um guia nos abordou e conseguimos fazer o percurso dentro da Medina de Tetouan, é claro, que foi muito rápido e gostaria de retornar sozinha, sem dúvida com GPS. Isso para parar onde sentia vontade e não nos que o guia já tinha acordo. Caso queira arriscar sozinho é fundamental ter um GPS ligado. Não posso garantir que a internet seja funcional onde estive visitando.

ta de praça da cidade nova

A cidade Fnideq faz fronteira com a Espanha e oferece aos turistas europeus belas praias e a possibilidade de chegar a Marrakech numa viagem mais longa. Mas vale permanecer pelas praias do norte de Marrocos, O trajeto de Lisboa passa por AAlgarve, Sevilha, Algeciras- local que se pega o Ferry e atravessa o estreito de Gibraltar para Ceuta, ainda na Espanha e chega a Fnideq. O  famoso e histórico estreito de Gibraltar tem várias companhias que transportam carros e pessoas. Os bilhetes podem ser adquiridos online. 

No passado foi uma importante rota de passagem comercial que ligava a Europa ao Oriente Médio. Antes de qualquer coisa, garanta seu bilhete para o ferry que sairá de Algeciras e prepare-se para pagar em euros carro e pessoas. Importante também fazer um seguro específico para o carro que é solicitado na aduana marroquina. Aliás, inspeção minuciosa na entrada e na saída. Inclusive nas bagagens por parte de Marrocos. Intimida um pouco!

As montanhas que compõem a cidade Gibraltar, vista de longe, parecem a imagem de pessoa deitada sobre o mar  que placidamente permanece olhando para o céu sem se incomodar com o intenso “ir e vir” de navios, ferries que passam ao seu lado.

Como toda área turística, essa região no norte Marrocos é bem cuidada, nas ruas principais, agradável e cheia de casas brancas com detalhes ou azuis ou verdes. Suas sacadas são esplendorosas, espaçosas para saborear ensolarados cafés da manhã ao ar livre. Típicas casas mediterrâneas. Conseguimos alugar uma dessas num condomínio muito legal, num preço mais acessível que nas badaladas praias do Algarve. Tudo online, via aplicativos específicos para aluguéis e turismo.

Fnideq é a primeira cidade marroquina, saindo de Ceuta. As praias são belíssimas e a região oferece opções em outros balneários próximos como Smir, M’Diq, Tetouan. Verdadeiras piscinas de águas transparentes e próprias para mergulho.  Um tanto geladas mas irresistíveis.

Num país como Marrocos é importante falar bem o idioma francês ou inglês. Melhor o francês porque grande parte da população te entenderá e não haverá equívocos nas compras e nos preços. Porém. tudo é muito barato em relação ao euro. Um euro por 10 Dirhan (moeda marroquina).

Essas rápidas impressões foram suficientes para perceber que as diferenças culturais devem ser respeitadas, assim como nós queremos ser acolhidos como visitantes. Marrocos é um país com 37 milhões de habitantes (censo de 2021, informação Google), com visível desigualdade social, liderada por um rei e com a maior parte da população adepta ao islamismo. 

Na sociedade muçulmana não se admite bebidas alcóolicas. Para o turista desavisado é importante alertar que não é vendida bebida alcóolica em bar, restaurante e supermercado. Pelo menos, na região que visitamos de Fnideq até Teutoua. 

De acordo com as leis islâmicas é proibido consumo de álcool em locais públicos. Se for pego estará sujeito a multa e prisão.  

 Os bares  vendem café e chás e são frequentados por homens.. Aliás, o mundo é dos homens em diversos aspectos que vamos abordar em outro artigo.

 Portanto, a cervejinha gelada debaixo do guarda-sol apreciando o mar azul é para outras paragens. Não esqueça disso! Na praia poderá saborear bons sucos de laranja e um delicioso chá quente de hortelã, que os vendedores ambulantes vendem aos banhistas. Um país inteiro não consumir bebida alcoólica é algo incrível pela força de persuasão à população contra a indústria das bebidas! 

Mas sempre haverá um jeitinho…. basta perguntar onde!