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Téofilo dos pássaros e a sua arte quilombola

Pássaros nos remetem ao sentido de liberdade! Um fato que motivou... talvez, o artista paraibano, Sérgio Teófilo escolher pássaros como tema principal em suas obras.

O talvez como sentido de liberdade foi colocado a propósito, sim,  por dedução minha, que uniu a sua ancestralidade afrodescendente à ave e a subjetividade do voo da liberdade que um pássaro nos transmite. Teófilo vive e tem seu ateliê na Comunidade Quilombola Cruz da Menina, no município de Dona Inês, na Paraíba. Um local com muita história. O próprio nome do município, Dona Inês ( uma sinházinha que fugiu com um escravo), já demonstra que os significados são profundos e que atravessam os tempos, assim como Cruz da Menina, ali… naquele canto da Paraíba, interior do nordeste brasileiro.

Os pássaros são esculpidos na madeira deixada pela natureza, de um colorido forte e transmitem uma certa imponência, ou resistência, resiliência.

No entanto, a criatividade do artista voa como seus pássaros. Os animais da caatinga, artefatos de cozinha, como gamelas, pessoas da comunidade e a expressão de sua religiosidade nas imagens sacras estilizadas fazem também parte da sua poética artística. 

A sua tragetória foi de muito, muito empenho e trabalho. Iniciou sua arte na infância produzindo seus próprios brinquedos e sempre gostou de esculpir, seja na madeira ou argila.

Areligiosidade está expressa em suas obras. São traços únicos e genuínos que representam as devoções da comunidade quilombola, na maioria católica, que cumpre os rituais sacros na pequena capela da Cruz Menina.

A madeira que utiliza é a Imburana, árvore nativa da Caatinga. São pedaços achados no campo, que o vento derrubou das árvores. Ele aproveita a base inicial para criar pássaros e animais e obras estilizadas.

Na Capela Cruz da Menina o padre reza missa para comunidade. É um Brasil religioso e de sentimento coletivo que ainda resiste numa sociedade individualista. O sonho das pessoas da comunidade é de construir um santuário no local porque o nome é inspirado numa história que ocorreu ali, segundo contam os moradores, lá pelos idos de 1800. Uma família de retirantes, com uma filhinha chamada Dulce, passou pela região e solicitou a um fazendeiro água e comida, para menina que estava debilitada. O homem malvado negou a ajuda a estranhos sem dó e piedade, e a família seguiu seu caminho com fome e sede. Exatamente no local, onde hoje existe a capela, a menina Dulce não resistiu e faleceu e ali foi enterrada.

” Os pais seguiram em frente, carregando sua dor. Atrás ficou a cruz, Que na cova fixou, Amarrada com cipó, A madeira Mororó, Foi tudo que restou.

Mas a história se espalhou, Ascendendo uma luz, O povo da redondeza, Foi visitar a cruz, E fazendo seu pedido, Logo foi atendido, O milagre ali conduz”.  trecho dos versos A Cruz da Menina, de Mariano Ferreira da Costa.

Agora dá para o leitor entender como a comunidade que  Sérgio Teófilo vive,  é plena de significados de valores morais e familiar. Mãe, pai, tios, primos vivem vizinhos um do outro, de forma simples, porém repleta de calor humano. Um Brasil que não mais se encontra nas cidades grandes e conserva o hábito de colocar as cadeiras nas calçadas e deixar o tempo passar devagarinho entre uma prosa e outra.

Sérgio Teófilo trabalha em seu ateliê, no quintal de sua casa, das 5:00 às 17h, cinco dias por semana. Mas, como seus pássaros, alcança voos e leva  sua arte para feiras e festivais.

O local de inspiração é sua região, entre os barulhos dos pássaros e a natureza. No entanto, essa inquietude do artista na busca pelo voo da liberdade já o conduziu a Paris, onde este ano participou do evento Brasil e França.

Aarte de Sérgio Teófilo nos leva ao encontro de um Brasil genuíno que deve ser preservado na sua cultura e arte! 

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