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Cuidado com o ‘dedo podre’! Bienal de Veneza

Um dedo com a ponta escurecida apertando uma tecla é obra de Jonathas de Andrade, no pavilhão do Brasil, na Bienal de Veneza. Mas a recomendação é nossa com o alerta: sem 'dedo podre' desta vez. Faltam poucos dias #lulapresidente.

Vamos fazer brilhar de novo a estrela sem medo de ser feliz e valorizar nossa cultura e arte. Nossa esperança!

Que me perdoe o artista alagoano por expor minha posição política pessoal por meio de sua arte. Dedo podre, coração saindo pela boca, bunda mole, costas quente, entre outras expressões populares brasileiras foram transformadas em imagens e são instalações no pavilhão do Brasil, na Bienal das Artes, em Veneza.

Ao percorrer as duas salas, na visita que fiz a bienal num agosto quente da Europa, me deparei com o  ‘dedo podre’ apertando a tecla verde da urna eletrônica, de papelão, de cores estouradas, com pontos em pixel, olhei ao redor e vi mais frases e mais  instalações, confesso que pela primeira vez em todos esses anos de visita a bienais, a sinergia foi intensa com as obras apresentadas no pavilhão do Brasil. A cumplicidade foi instantânea e ali em território europeu me  senti muito brasileira, me diverti e me envolvi ao mesmo tempo com o potente conteúdo social e político de todo o projeto. 

Arte é isso. É conexão com os nossos sentidos e Jonathas Andrade foi admirável em sua poética.

Para os europeus certamente divertido e bizarro, mas para nós brasileiros, tenho certeza, é  de se sentir parte pelas inúmeras informações inseridas por de trás daquelas simples figuras de papelão expressando nossa fala. 

Os nossos ditos populares se fixam no corpo para expressar algo. 

É um Brasil aos pedaços, que “passa inevitavelmente pelo corpo de quem vive na pele, na carne cotidianamente as dificuldades, as violências, as injustiças que se repetem ano após ano, década após década”, como faz referência o texto da curadoria assinado pelo curador  Jacopo Crivelli Visc

Para quem defende a cultura como um bem maior de um povo, senti o ‘coração saindo pela boca’ literalmente ao ver a  instalação e lembrar  da possibilidade de o país continuar sendo dirigido por alguém que defende o uso de armas e aniquilou o Ministério da Cultura.

Também me deixa com o ‘coração na mão’ ao escutar uma frase que seria somente ridícula se não fosse tão perigosa pela carga de preconceito e machismo que carrega em si. O absurdo de  numa celebração de independência, uma celebração que enaltece a liberdade de vida e ação, o presidente de um país se dar o direito de rotular o fato de que nenhum homem solteiro é feliz e ao mesmo tempo sugere a ele que se case com uma princesa como a dele. (Na verdade, tentando validar publicamente sua masculinidade). 

Em tempos que o chapeuzinho vermelho não tem mais medo do lobo mau e o enfrenta( pelo menos é essa minha versão ao repassar a história às minhas netas) é incrível que alguém em tão alto cargo possa dizer tanta asneira numa frase só e resgatar a imagem arcaica da mulher, a princesa, para sugerir  uma estrutura familiar perfeita.

Para quem ofende e insulta mulheres, jornalistas, assim como algumas mulheres na política, sem pudores, já podem imaginar o seu conceito de princesa…..

.”Costas Quentes” é interativa e se você toca na escultura ela é quente. ” Ter costas quentes é garantia de impunidade. Ela tem costas quentes o pai dela é prefeito…” Assim Jonathas vai explicando aos observadores os significados.

Um olho no peixe e outro no gato. Significa que uma situação requer extrema atenção diante dos perigos constantes e imaginários que existem por todos os lados. ‘E bom não se descuidar porque corre o risco de perder tudo. 

Em bunda mole o visitante é convidado a sentar ou pegar na escultura. Então está bastante avariada rsss… “O bunda mole mal sai do seu lugar, tem as mãos suadas e é teimoso feito uma criança mimada. Só se interessa pelo que vai ganhar e mesmo assim não sai de sua apatia”.

“Tiro no pé é votar num candidato de quem não se gosta com um único objetivo de derrubar o outro é uma péssima ideia. Quase sempre leva a uma situação bem pior do que a anterior. 

As paredes têm ouvidos. Estamos sendo vigiados o tempo todo. Não se pode cometer o erro de que tem algum lugar seguro., pois sempre tem alguém espiando. As paredes têm ouvidos.. 

As instalações expostas nas duas salas do pavilhão confundem-se com a sobriedade da arquitetura em linhas retas, assinada por Henrique Midlin e dão tom divertido e até alegórico, como um tema carnavalesco. Sem esquecer, é claro, que a desigualdade social ainda entra ‘por um ouvido e sai por outro’ e não é prioridade em programas de governo. Isso nos deixa com um “nó na garganta”.  Também o título do vídeo realizado pelo artista que mostra um jovem deparando-se com uma serpente e que é exibido ininterruptamente no pavilhão. 

 

‘Carrega o mundo nas costas’ significa quem faz tudo e tenta resolver todas as questões e acaba carregando o mundo nas costas. O observador é convidado a interagir e tentar carregar a escultura exposta.

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