Cauê é Tupi e saudação. Salve!
Salvem a Serra da Moeda dos mineradores ecoam os artistas e moradores com suas armas em punho (música e poesia) no I Festival de Arte e Cultura.
Isso porque em português salve é também socorro.
Enquanto alguns querem dissecá-la e retirar tudo que vive e pulsa dentro dela, pela ganância, a arte fala mais alto e mostra que a riqueza é bem maior quando se conhece a história, descobre-se crendices, benzimentos e se enleva com os músicos, poetas e cantores do local. O Festival foi idealizado para isso, mostrar o que existe de mais genuíno e inestimável na região.
A cantautora Sol Bueno, artista e moradora, integrante do Coletivo Cauê, conta que o Festival começou a nascer a partir de um mapeamento cultural há mais de dois anos pelo Coletivo e só transformou-se em realidade com o apoio da Lei Aldir Blanc.
Ela quer que o grito de rebeldia de quem ama aquele lugar ecoe por todo o Brasil e em uníssono seja possível conter a destruição. ” Eu moro na única cidade não minerada do quadrilátero ferrífero e isso tem uma carga simbólica muito forte de resistência. É luta o tempo todo!…”, conta Sol.
Ironicamente a Serra da Moeda tem em sua história a prova que a corrupção no Brasil vem de tempos remotos e foi trazida pelo homem branco. Divino Pedro, que tem origens na comunidade centenária de São Caetano da Moeda Velha, apresenta no Festival a história da casa clandestina de fundição de moeda. A casa está lá, isto é, as ruínas. Segundo ele, a história veio à tona porque os dois fazendeiros que faziam moedas clandestinas e burlavam a lei brigaram e um denunciou o outro. Veja o depoimento no vídeo do nono dia.
“A Serra da Moeda situa-se ao sul da Região Metropolitana de Belo Horizonte e integrante do quadrilátero ferrífero, é uma das mais belas e importantes formações geológicas do Brasil, com altitudes que ultrapassam os 1.600 m. Se estende no sentido norte-sul por mais de 50 Km, incluindo territórios de oito municípios. O lugar é bastante visitado por turistas, atraídos pelas suas paisagens deslumbrantes, cachoeiras e comunidades centenárias, onde se desfruta de uma boa gastronomia junto a um povo acolhedor que ainda conserva modos de vida que remontam às origens de Minas Gerais.
O nome do festival faz menção e destaca o Aquífero Cauê, responsável por alimentar o coração da montanha, e com ela a cultura e a alma das pessoas. Essa região vem sofrendo impactos ambientais e constantes tentativas de avanço da atividade minerária, e o festival vem apresentar uma diversidade de riquezas que vão muito além de minério de ferro.”Fonte: Coletivo Cauê
Essa riqueza cultural se expressa nos cantos, depoimentos e imagens que foram registrados ao longo de meses, e revelam muita expressão de vida que está intimamente conectada à terra onde existe. As entrevistas trazem desde manifestações tradicionais da cultura popular, como mestres de folia de reis e benzedeiras, como também expressões mais urbanas, como o universo hip hop.
Dona Rita (foto) é cantadeira e benzedeira de Belo Vale, MG. Quilombo. Conta causos que faz a gente sentar horas e horas numa boa prosa numa roda de conversa. O depoimento está no vídeo dois do Festival.
A ação mineradora tem destruído toda a região e está comprometendo toda a vida e o patrimônio material, sobretudo as comunidades quilombolas do entorno, que tiravam o sustento das águas do Rio Paraopeba. “Hoje o rio sangra”, denuncia Gloria Maia, historiadora e fotógrafa, além de presidente do Instituto XXI, correalizador do Festival.
O Festival é totalmente online e pode ser assistido no Canal do Coletivo Cauê. Quem assiste não consegue ficar em um só vídeo. Um projeto muito interessante que nos dá oportunidade de viver um pouquinho a vida daquela gente.
É um Brasil amoroso que espalha afetividade pela arte, pela música, pelos causos e singeleza. O Brasil genuíno que fala de flores e amores e não de armas. Um Brasil que não usa o nome de Deus em vão e sabe que ele está presente na água cristalina, no verde das matas e no afeto entre as pessoas.
Acesse o canal leitor, que não irá se arrepender. Terá oportunidade de conhecer muita gente simpática, como Amanda Gabriela e Vania dos Reis (mãe e filha) ambas fazem parte da Guarda de Moçambique, de Nossa Senhora do Rosário de Brumadinho. Elas cantam e encantam sobretudo quando falam sobre as raízes afro e de seu artesanato. Grandes costureiras exímias na confecção de um belo ‘fuxico’.
O recorte do Festival foi contemplar moradores da Serra da Moeda e principalmente mulheres. Portanto, o Festival é um exemplo de emponderamento feminino, do negro e indígenas. Nas expressões culturais predominam manifestações rurais, periféricas e quilombolas.
Aldo Bibiano é Capitão da Guarda de Moçambique, de Nossa do Rosário de Brumadinho e presidente do Conselho de Promoção da Igualdade Racial. Para conhecer um pouco mais dele é só assistir o primeiro vídeo do Festival.
“Não troque sua loucura por uma simples lucidez, aparente, envolvente, sutil, (..) Se algum dia a solidão bater em sua porta, abrace o tempo, abrace o vento(…). Não sou poeta e sim poéter diz Láercio Vilar, do Quilombo do Taquaruçu, baterista há quase 60 anos. Seu depoimento está presente no vídeo do dia 3.
“Assim, é no abraço e na conexão da natureza inteira deste lugar que nascem todas as expressões do Festival: ao todo, são 10 episódios, lançados na Internet, um a cada semana à partir do seu lançamento, nos meses de agosto, setembro e outubro, todos na página do Coletivo Cauê, no Youtube. Que Cauê, que em tupi significa gavião, como também uma forma de saudação – um salve – possa saudar, salvar, abraçar e apresentar caminhos de “bem viver” em suas águas criativas!”.
Salve Sol Bueno e seus amigos!
Vale lembrar que o décimo episódio do Festival será apresentado neste sábado (23/10), a partir das 18 horas, e ficará disponível para o público no canal. Não deixem de assistir e certificar-se que a garimpagem do Coletivo Cauê foi fantástica, mostrou o brilho de figuras humanas preciosas e repletas de ternura e sensibilidade. Não deixem mesmo de assistir que irão renovar a esperança no ser humano nesses tempos tão sombrios.
Vamos nos juntar a eles e potencializar esse grito: Salvem a Serra da Moeda!
*Todas as fotos foram cedidas pelo Coletivo Cauê.