Aconchegue-se à Casa de Marília! Aproveite o convite e acompanhe a poética da artista sobre esse espaço tão vivenciado por nós durante a pandemia.
Casa (clique aqui e conheça) é uma mostra de arte criada a partir de objetos em cerâmica feitos pela artista, escritora e educadora paranaense Marília Diaz, aberta ao público até domingo (31), na Galeria virtual da Maré. A galeria é um projeto de Clauba Mendonça e André Serafim, dois jovens que uniram os recursos tecnológicos com a paixão pela arte.
Múltipla artista, Marília (poeta, escritora, artista visual) soube explorar em sua obra, idealizada a partir de uma instalação de mesa, em cerâmica e rocha ígnea em decomposição, perturbadores significados desse espaço tão nosso que é a Casa, sobretudo o que representou no período do isolamento obrigatório.
Acolhimento, aconchego, vivências cotidianas, lugar sagrado, paz, alegria ou espaço do desassossego, intolerável…..
A pequena casa de cerâmica ( 46X24X24) agiganta-se na medida em que nos faz aprofundar em seu conceito, intensificado, obviamente, pela narração da artista no vídeo.
É por intermédio dessa meditação poética que vasculhamos nossa memória afetiva e a reinterpretamos ou melhor damos sentido ao que é para nós a casa, o lar, a morada, a permanência, enfim o que é e foi esse espaço tão habitado obrigatoriamente durante meses ininterruptos de pandemia
“A exposição Casa emergiu da necessidade do estar limitado a esse espaço durante a pandemia. Enquanto muitas das pessoas que eu convivo entraram em processo de depressão por não saírem, eu fiz o oposto: aproveitei para organizar muitas coisas. Ganhei prêmios com reflexões sobre a pandemia, participei de lives, fiz um site, realizei três exposições virtuais, lancei quatro livros. Me mantive muito produtiva. Como diz a minha amiga Lourdes Atié, grande educadora do Sesc: “é preciso segurar o céu e atravessar o deserto”, parafraseando um pensamento indígena.
Podia escolher ficar deprimida e reclamar, mas busquei ter uma visão crítica e estar antenada com as coisas. Li bastante nesse período……”
Marilia confessa que foi durante período de isolamento que teve a inspiração de escrever um livro sobre a sua história como artista. Uma iniciativa que resgatou a arqueologia familiar. “Isso me deu muito prazer, mas ao mesmo tempo, me deu muito trabalho”.
A inquietude não cessou mesmo limitada pelas rotinas diárias de um isolamento, principalmente o de mulher dentro de uma casa. Sem pudores e problemas, conta com certa determinação e orgulho que preencheu muito bem o seu tempo nesses dois anos. “Cuidei de minha mãe, do meu marido, cozinhei, orei e trabalhei. A casa, portanto, nasce dentro desse contexto”.
Uma instalação feita fora de seu ateliê localizado em Curitiba. Devido a pandemia foi necessário ficar perto de sua mãe no interior do Paraná. Mesmo assim o resultado da obra foi aquilo que exatamente ela buscava.
Uma certa monotonia na paisagem. Perfeito. “Era o que eu queria como obra, Casa assemelhada ao branco, um pouco suja, com várias paisagens monótonas”, define ela. “Uma visão muito feminina dessa introspectiva e desse tempo que estivemos dentro da casa”
Com ideias fervilhando na mente e novos projetos, Marilia confessa que não é apaixonada pela tecnologia. No entanto, como professora universitária tem o entendimento da importância do seu uso e vai buscar apoio de quem sabe. A mostra Casa é prova dessa conexão que ela faz com a atualidade.
Com um currículo fora do comum, para essa professora, artista e escritora, uma página seria pouco para apresentá-la ao leitor. Como diz ela “tenho 66 anos e já fiz muita coisa nesse percurso”.
Na sua vida profissional transitou em todas as frentes – artes visuais, pesquisa, educação, trabalhos de cunho social, todas vinculadas a arte como meio de transformação.
Vale visitar o seu site e conhecer Marília Diaz um pouco mais
“Sou artista visual e já participei de exposições individuais, em dupla e coletivas. Me expresso principalmente por meio da argila e do bordado e discorro sobre o feminino e questões que perpassam a vida das mulheres. Tenho predileção por vasculhar, escavar arcadas, mercados populares e bazares em busca de objetos insólitos.
Conquistei pessoas que me habitam. Na Comunidade do Pinto, construí a primeira Ludoteca do Paraná, ajudei a erigir um atelier de cerâmica a partir de ruínas, congreguei 1.500 alunos e professores a construírem um mural de cerâmica em uma Escola Pública. Convidei e seduzi 84 artistas a fazerem um jardim com flores brancas em cerâmica e 86 a edificarem cadeiras com o mesmo objetivo, nos jardins de um dos museus mais importantes de Curitiba e da América Latina. Vi o homem pisar na lua, a quebra do muro de Berlim e atravesso o tempo da peste. Recontar a própria história é corporificar narrativas, trazer luz aos meus trajetos, assenhorear-me de mim mesma”. Fonte site da artista.
Fotos da Casa: Rodrigo Ramirez
O artista sempre visionário testemunha seu tempo. Aflora a sensibilidade do observador e o estimula a pensar, reagir, transformar. O isolamento social, consequência da pandemia, produziu ‘Casa’ de Marília Diaz. Uma poética individual que representa o coletivo. Uma humanidade em espera que espia o mundo pela janela aberta….