MESTREEEEEEE!
É desse jeito…. meu pai cumprimenta as pessoas quando cruza com elas pelas ruas.
E nem precisa ser algum conhecido, ele levanta a mão direita e, em voz alta, vai cumprimentando todo mundo que vê pela frente… é sempre assim.
Certa vez, meu velho precisou levar umas toras de madeiras pelo rio. Como ele gosta de fazer umas engenhocas, supercriativo que é (meus amigos o chamavam de Professor Pardal!), amarrou as madeiras umas às outras e fez uma jangada pra melhor transportar as toras. Acho até que eu ajudei a amarrar as individa! Ãhrrammmm!
Já era de tardezinha, começando a escurecer, quando ele saiu em cima da jangada remando rio a dentro. E lá se foi, sozinho, o danadinho.
A noite chegou e, lá pelas tantas, ele viu dois pescadores concentrados, desmalhando peixes na beira do rio. Como ele cumprimenta todo mundo, disse logo seu bordão:
– MESTREEEEEEEEEEE! Gritando assim mesmo. Ele é exagerado e acinteiro* quando quer.
Mais que depressa, os pescadores saíram correndo (pére aí que tô rindo escrevendo isso, gente!)
O meu pai é maravilhoso, é a pessoa mais bem-humorada do mundo! Herdei dele o bom humor.
Ai, gente!
Só sei dizer que, passados alguns dias, espalhou-se pela região a história de que dois pescadores tinham visto Jesus Cristo andando em cima do rio…
E não é que era meu pai, lindo de tudo, em cima de sua jangada?! kkkkkkkkkkkkkkkkk
Pai, meu querido!
Eu amo você, meu MESTREEEEEEEEE!
Ao meu pai, o Sr. Flávio da Silva.
* acinteiro = que fica atentando os outros.
VISITA NA CASA DE MEU PAI
Querem passar um final de semana lá em casa, em Iguape?
Pode ser a pessoa que for, pode ser o Papa! Ela não irá embora sem ouvir…
E vocês me perguntam:
– O quê?
– Calma, nhonhôôô! Eu vou contar.
Meu pai, o Sr. Flávio, dorme cedo e acorda cedo também.
Não, não, não!
Não é somente porque ele quer, não!
É pra atentar mesmo, isso sim! E com o maior prazer!
– Deuso livre, minha gente!
Ele deixa a filharada, com noras, genros e netos, ficar até tarde na corrimaça*… e não fala nada.
De manhã, o pai de todos se vinga.
Lá pelas 6h30, 7h, esse anjo tem o maior prazer de acordar e ligar o motor da canoa, naquele barril cheio d’água, sabe?
BRRRROOOUUUMMMM
BRRRROOOUUUMMMM
Ele liga esse motor com tanto amor!
E ainda por cima dá umas pauladas no motor e Diz que tá arrumando. Hunf!
– E tem de ser de madrugada, pai?
– Tem sim, lote**!
– Poxa vida, pai!
– Acoooorda, cambada!
Sem contar no valente cheiro de gasolina que se alastra. Pense!
Faz anos que o danado do motor só serve pra nos acordar, ultrapassando os 75 decibéis permitido pelas autoridades competentes.
Dá vontade de denunciar, sério!
Na base de susto, acordamos!
A gente até tenta voltar a dormir, mas e dá? Ãh, ãh, ãh?!
E dêle barulho de motor, risos, berros e terríveis palavrões:
– EITA, PORRRRAAA! ACORRRRDA, LOTEEE!
Mesmo com poucas horas de sono, a gente se rende aos encantos do Sr. Flávio! E vamos tomar nosso bom café da manhã em família!
Eita que, relendo, não é que me emocionei aqui?! Desde que começou a pandemia, não consegui ver meus amados pais. Mas, com a graça do Senhor Bom Jesus, estamos todos aqui e já, já vamos nos ver!
O motor, na verdade, não existe mais, cansou de ser consertado.
E o maravilhoso sempre diz que quer um novo motor velho de presente… Mainga do céu!
* corrimaça = fervo, festerê com muita gente.
** lote = bando.
Com essas duas histórias homenageamos todos os pais do mundo. As doces lembranças são aconchego para vida e alimento para alma.