A cultura de um povo deve estar na base do projeto educativo. Essa foi a 'sacada de mestre' de Paulo Freire. Aliás, um grande mestre!
Se voltarmos no tempo para descobrirmos a origem da palavra cultura e do verbo educar vamos entender essa grande ‘sacada’ . Todas as duas derivam do latim e a primeira era originalmente colere, colher, a segunda educare, educere, trazer para fora, elevar-se (Devoto- Oli).
Colher, envolver, abarcar experiências do indivíduo, de um grupo social, para, a partir daí trazer para fora, aprimorar esse conhecimento. A viagem teórica pertence a autora desse artigo. São deduções minhas, porém com lógica.
Mas seguindo o raciocínio: uma pessoa representa o seu meio, nos diferentes usos e costumes e a partir do momento que consegue significar e interpretar aquilo que vive ( trazer para fora), tem condições de transformar o que é preciso ou valorizar o seu meio, dependendo da situação.
No entanto, o mais fantástico disso tudo é que a transliteração condensou algo que precisa ser entendido no processo de educação e no geral não o é. A educação popular trouxe o assunto para o debate e é aí que entra Paulo Freire com a experiência de Angicos, um projeto que alfabetizou camponeses em 40 horas.
As quarenta horas de Angico, no Rio Grande do Norte, tornaram-se emblemáticas e ganharam espaço e visibilidade nacional e internacional por alfabetizarem adultos em pouco tempo, inseridos dentro do seu próprio contexto social.
“Quanto mais o homem refletir sobre a realidade, sobre a sua situação concreta, mais emerge plenamente consciente, comprometido, pronto a intervir na realidade para mudá-la.”, Paulo Freire.
Por que estou falando em cultura, educação e Paulo Freire?
“Acima de tudo porque Paulo Freire pensou educação como cultura e cultura como ação política”,
Outros motivos que vale citar. Um deles, é pela celebração este ano – 2021, do centenário de nascimento de Paulo Freire. Outro é devido um encontro muito produtivo em conhecimento sobre educação popular com Carlos Rodrigues Brandão, realizado pelos Estados Gerais da Cultura, Paulo Freire, Tantos Anos Depois, com momentos preciosos em conteúdo histórico.
Brandão é expert em educação popular e foi um grande amigo de Paulo Freire, além de professor, antropólogo e antes de tudo um grande poeta-escritor. Suas palavras, em quase todas as publicações que assina, são repletas de afetividade e plenas de poesias mesmo não se configurando como poemas. Vale a pena ler e aproveitar a disponibilidade em seu site Partilha da Vida
A foto que ilustra o início da matéria foi retirada da publicação Benedito e Jovelina – O Movimento de Educação de Base e As Escolas Radiofônicas, no qual Brandão escreve sobre o método de alfabetização para adultos, com detalhes muito interessantes.
Qual Paulo? Que educação? Um texto de 36 páginas com memórias sobre Paulo Freire e também reflexões de sua própria trajetória (Brandão) e como chegou à educação popular.
“Na fotografia estamos em Managua, na Nicarágua, em um evento internacional de apoio à Revolução Sandinista. Paulo Freire está entre jovens (é em 1982) que vieram a recriar com ele o que veio a ser a Educação Popular. O que está sentado e humildemente olha para o chão (talvez prestando atenção em alguma formiga passageira), sou eu”, Brandão.
“Assim era esse homem de quem, se eu ousasse (e eu vou ousar) sintetizar tudo o que ele disse e escreveu sobre o povo e a vocação de quem dialoga para educar, eu escreveria isto:”
Viver a sua vida
Criar o seu destino
Aprender o seu saber
Partilhar o que aprende
Pensar o que sabe
Dizer a sua palavra
Saber transformar-se
Unir-se aos seus outros
Transformar o seu mundo
Escrever a sua história
Se for pensar em alguém que tem muitas histórias para contar sobre Paulo Freire, certamente o antropólogo e professor, Carlos Rodrigues Brandão, será o primeiro a ser lembrado por sua incrível capacidade de produção e por ter vivido inesquecíveis momentos com Freire, entre sonhos e utopias para construir um mundo melhor.
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