Galinhos é um daqueles lugares em que é possível passar horas em pura contemplação, tal é a beleza do estuário do Rio Pisa Sal, no Rio Grande do Norte. A região parece intocável. Mas não é!
De quem são gigantescas montanhas de sal e também as grandes torres eólicas fincadas nas dunas desafiando o vento naquelas paragens? Um pouco quixotescas….
Ninguém responde certo. É como se perguntassem algo fora do contexto. Os guias turísticos repetem como se fosse uma lição decorada que o Rio Grande do Norte é o maior produtor de sal marinho do Brasil e que a velocidade dos ventos em Galinhos favorece a captação de energia eólica.
Nenhuma placa de referência dos projetos, nenhuma informação sobre as salinas em placas explicativas. Nada.
Curiosidade
Ser jornalista não é fácil. A curiosidade sempre aguça demais os sentidos e as perguntas aparecem atropelando os pensamentos, mesmo num tour descontraído. Já visitei Galinhos por três vezes em passeios turísticos de ida e volta, saindo de Natal.
As montanhas de sal vistas de longe, por exemplo, pouco se sabe delas. Apenas que é um grupo chileno que explora, dizem os moradores. Pelo que se presume, os habitantes não trabalham na empresa. A única informação obtida para alimentar a minha curiosidade, foi uma pequena placa provisória, de orientação escrita Salinas Diamante Branco.
Em pesquisa na internet descobri que é um grupo chileno, mas associada a um grupo muito maior, K+S. Estranho que uma empresa desse porte não especifique suas funções e delimite o território.
Os turistas apenas podem avistar de longe, tirar algumas fotos e nada mais. Aí o guia diz: nossas riquezas….
Na verdade, não senti a soberania que a guia tentava orgulhosamente convencer a nós turistas. Será ainda nosso?
Energia eólica
Torres eólicas construídas à revelia do povo. Houve um movimento contra por ser o local área de preservação. “Eólicas sim, mas não nas dunas de Galinhos”. A comunidade abraçou as dunas e não adiantou nada. O Instituto de Desenvolvimento SUSTENTÁVEL e Meio Ambiente do Estado do RN (IDEMA), fez o papel de advogado dos empreendedores e não um defensor ambiental. Não escutou o povo.
“Não adianta a gente lutar, não somos ouvidos”, disse timidamente um dos barqueiros. “A maioria das terras aqui é do governador”.
Xeque-mate!
Nasceu em berço de ouro
Mais um pouco de paciência na pesquisa descobri que o governador Robson Faria, ‘nasceu em berço de ouro’ e ‘é dono da metade do município de Galinhos’. Isso dito pela mulher dele defendendo-o das acusações que o colocaram na “lista de Fachin”, no esquema da Lava-Jato. Confira na matéria aqui
Culpado ou inocente na Lava-Jato não é nosso papel julgar.
Citar o fato é para mostrar como funciona o Brasil e encerrar o jogo. Certamente que o xeque-mate será sempre de quem atua no extrativismo.
Galinhos
Agora voltamos a Galinhos. A originalidade do passeio vale o percurso de Van por 180 quilômetros até chegar às margens do rio-mar. A travessia dá boas fotos inspiradas nos mangues e nas intrigantes nuvens de pé que em certos dias cobrem aquele céu.
Quando a embarcação encosta no trapiche da pequena cidade, os charreteiros já se aprumam para ganhar seu trocos e levar os turistas a passear de charrete até a ponta do farol, no outro lado da península. Custa 15 reais por pessoa o passeio. De trotar em trotar o menino que guia a charrete sempre está preparado para garantir que o cavalo não faça cocô na rua. “Cheira mal e dá uma aparência terrível a cidade”, diz o menino.
Como? Na hora que o cavalo levanta o rabo é colocado uma lata que recebe o cocô. No percurso é despejado em latões espalhados pela cidade. Galinhos tem ruas limpas e casinhas coloridas. Mais parece uma cidade de bonecas.
Isso sem falar no por do sol na praia do Farol. Magnífico!
Galinhos é singela e encanta pela simplicidade de seu povo, mas minha curiosidade ainda não está satisfeita. Por que…
Uma empresa do porte da K+S naquela região não contribuiu para melhorar a qualidade de vida da população local? Afinal exploram nossas riquezas e o que o povo ganha com isso. O parque eólico já está operando? A transmissão como está sendo feita? Sabemos que o custo de instalação de uma torre é absurdamente caro.
Cadê a geração de empregos, construção de escolas, hospitais….
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