Um pequeno consolo pela destruição de 5 Pointz, a ‘Meca do Grafite’, em Nova York, é a decisão judicial que obriga um empresário do setor imobiliário pagar 6,7 milhões de dólares a 21 artistas. Acima de toda a questão econômica, fortalece a arte urbana ( grafit, street art) no mundo. Se a ‘moda pega’ João Dória, em São Paulo, que se cuide!
A decisão do juiz americano Frederic Block, foi divulgada há poucos dias pelos principais jornais de Nova York, nydailynews, e repercutiu internacionalmente.
Há alguns anos atrás, quem pegava a linha 7 do metrô de Nova York, em direção Queens, depois de atravessar East River e perto PS1, poderia ver o velho edifício completamente grafitado, colorido em sua imponência criativa.
5 Pointz era um dos poucos remanescentes das gloriosas décadas em que surgiram os grafites, 70 e 80.
Progresso avança
Como nos Estados Unidos o progresso avança sempre, assim como no Brasil e em diversos países ditos ‘civilizados’, não foi possível salvar a obra de arte. Em 2013, o empreendedor Gerald Wolfkoff, encontrou no local a inspiração ideal para fazer um espaço residencial de luxo e num impulso, antes de receber as licenças para derrubar o edifício, pintou de branco alguns grafites. Sua atitude foi em resposta aos movimentos contra a realização da obra.
Um grande erro.
“Se não fosse pela insolência de Wolkoff, esses danos não teriam sido avaliados”, escreveu o juiz na sentença. “Se ele não destruísse 5 Pointz até receber suas licenças em 10 meses depois, o Tribunal não teria descoberto que ele havia agido deliberadamente”.
Por essa ânsia de ganhar, se atropelando nas decisões, Wolfkoff pagará 6,7 milhões de dólares. Na sentença ele descreve que: “A vergonha deste episódio é que, como 5 Pointz era uma atração turística acima de tudo, o público estaria em peso para despedir-se da obra durante esses 10 meses, olhando para os trabalhos pela última vez”, descreve e ainda acrescenta, “teria sido um maravilhoso tributo aos artistas”.
Dignidade
O juiz também observou que os artistas, ao contrário de Wolkoff, comportaram-se com dignidade, enquanto os advogados do empreendedor alegaram sem sucesso que os artistas sabiam há anos que sua obra seria demolida.
Os artistas processaram o empreendimento com base no Visual Artists Rights Act, uma lei de 1990 que protege obras de arte de “estatura reconhecida”.
Um pouco da história da street art
O que chamamos hoje de street art, grafite ou arte urbana, começou no final dos anos 60 na Filadéfia, Pensilvânia, com Cornbread e Cool Earl. Mas foi TAKI 183 quem ganhou fama. A marca foi criada por um adolescente grego que vivia em Nova York e 183 é o número da rua onde ele morava.
Seu nome na realidade era Demetrius, que em 1971 deu entrevista ao The New York Times por ter escrito sua marca em quase todos os lugares durante horas de trabalho como um mensageiro na cidade. O movimento começou a aparecer em edifícios, caixas de correio, telefones públicos, túneis subterrâneos, ônibus e metrôs.Fonte:speerstra
A sentença do juiz americano é um antídoto contra a ação avassaladora da especulação imobiliária no mundo capitalista, que em nome do progresso, do desenvolvimento, destrói monumentos e a memória de um povo. Em Curitiba, no Paraná, um exemplo recente foi a demolição da antiga fábrica de mate no centro da cidade, para dar lugar a um templo religioso, com uma arquitetura de mau-gosto.