Uma arbusto tremulava sobre a água de um pequeno canal, numa das vielas impregnadas de história, em Veneza, na Itália. O efeito da luz e sombra refletindo sobre a planta na água criava uma composição fora do comum. Imediatamente parei, fotografei, filmei o que o meu olhar interpretou. A palheta de um pintor misturando algumas matizes do verde e do dourado.
A diferença era que a natureza fazia o papel do artista na criação de uma obra de arte instantânea. Mostrei a foto para outras pessoas e escutei novas interpretações: é uma imagem de satélite, um quadro abstrato…
(Imagens de Mari Weigert – Música Rhythm Changes, John Deley and 41 Players. Autorizada pelo Youtube. Veneza/2017).
Acho fantástico ampliar o olhar e descobrir o que pode resultar de uma composição singela. No meu caso, o exercício de ampliar o olhar é constante, às vezes sem querer já estou dando asas à imaginação..
Imagens da Infância
Exercitar a criatividade, ampliando o olhar, é alcançar o mundo da imaginação. Já é praxe da minha parte, considerando que desde criança uso dessa viagem mental, que no fim das contas se transforma num refúgio contra o tédio….
A lembrança de tentar imaginar o que as nuvens formavam no céu é terna e doce, aliás com sabor de algodão doce. Especialmente porque meu pai era quem estimulava essa brincadeira.
A recordação de olhar pela janela e viajar pelos mais belos sonhos nas aulas de religião, quando era ainda menina, é engraçada. Confesso que aula era um tédio. Sem citar que foi assustador o dia que a freira mestra me perguntou, de surpresa,sobre o tema da aula. Com o tempo aprendi a exercitar a audição, consigo agora me manter atenta nos dois universos ao mesmo tempo.
Fotos que dizem mais
As fotos que fazem parte do “Diálogos com a Água”, que mantenho no site está dentro desse contexto. É um delírio, certamente. Deixei meio mundo maluco perguntado sobre a mulher que enxerguei no jato de água que jorrava de uma fonte romana da Vila Borghese, na Itália. Jamais consegui outras iguais.
A foto do antigo poço que fornecia água aos cristãos na Capadócia tornou-se minha preferida. O fundo azul me fez imaginar diversas situações. A energia que se mantinha perene dentro daquele túnel, no mundo subterrâneo construído nas rochas, foi captada pela foto. Coisas desse nível, cujos pensamentos voam com liberdade, sem auto-censura.
Bienal de Veneza/2017. Artista: Jelili Atiku – Nigéria. Obra: Mama Say Make
Acredito que por fazer esse exercício mental tenho tanta afinidade com arte contemporânea. Os artistas dão a oportunidade às pessoas de viajarem livremente em seus conceitos projetados nas obras de arte.
Minha neta mais velha, Catarina (6 anos), adora quando começo a inventar histórias. Conseguimos até mesmo fazer um peixinho dourado visitar as estrelas ( que era o sonho dele) num balão portando um aquário. A história de Joãozinho e Maria (inventada) e contada tantas mil vezes, transformou-se em sonífero para ela. rsss… Que adora! Pois inventamos sempre.
“No mundo da imaginação vale tudo”, digo a ela.
A cineasta francesa Claire Denis, disse numa entrevista algo que me tocou muito. “O cinema reflete a realidade e faz dela um sonho”, para justificar sua paixão em dirigir. Claire encontrou um modo de viver o sonho.
Adoro essa foto. Eu e minha irmã dançando no entardecer na Praia do Forte, em Florianópolis, Santa Catarina, 2010.
Convido meus leitores a aprenderem a ampliar o olhar ( quem não o fez ainda) em 2018 e dar asas à imaginação! A vida tem mais graça quando nossos pensamentos são livres para alcançar nossos sonhos…