Já diziam os romanos que os tesouros de Roma ou foram saqueados pelos bárbaros ou pelo Papa Urbano VIII.
A frase é em latim e conhecida dos romanos tradicionais que fazem uma sátira quando se referem ao Palácio Barberini, localizado no centro de Roma. O local hoje foi transformado em galeria de arte.
“Quod non Fecerunt Barbari Fecerunt Barberini” traduzido para o português significa: “O que não fizeram os bárbaros fizeram os Barberini”.
Traduzindo é mais ou menos assim, o que não foi saqueado pelos bárbaros na invasão, foi levado pela família Barberini na época do Papa Urbano VIII, entre 1623 a 1644.
Pasquino, a estátua falante
O dito popular foi escrito na Idade Média e colocado pela população de Roma na estátua “Pasquino”, como forma de protesto contra as atitudes do Papa. A escultura existe e está em ruínas, localizada próximo na Piazza Navona.
Durante o período temporário de dominação papal, os habitantes de Roma esperavam o escurecer para pendurar na estátua piadas, cartazes e versos contra aqueles que detinham o poder.
Um Papa nada justo
Maffeo Barberini – o Papa Urbano VIII – não era considerado pelo povo italiano, na época, um “papa justo” porque favorecia somente os membros da família ajudando-os a enriquecer cada vez mais.
O descontentamento da população era baseado no fato de que o Papa saqueou obras de arte e materiais preciosos da história romana.
De acordo com relatos do escultor Bernini, o pontífice apoderou-se das traves de bronze que sustentavam os pórticos do Pantheon. Ele as substituiu com traves de madeira de carvalho. A original serviu para construir 80 canhões para o Castelo Sant’Angelo.
Papa Urbano também autorizou a construção do gigantesco Baldaquino na Basílica de São Pedro, que até hoje não foi terminado.
Essa é apenas uma das inúmeras histórias que se conta de “boca em boca” entre a população romana. A estátua Pasquino está localizada perto da Piazza Navona e é conhecida como a “estátua falante de Roma”.
Legado inestimável
Histórias à parte, é importante destacar que o legado artístico deixado no Palácio Barberini é inestimável. O prédio foi projetado pelo arquiteto Carlo Maderno no pontificado de Urbano no século XVII. Mais tarde foi construído de fato como obra dos jovens arquitetos Bernini e Borromini.
Atualmente a Galeria Nacional do Palácio Barberini abriga importantes coleções de pinturas datadas dos séculos XII ao XVII.
Caravaggio e El Greco
Para os fãs de Caravaggio a tela “Judite e Holofernes” vale a visita ao local. Uma das obras-prima do artista italiano, retrata a raiva e determinação de uma jovem ao matar seu algoz e compõe o jogo de cores e sombra do mestre.
El Greco está presente com as obras Batismo de Cristo (1546) e Adoração dos Pastores (1548).
A luz prateada, o intervalo colorístico preparado para resfriar os tons, as pinceladas rápidas, o uso do claro-escuro são fortes contrastes típicos da forma pintar do espanhol El grego.
O afresco “O Triunfo da Divina Providência”que decora o grande salão do Palácio foi encomendado pelo papa e realizado pelo pintor e arquiteto Pietro da Cortona. A cena central, cujo tema é nome do afresco, representa a Providência envolta num manto dourado.
Está sentada numa nuvem e tem a cabeça circundada com um alo de luz. É um afresco pleno de simbologia com figuras que representam a prudência, justiça, misericórdia, verdade e beleza.
Afresco magnífico
É sem dúvida um afresco esplendoroso que enche os olhos de quem ergue a cabeça e aprecia o teto ao entrar no salão.
Uma herança que o mundo moderno agradece ao papa que esqueceu do seu povo, embora soubesse apreciar na arte as virtudes que ele deixou de praticar na vida real: justiça, misericórdia e verdade.