Faz uns 10 anos que assisti um filme sobre um cara que queria uma viagem incrível na Califórnia percorrendo todas as melhores vinícolas da região. Nela, começa a contar sua paixão pelos vinhos elaborados com as uvas Pinots Noirs.
Quem gosta de vinho sabe exatamente que filme eu me refiro: Sideways. Eu lembro que nessa época eu nem era tão apaixonada pelo mundo vitivinícola como agora, mas lembro de ter ficado fascinada com o personagem. Como uma pessoa pode adquirir tanto gosto e apreço por uma planta?!
Sideways me inspirou a viajar pela França e conhecer a região dos vinhos
Esse filme despertou não só meu interesse pelos vinhos elaborados com uvas Pinots, mas também pela região tão famosa e conhecida, produtora dos melhores vinhos do mundo: a Borgonha.
Preparei minha mala e planejei detalhadamente uma viagem de 15 dias pela França de carro. Minha intenção não era só percorrer a Borgonha mas aquilo que os dias , a vontade e a quilometragem deixasse.
Era eu, uma malinha de mão, um guia turístico do país, o carro e o GPS me guiando: o destino – aonde o vento me levar.
Champagne
Sai da Bélgica com destino a Champagne, com primeira parada em Reims, uma cidade histórica da província, berço do Champagne como conhecemos hoje em dia. A cidade é pequena e de fato não é muito bonita, mas pra quem gosta de história e principalmente relacionada com o nascimento do Champagne, Reims é uma das paradas obrigatórias nessa viagem.
Éperney
Dormi uma noite ali e logo de manhã segui para Éperney, outra cidade ainda menor que Reims mas muito mais importante quando falamos de vinho e de Champagne. A pequena vila de Éperney gira em torno do turismo enológico e da produção de uns dos melhores Champagnes da região. A cidade esta rodeada por vinhedos, entre eles o grande e conhecido Möet & Chandon, com um belo chateau no centro da cidade que oferece visitas e degustações diárias.
Diz a lenda que existem cerca de 200 milhões de garrafas no subsolo da cidade. Infelizmente não pude verificar se a cifra é real.
Troyes
Certamente dos três destinos que tive a oportunidade de visitar em Champagne, o mais pitoresco e charmoso sem dúvida é Troyes. A cidade que tem forma de uma rolha de champagne, convida o turista a ver a arquitetura mais singular de toda região. Suas casas de madeira, ruas estreitas, palácios, igrejas, esculturas e vidreiras são o legado de uma das correntes artísticas mais importantes de cidade: a Escola de Troyes. Bastou com um passeio para ver que essa cidade era realmente impressionante.
Borgonha
Depois de Troyes, Champagne para mim tinha acabado, mas a viagem estava apenas começando. A ideia era começar a adentrar pelos vinhedos da Borgonha respeitando a sua geografia. Mas nada mais do que começar a dirigir. Fiz uma lista meio anárquica saltando de vinhedos a cidades históricas, vilas charmosas e paisagens exuberantes. Realmente a Borgonha era um mundo a parte que eu não ia conseguir explorar em tão pouco tempo.
Dijon e Baune
De Troyes fui direto a Dijon, que acho que todo mundo conhece pela tão famosa mostarda que leva o seu nome. De fato, nessa viagem fiquei sabendo que a mostarda de Dijon é apenas um processo que foi feito em Dijon, mas que pode ser reproduzido em todo o mundo levando o mesmo nome.
A cidade é um encanto e emana esse ar “Je ne sois quoi” francês que faz com que tudo ganhe movimento, elegância e beleza. Depois de París e Lyon, é um dos centros culturais mais importantes do país. E vale a pena não só visitar por sua cultura enológica senão também pelo encanto da sua arquitetura e a beleza da sua natureza e os gostos mais singulares da sua gastronomia.
Como fazer mostarda
Passei meus dias entre Dijon e Baune, a outra cidade da região linda e que possui uma oferta turística muito singular. Ainda que Dijon seja conhecida como a capital da Mostarda, Baune tem o que Dijon não tem: o museu da mostarda, com direito a visita guiada, degustação e aula gastronômica “faça você mesmo”.
Considerando todo seu legado vitivinícola, a cidade tem um turismo que gira em torno disso: com museu do vinho que explica sobre a história dos principais produtores locais e suas principais denominações de origem. Do lado do museu encontramos o Hospicies de Beaune, um hospital fundado em 1443 que atendia as pessoas mas carentes da região. Desde 1859, para arrecadar fundos para a manutenção do hospital, seus donos começaram a leiloar os vinhos que eram produzidos nas suas terras. Hoje em dia, pessoas de todo o mundo vão a cidade em novembro só pra comprar algumas das suas famosas colheitas.
Côtes D’Or e Côte de Chalonnaise.
Borgonha está dividida em várias regiões vinícolas; as importantes e visitadas nessa viagem foram: Côtes D’Or e Côte de Chalonnaise. Cote D’Or está dividida em outras duas regiões; ao norte, se localiza Cotes-de-Nuits e ao sul Cotes-de-Beaune.
Cotes-de-Nuits e Cotes-de-Beaune
Em geral, em Cotes de Nuits se produzem vinhos mais estruturados, equilibrados e intensos, enquanto em Cotes de Beaune predomina vinhos como elegância e frescor. Toda regra porém tem sua exceção, e Cotes de Baune também pode produzir vinhos tão bons como os que produzem em Cote de Nuits: um exemplo claro esta na visita que fiz ao Chateau Pommard, um vinhedo de alta gama, localizado em Cotes de Baune mas que produz um vinho de excelente qualidade e delicadeza. Cada parcela do vinhedo tem um “terroir” diferente, que proporciona diferentes aromas em uma única uva.
Além da qualidade do vinho, o Chateau Pommard também é conhecido pela sua elegância, o que não é um imperativo nas visitas as bodegas da região.
Além dos tintos famosos, a Borgonha tem uma produção muito importante de vinhos brancos, mais bem 90% da sua produção. Entre as denominações de origem mais conhecidas está o Chablis e entre as uvas mais cultivadas a Aligoté e a Chardonay.
Entre Baune Dijon e muitos vinhedos, ainda tive oportunidade de visitar Flauvigny (a cidade que foi rodada o filme Chocolat), Vezelay (que tem uma catedral impressionante), Salieu, Cluny (e o seu Mosteiro) até finalmente chegar a Lyon.