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Debret mostrou o lado caricato e perverso do Brasil

As aquarelas de Jean Baptiste Debret (1748-1848) sobre o Brasil Colônia, identificam algo mais do que apenas pinturas documentaristas, mostram de forma quase caricata, um país perverso em sua estrutura social.

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Essa maneira particular com que Debret  apresentou o Brasil do século XIX em suas obras, revela a matriz  comportamental do que é hoje o país nos seus usos e costumes, sua cultura.

“A Forma Difícil: Ensaios sobre a arte brasileira, do crítico e escritor Rodrigo Naves, é leitura obrigatória para analisar o trabalho do artista francês, neoclássico, e entender melhor o Brasil e suas estruturas sociais.

Neoclássica

Naves identifica nas obras de Debret, o esforço que o pintor fez para adaptar-se à realidade do Brasil, colocando em questão a sua formação neoclássica.

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Os aspectos paradoxais de uma corte sem poder, fujona, e instalada às pressas numa de suas colônias, fora dos padrões estabelecidos pela sociedade européia foram pincelados pelo artista em detalhes que não passam despercebidos do escritor. Em um dos trechos do livro, o escritor diz assim:

Anedótico

“Mais do que um aspecto anedótico e perversamente pitoresco, a feição rudimentar do Rio de Janeiro inviabilizava na prática uma atuação normal de Debret e seus companheiros. O neoclassicismo francês defendia uma arte em que a vontade conduzisse a natureza, sobretudo humana – as manifestações virtuosas e belas”.

No entanto, Debret não encontrou tema para sua formação neoclássica no Rio de Janeiro. A trama principal era o embate entre escravidão e riqueza, pois o Rio de Janeiro tinha na época mais de 45% de sua população em escravos. Essa contradição social foi incorporada informalmente em algumas obras de Debret que mostram o lado dúbio, incerto e duvidoso dessa sociedade colonizadora.

 

Rodrigo Naves, em seu livro, chama a atenção para o fato que Debret mostra cenas de trabalhos pouco extenuantes. Se prende muito mais em mostrar os escravos de ganho, vendedores de quitutes, frutas, do que trabalhadores de moendas, aqueles que se esforçavam desumanamente.

Mesmo os negros acorrentados eram retratados em momento de descanso.

“Para um artista formado nos embates do final do século XVIII, francês, essa dimensão pública certamente tinha algo de postiço. Apoiava-se sobre o trabalho escravo, em uma corte fugida e tinha lugar num ambiente urbano absolutamente precário. A forma exemplar e heroica dos neoclássicos jamais faria sentido aqui.

Tampouco havia no país enfrentamentos poderosos que justificassem uma concepção grandiosa da história. Então Debret, desde sua chegada, voltou sua atenção para a precariedade da vida na cidade do Rio de Janeiro e encontrou na aquarela o meio adequado para representar as cenas de um cotidiano inteiramente novo para ele,” escreveu Naves.

O artista francês chegou ao Brasil junto com uma missão de seu país, que tinha o propósito de fundar uma Academia de Belas Artes, na então colônia de Portugal que naquele momento era sede da corte portuguesa. Em 1816.

O ensaio crítico de Naves sobre as obras brasileiras de Debret e as transforma em um documento sociológico e analisa com maestria como o pintor move-se nessa contradição própria de valores culturais da época. O livro é para interessados em história da arte e processo social brasileiro.

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