Frida Kahlo Conexões entre Mulheres Surrealistas no México” foi uma mostra inesquecível. Apresentada em São Paulo, não se prendeu somente às obras de Frida Kahlo (1907-1954), que são apenas 20, das 143 que produziu em toda a sua curta vida, mas dimensionou a artista dentro do surrealismo, com mais 15 mulheres todas entrelaçadas na trama do período na história da arte e na cultura nativa mexicana.
Na leitura de PanHoramarte é a mostra que oferece um percurso mais interessante, talvez mais completo, sob o ponto de vista do período histórico e do movimento artístico, comparando com as outras duas descritas e visitadas em 2014, em Roma e em Curitiba (fotografias) que focaram diretamente na vida de Frida Kahlo e sua contribuição para a história da arte. Ambas aconteceram em meados de 2014.
O destaque dado pelo Instituto Tomie Ohtake, com a excelente curadoria de Tereza Arcq apresentam um conteúdo enriquecido sobre Frida Kahlo, oferecendo assim ao público mais informação e obras sobre o mesmo tema.
A produção surrealista das mulheres mexicanas é misturada às suas raízes culturais “diferente dos países onde essa expressão já está mais domesticada”, como se refere o texto de apresentação do Instituto Tomie Ohtake. Sem dúvida, a poética surrealista elaborada por essas mulheres é tramada em fios que se conectam com a identidade e autorrepresentação, o corpo feminino, maternidade, família,a influência da cultura mexicana, o pensamento mágico, a exploração do inconsciente e mundo dos sonhos.
Mulheres ousadas e criativas que viveram num tempo em que a rigidez moral as anulava ao ponto de se envergonharem de pronunciar palavras como nádegas, “era a coisa que eu me sento”, como pernas, “a coisa com a qual ando”. Mulheres que imprimiram na sua arte os seus anseios e sonhos em períodos conturbados da história universal ( Segunda Guerra), no México (pós-revolução).
É importante assistir o vídeo-documentário, com depoimentos de amigos e pessoas que conviveram com Frida Kahlo. Isso deve ser feito antes de visitar a mostra. A partir daí, entre “esculturas, pinturas, fotografias, documentos, registros fotográficos, catálogos e reportagens, o observador se conectará com a poética das artistas e entenderá o legado que elas deixaram para a humanidade.
Entre as obras de Frida Kahlo podemos apreciar Moisés e o Abraço Amoroso, vários autorretratos, com macacos, com trança, na cama e com Diego Rivera no pensamento. É uma pena que não estão telas contundentes em que artista transfigura a sua dor em cores e símbolos, como a Arvore da Esperança se Mantém em Equilíbrio ou Coluna Quebrada, que se encontram no Museu de Olmedo, no México.
Quanto as mulheres surrealistas, algumas fizeram parte do movimento em Paris, por intermédio de seus companheiros, outras foram descobertas pelos surrealistas num evento internacional sobre o tema, no México, em 1940, “utilizaram a sua obras como meio de exploração e catarse psicológica e espiritual”, escreve a curadora. “As artistas representadas aqui demonstram que as mulheres eram criadoras independentes e audazes, tendo elaborado linguagens e discursos imaginativos e inovadores”.
A questão mais importante da mostra, que permanece até janeiro, como define o Instituto Tomie Ohtake é a enigmática rede de espelhos de Frida Kahlo, que amplia, com um acervo expressivo, a visão e o entendimento do público no bem traçado trabalho elaborado pela curadora.