A dona-de-casa
Lavava
Cozinhava
Dobrava
Costurava
Chuleava
Na cozinha, no quarto, no banheiro, na sala
Ininterruptamente trabalhava…
Cuidava das crianças muito bem
Mesmo que estivesse de cansaço estraçalhada
Dava um show de palhaçada
Esperando no fim de tantos esforços Hercúleos
Dos pequenos receber uma boa abraçada…
Dedicada também era ao marido
Fazia as comidas que gostava
Remendava cada meia que vinha furada
Arrumava a papelada que este deixava sempre alvoroçada
Tarde da noite, acordada o esperava…
A casa estava sempre a postos para ser por ela arrumada
Coisas não faltavam para deixá-la até o talo atarefada
Procurava ser sempre muito organizada
Para não se deixar soterrar pela bagunçada…
Era chamada de a rainha do lar!
Por vezes de tão exasperada queria deste abdicar
Mas sua paciência de Jó lhe dizia:
“Calma dona-de-casa
Depois da tormenta sempre vem a calmaria!”
E tudo continuava em alto som de gritaria…
E assim ela ia
Exercitando-se na sua domiciliar academia
Todo o dia era uma nova maratona
A casa tinha perfume de azeitona
A dona-de-casa às vezes era apelidada de mandona
Sonhava em passar umas boas férias em Barcelona
Ou dormir por um mês sem interrupção
Na mais confortável poltrona…
Agora vamos deixar a dona-de-casa descansar
Não devemos a paciência dela abusar
Pode se enfezar
E o ferro de passar na nossa cabeça arremessar
Não dá para esperar que esta mulher
Que faz das tripas coração
Tenha tamanho sangue de barata, afinal,
Já perdera a conta das tantas milhares de vezes que descascara uma batata…
Não importava o quando se esforçava
Não precisava de nada
Para a casa ficar tudo de novo de sujeita impregnada
Deixando-a desesperada
Tentada a bater em retirada
Quando se via por aquela avalanche de balbúrdia entrincheirada…
Sua lista de coisas a fazer tinha
Desde regar as plantas até traça com veneno liquefazer
Se tinha momentos de lazer?
Bom, é melhor esta pergunta nem à tona trazer!
Caso contrário ela lhe rogará uma praga de maldizer
A coitada estava com o esqueleto a apodrecer
Depois de trabalhar tanto
Da alvorada do dia até a escuridão do anoitecer…
Esta mulher era um fortaleza de paciência e bravura
Tinha na essência muita candura
Mas quando estava com a coluna de exaustão dura
Perdia a brandura
Deixava quem viesse lhe atazanar a mente
Enrolado em atadura…
É pedir demais manter a candura
Após um dia de tanta agrura
A coitada tem todos os motivos mesmo para perder a compostura
Esperando at eternum para ela
A abolição da escravatura!
(Arte de Sally Edelstein)
Ótimo e, divertido e criativo texto. Parabéns Simone.
Ótimo e divertido texto, Simone vc. está de parabéns pela sua criatividade.
Muito obrigada, Lúcia! Que bom que gostou e muito obrigada pela atenção de ter deixado um comentário tão amável! Um grande abraço!