Memórias, objetos e identidades do passado e do presente tecem as tramas do universo feminino e revelam as diversas mulheres que habitam em uma.
Assim é a mostra “O céu pelo avesso”, de duas artistas plásticas paranaenses, Marilia Diaz e Consuelo Schlichta. O espectador irá também se identificar com todas estas mulheres inseridas em uma só alma, seja ele homem ou mulher.
O homem encontrará a figura das mãe, irmã, namorada,no entrelaçar destas memórias. A espectadora mulher, por outro lado,se identificará com uma das várias mulheres que se constroem a cada dia. PanHoramarte pontua algumas referências para que o leitor possa absorver este universo numa caminhada online pela mostra, apresentada fisicamente no Museu da Universidade Federal do Paraná, em Curitiba, até o dia 30 de junho.
Sagrado e frágil
Ao adentrar nela é preciso estar preparado para penetrar num território sagrado e frágil, em que a transparência de um tecido em voal separa delicadamente as fronteiras da matéria e psique. “São 2 mulheres, e a força de ser 2 traz à luz outra identidade.” As artistas, ambas professoras do Departamento de Artes da UFPR, não esquecem da didática como curadoras da própria mostra,quando fazem um percurso leve de suas obras ao espectador (a), que, talvez, na maioria dos casos, consegue se reconhecer em muitos conteúdos.
Rotinas
“As lembranças impregnadas da rotina do dia a dia, os gestos e os fazeres que se recomeça diuturnamente; os objetos reveladores do ontem, as fotografias, algumas ampliadas, outras minúsculas, os crochês, os bordados, a toalha da mesa da cozinha e os guardanapos bordados em 1941; enfim, tudo se guardou”- anuncia o texto de abertura.
Uma teia tece as “Guardiãs da Existência” – etiquetas com nomes de mulheres da família e próximas das artistas, referências no campos das artes visuais, literatura e história – permite, talvez, iniciar o roteiro. As bacias de alumínio com sal, pedras e camélias colhidas no inverno manifestam os 7 de corpos de escape. “São 7 corpos de escape, 7 corpos de fronteira que expõem as fragilidades, mas também o empoderamento das mulheres do presente, do passado e do futuro, que mal conseguimos esperar. São 7 vezes 7 mulheres impregnadas de nascimento e morte e que vêem tão longe”.
Os corpos de escape…
Os sete corpos de escape, compostos por panos de algodão, com crochês, bordados e tudo mais…
Toalhas e guardanapos de mesa, bordados pela mãe da artista em 1941…
Sobre todas que habitam em mim.Livros com 59 páginas representando a idade das artistas, fragmentos, lembranças….
“Uma delas vale-se “de temperos como o açafrão, alecrim e manjerona”, conhece “os segredos do cardamomo e usou-os em ocasiões um pouco mais solenes”.1 A outra se encanta com a caligrafia, beira o exagero, interessa-se por livros, flores secas, toda sorte de raridades. A terceira, não se ilude, nasce e morre todos os 7 dias da semana, tem adoração por Consuelo e Marília. E, muitas vezes, sem esgotar o que de humano carrega, no silêncio do quarto se pergunta: minha vida voltou a ser minha?”, assim se definem as mulheres que habitam em uma.
As artistas Marilia Diaz e Consuelo Schlichta revelam a alma feminina em suas obras e objetos de recordações, relembram que uma mulher é a construção de várias identidades e que elas se constroem e se destroem todos os dias, para compor uma em seus diversos papéis, mães, filhas, amantes, esposas, profissionais…. .