Machu Pichu hor

Machu Picchu numa visão feminina

As ruínas surgem aos teus olhos, magníficas, como se estivessem protegidas dentro de um útero

As ruínas sagradas do Machu-Picchu, no Peru, podem fazer parte de um roteiro exclusivamente feminino, uma viagem por conta própria, sem definições de itinerário, em que o acaso traz reflexão, paz e o prazer de estar longe do cotidiano e da vida moderna.É uma aventura inigualável porque o local, além de ser uns dos pontos turísticos mais procurados do planeta é, sem dúvida, uma das regiões mais genuínas desta América do Sul colorida e dissonante.

Porta do Sol

Entrar em Machu-Picchu pela porta do Sol, caminhando pelas trilhas incas é uma experiência extraordinária. É espetáculo à parte num dia ensolarado. As ruínas surgem aos teus olhos, magníficas, como se estivessem protegidas dentro de um útero. O útero do planeta Terra.

As montanhas que circundam Machu-Picchu, cobertas por florestas da Pachamama (mãe terra em quéchua), podem ser comparadas às paredes uterinas que aconchegam um filho precioso. Sem dúvida, esta visão exclusivamente feminina do Machu-Picchu define as ruínas sagradas como filho mensageiro da luz, do sagrado. Metáfora, sim, de uma magia que só não percebe quem não deseja fazer parte dela.

Seja pela caminhada inca ou seja pelo ônibus, a emoção da chegada às ruínas é única e inigualável pela beleza da paisagem e essencialmente pela história que envolve o local.

Viagem por conta própria

A vantagem de estar viajando por conta própria é de ter praticamente o dia todo para desfrutar de um lugar como este. A bilheteria das ruínas abre às 9 horas e o parque fecha às 18 horas e, em função disso, é possível visitar primeiro as trilhas próximas às ruínas como a da ponte inca, com 30 minutos de caminhada e depois, a da Porta do Sol, mais longa, com duas horas de percurso. Por volta das 15 horas é que se deve conhecer as ruínas, internamente, momento em que começa a diminuir o fluxo de turistas.

Pachamama

A condição de percorrer calmamente os terraços incas e penetrar nas construções e nos templos erguidos em pedras milimetricamente encaixadas que ainda guardam, na sua exatidão, os segredos sobre sua origem é uma aventura à parte.

O propósito de mulheres visitarem um local como Machu-Picchu, pode ser comparado ao de estreitar a sua relação com a Pachamama e estabelecer uma conexão de cumplicidade ao perceber a grandiosidade da vida neste local que mistura arqueologia e natureza numa harmonia perfeita.

A dica de deixar para conhecer as ruínas após o meio-dia, depois de ter feito muita caminhada tem vantagens e toque de mulher. Já com o hormônio da felicidade liberado em função das caminhadas, com emoção à flor da pele, vale aproveitar o local para verbalizar desejos e ideias positivas, em alto e bom-tom, com o firme propósito de “lavar a alma”.

É quase como estar numa sessão de psicanálise. Apenas com a diferença de que a natureza faz a vez do divã. É um voo livre.

Águas Calientes

Para encerrar este ritual de parceria com a sabedoria incaica, não deve faltar um banho medicinal, à noite, nas termas de Águas Calientes, verdadeiro bálsamo depois de exaustivas caminhadas. Depois disso,a ordem é entregar-se ao “sono dos justos” para aproveitar o próximo dia em Cuzco.

O fato de ser mulher e viajar sozinha em países genuínos como o Peru e a Bolívia possibilita uma vivência maior dos costumes e contato direto com o povo. A maioria do peruano e boliviano é afetuoso e puro de espírito.

Em Cuzco, por exemplo, é comum encontrar índias com seus trajes coloridos, tecendo cintos ou mantas de lã de ovelhas. Se tiver o privilégio de conhecer uma índia como a Sirilla, que além tecer seus cintos com orgulho, ela também defende as mulheres turistas ou índias.

 

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Sirilla. 2004/ Foto por Janine Malanski
Sirilla

Sirilla, do “Pueblo Chinchero” , como se identifica, tece a lã desde criança. O que aprendeu com a mãe ensina às filhas. Tem cinco filhos, ao todo, e vive de vender seu artesanato. O marido cria ovelhas. É com a lã destas ovelhas que ela tece os cintos e faixas coloridas. A cor obtém por meio das ervas e anilina que sabe preparar com maestria.

detalhe Sirila
Sirilla tecendo seus cintos. Foto por Janine Malanski
Laços femininos

Sirilla sabe defender as amigas mulheres, mesmo turistas desconhecidas, quando percebe que alguém deseja enganá-las. “São minhas amigas”, avisa. O afeto singelo de Sirilla ou de outra índia que vende seus artesanatos em Cuzco fortalecerá os laços femininos para continuar o giro pela cidade com um olhar mais aguçado.

Virgens cuzquenhas

Somente uma mulher perceberia que as virgens cusquenhas, pintadas muitas vezes por índios que frequentavam a escola cusquenha de pintura, na época em que os espanhóis queriam catequizar o mundo, impondo sua crença cristã, têm mais brilho em suas vestes.

Nem de longe se parecem com as virgens brancas, pálidas e recatadas, representadas pelos europeus. As virgens cuzquenhas são coloridas, intensas, e a maioria morenas. Belíssimas  obras!

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Nossa Senhora de Belém, século VIII – Google Art Project
Olhar Crítico

Num panorama geral, Machu Picchu seja sob a ótica feminina ou masculina é uma viagem  imperdível. De um lado, as ruínas de uma cidade que abrigou um povo que se abancou pertinho do céu  e de outro, vilarejos repletos de gente simples, de vestes coloridas, que mostram um outro modo de olhar para a vida.  Pela voracidade com que se destrói hoje a memória ancestral dos povos primitivos é melhor se aligeirar e procurar conhecer este útero gigante verde e luxuriante localizado pertinho do umbigo do mundo (Cuzco) para garantir em sua mente a imagem inesquecível de um lugar único no planeta Terra.

 

 

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