Foto: Jaqueline D'Hipolito

Bélgica

Hoje, regressei de uma viagem que me proporcionou um agradável sabor de boca. Por quê? É difícil explicar o que faz de uma viagem ser melhor que a outra. Fico me perguntando porque gostei tanto de retornar a Bélgica depois de tantas vezes e por quê essa vez teve algo diferente das outras. Sei la, talvez o fato dessa viagem ter me feito pensar e poder planificar melhor a minha vida.

Viajar sozinha quem sabe seja um dos poucos prazeres e aprendizagens que tenho sempre vontade de repetir. Pensar na vida, conhecer gente nova e poder refletir. Quem sou e pra onde estou indo. Voltei cansada, com dor de cabeça mas feliz de tudo aquilo que me deu tempo em fazer, em pensar, em planificar.  

Bélgica foi uma caixa de surpresa: e voltar a revê-la me surpreendeu mais que outras vezes. Conheci bairros, monumentos, historia. Mergulhei na cultura e aprendi mais que as últimas 5 vezes que fui. É… Não importa quantas vezes você regresse a um lugar; ele sempre vai ser diferente.

Infelizmente, toda essa felicidade durou um milésimo de minuto. Hoje de tarde, recebi a noticia que abalou as minhas estruturas. Uma pessoa que eu amo muito padece de um câncer; não um câncer fácil, ou simples, mas daqueles que espanta quando se conta as pessoas a nossa volta. E ainda que exista possibilidade, esse minuto de felicidade foi arrebatado pela complexidade da vida.

É nessas horas que as lembranças mais duras da minha vida voltam de supetão. E penso como ainda estou inteira; sem muita feridas abertas, apenas cicatrizes de guerra.

Eu e um milhão de pessoas; que muitas vezes passam por momentos piores e mais complicados.

Não sei, mas como dizia Sheakespeare, não importa em quanto pedaços seu coração foi quebrantado, a vida não para para que você o concerte.

E diante da realidade você tem que continuar,  tentando responder a eterna pergunta: Como se sobrevive a dor da ausência? Não sei, mas continuar andando é a única coisa que sei fazer. E ainda que chorar é um remédio que alivia a alma, tem dores que não passam. O tempo apenas te ensina a conviver com ela.

Não sei como concluir essa crônica. Nem pensava em escrever sobre coisas tristes, senão sobre a viagem mais maravilhosa dos últimos tempos. Mas o segundo de alegria foi desvanecido e, pouco a pouco, substituindo pela esperança.

Foi então que nesse exato momento lembrei de uma pessoa que já me respondeu essa pergunta em outra altura da minha vida. Clovis de Barros Filho, Professor Catedrático da USP em ética, dizia que “sem fórmula nenhuma, estamos num mundo extraordinariamente competente para nos entristecer, mas aqui e ali também capaz de nos proporcionar grandes alegrias, grandes surpresas, momentos que nunca mais gostaríamos que acabasse. São esse momentos que a gente percebe e que farão da vida sempre alguma coisa digníssima de ser buscada e fantástica de ser vivida”.

Amanhã é outro dia.

Fonte Google

Casa de palavras

Certa vez empapelei as pernas da mesa, fazendo paredes.

Vazei porta e janela, e tive longos papos de comadre com minha mãe, que no andar de cima passava roupas.

Improvisei uma casinha no paiol, meio espremida entre as ferramentas do meu pai. A proximidade com a horta possibilitava grande variedade de verdinhos, para as panelas. Os brinquedos, tão lindos quanto o aparelho de chá de verdade, da minha mãe, abrilhantaram as festas das bonecas.

A humilde casinha do porão, era na terra de debaixo da casa, as panelinhas improvisadas com tampinhas de lata de leite e pauzinhos como talheres para a comida de grama.
Na casinha do sótão, a mais rica, podia-se descer as escadas com os sapatos de salto da mãe, fazendo pose para fotos.

Mas foi numas férias, na casa da avó materna, que criei uma bem bonita, com as capas duras dos velhos livros de contabilidade do meu avô. Empilhados e sem uso, pediam para virar brinquedo e a avó permitiu. As capas duras devem ter se tornado mais felizes, com a nova utilidade: paredes decoradas da casinha de papel. Recortei propagandas das revistas Seleções de Reader Digest e compus os cômodos. Aquela revista fornecia cozinhas, eletrodomésticos, quartos, banheiros, carros e uma infinidade de objetos de decoração para tornar as horas de brincar, as mais felizes da infância.

Essa casinha, portátil, era disparadora de sonhos, de romance, num universo de possibilidades de felicidade. Uma casa para meus afetos de menina. Uma casa de palavras!
Imagem de casa é distinta para cada um de nós. É composta da nossa experiência relativa a casa: o cheiro, o calor do lar, a segurança, o jardim, uma saudade e os segredos.

DSC_0365

“Malandra”, um espetáculo circense numa linguagem contemporânea

Eles são jovens e talentosos e parte da história do circo contemporâneo no Paraná. A companhia TripCirco que atua desde 1998, em Curitiba,  estará neste sábado (19) apresentando o espetáculo Malandra, um show que mistura técnicas circenses em ritmo de tango, dessa forma formando um circo de Milonga.

Malandra é a lembrança que ficou no passado, na vida de um velho boêmio e em seu último suspiro antes de fechar sua Milonga relembra as aventuras vividas dentro daquele lugar. A direção é de Carlos Adrian Pagliano, coreógrafo de tango, Jorge Nicolas Ferreyra, no elenco: Alessandro Ribeiro, Camila Mara Cequinel, Caroline de Vaz Lima,Jorge Nicolas e Thiago Barbosa.

As artes circenses estão entre as mais antigas técnicas artísticas da humanidade. Começou talvez quando o homem se reunia em círculo para contar causos e ao mesmo tempo descobrir que o universo é cheio de magia.

O circo moderno trouxe o personagem do palhaço “clown” que é, na verdade, um ator completo, mais voltado ao conceito do teatro, aquele não só atua sob uma lona de circo, mas também nas ruas, em espaços culturais e até em empresas.

Este novo palhaço é eclético em seus números e nas suas performances, improvisa, dança, faz mímica, malabarismo, usa todas as técnicas circenses como meio de entretenimento para o público num espetáculo.

Serviço:

Malandra

Data: Sábado 19/09  as 20:00 hs e no Domingo 20/09  as 18:30 na TripCirco 

Compre ingresso antecipado no espaço TripCirco  e pague meia.

Ingresso R$ 30,00 ( meia R$ 15,00 )

Informações : (41) 30188430

Local: TripCirco (Curitiba)

Endereço: Av sete de Setembro 2618.

 

IMG_2618

Arte hoje é mercadoria e o culto ao capital fez desaparecer o papel do crítico

 A arte hoje é tratada como mercadoria e parte de uma guerra que envolve cultura e entretenimento,o mainstream, os dominantes e os dominados.

Em debates sobre jornalismo cultural e quando o assunto é colocado em pauta, a constatação é de que o crítico perdeu a sua função de intermediar a apreciação de uma mostra ou obra de arte porque é tragado pelo sistema capitalista selvagem.

Falta críticos

O empobrecimento no campo da argumentação ocorre paradoxalmente num momento em que existe mais espaço para interagir e informar. A grande mídia brasileira se restringe a divulgar atividades de entretenimento – programação de shows, teatro, exposições –  e cada vez menos destaca a opinião de um crítico, pela qual é possível não só avaliar ou identificar dentro de um contexto a obra ou artista, assim como, de estabilizar, com base em um conhecimento teórico e cultural, a variedade das opiniões e as diferentes sensibilidades.

A falta de crítica na avaliação de um trabalho artístico, que cedeu espaço às necessidades de mercado e aos interesses econômicos, não é um fenômeno observado somente no Brasil.

Hoje é uma situação que afeta quase todo o mundo capitalista.

Na Itália, o berço das artes no Ocidente, o jornalista italiano e crítico de arte, Nicola Maggi, que vive hoje em Florença, confirma que a crítica de arte não existe mais. A matéria publicada originalmente no CollezionedaTiffany.com coloca claramente que o crítico de arte está extinto ou sem conteúdo teórico ou obrigado a se curvar ao que o mercado exige.

Eis o conteúdo traduzido da matéria:

“Há um ano, numa bela entrevista publicada na Revista Neuramagazine.com  por ocasião da inauguração da Arte Fiera, o colecionador Giorgio Fasol, destacou uma situação que está visível a todos, mas que poucos parecem ter coragem de denunciar de modo explícito: ‘Não existe mais crítica de arte hoje.

As críticas são ao máximo as escaramuças e os ressentimentos que um crítico diz ao outro ‘da próxima vez eu vou fazer você pagar’. Se a opinião de Fasol parece exagerada, vamos então percorrer as páginas culturais de qualquer de nossos jornais ou de uma revista do setor para confirmar o fato.

Excluindo as páginas da Reppubblica, com opiniões de Jean Clair , e ler os artigos dedicados a exposições dos mestres incontestáveis da arte moderna e contemporânea (pouco mais do que a História da Arte publicadas pela editora Bignami ) e resenhas de exposições de artistas que, neste momento, estão tendo algum sucesso no mercado que por trás têm uma galeria influente. Nada mais.

 E o pior é que as opiniões são muitas vezes o resultado de um copiar e colar dissimulados pela imprensa porque são escritas pelo escritório das galerias ou apresentações feitas pelo curador do momento, a nova figura dominante no Sistema Internacional de Arte Contemporânea de imprensa.

Com o resultado de que, no papel, tudo parece bonito e cada artista um talento. Mas que contribuição pode dar essa situação para o debate sobre a arte, divulgação e compreensão da arte contemporânea? A resposta é simples : nenhuma!

Classificar e dar votos

Como explica Demetrio Paparoni, de fato, o papel do crítico não é classificar gráficos de merecimento, dar votos e conselhos para quem deseja comprar, mas, sim, mover-se em paralelo com os artistas cujas ideias aprecia e também fazer suas escolhas formais, explicar a obra, quando e onde acontece.

Somente desta forma, a crítica pode oferecer uma contribuição fundamental para o debate aberto sobre arte, protegendo-a da ação corrosiva de seguidores nostálgicos. De beleza, que hoje em dia se produz em demasia, a tarefa crítica é esclarecer onde elas se escondem, como e onde ocorrem, o que as torna visível ou a verdade oculta.

“Não é só isso, a crítica também tem a tarefa de trazer à tona, em sua análise da obra de um artista, as referências à história da arte, com destaque para os elementos que são inovadoras e aqueles que, no entanto, se ligam à tradição mais ou menos recente.

Hoje ele é bom quando nos confrontamos com escritos que são meros exercícios de estilo, um exemplo de texto criativo – normalmente árduo de compreender – que tem somente o efeito de relegar a arte contemporânea ao mundo dos adeptos aos trabalhos, questionando a credibilidade de sua mensagem social.

Declínio

Simplificando, com o declínio da crítica – começou na década de oitenta – não cumpriu o papel de ‘mediação cultural’, que é fundamental para a compreensão (entender) para o pleno desenvolvimento da arte do nosso  tempo. Como se isso não bastasse, com o desaparecimento das páginas de revistas e jornais que mantinham os críticos militantes, que colocando em jogo contribuíam para o surgimento de novos talentos, não foi possível conseguir para o colecionador pontos de referência para descobrir o que existe ou o que está surgindo, mas também para os artistas que  nas palavras de um crítico poderiam encontrar indicações importantes sobre como crescer e ter sucesso.

Com o colapso das ideologias, o fim do movimento de vanguarda, a globalização e o afastamento de todos os tipos de discursos e de expressão artística, o debate intelectual enfraqueceu, chegando à situação que eu descrevi no início e que, de fato, coincide com uma abdicação total de críticas e uma consequente aceitação incondicional por parte do mundo da arte, de qualquer tipo de obra (pelo menos aparentemente) e a necessidade de um julgamento de mérito: basta funções e em particular, que as funções sejam para o mercado.

Aqui que se encaixa, muitas vezes substituindo a do crítico, a figura do curador, isto é, nas palavras de Mark Meneguzzo , aquele que é experiente, que sabe como organizar, mas acima de tudo, é um testemunho do existente e do presente, sem querer ir mais longe. “

Curador substitui o papel do crítico

Pessoalmente não tenho nada contra a figura do curador, mas a questão que opino ao fato que ele possa substituir o papel do crítico. O máximo deveria ser considerada uma figura complementar. Isso é, independentes e de ou relacionados com as instituições de arte, de fato, o curador é frequentemente condicionado – num modo mais ou menos consciente – às escolhas  daqueles que são os poderes do Sistema de Arte, em particular, do mercado.

E que, dada a importância que obteve a sua figura a nível internacional, repercute também sobre os componentes  acima de qualquer suspeita do sistema, tais como os museus de arte contemporânea.Tente dar uma olhada nos resultados de leilões nos últimos anos e compará-los com as escolhas feitas por algumas das instituições de arte líderes no mundo em termos de exposições temporárias e você vai entender o que quero dizer.

Mudanças

O mundo está mudando cada vez mais rapidamente e como acontece com outras indústrias, a arte está em um estágio intermediário entre antes e depois em busca de seu novo equilíbrio. E a incerteza em que vivemos é certamente ligada a esta situação. Mas se você pensa que é ser avesso aos costumes atuais, tentar desfazer completamente as mudanças que estão ocorrendo, eu por outro lado, acredito que é vital, embora talvez irrealista. E nesse sentido, eu acho que a “reabilitação” da crítica de arte é essencial.

Novas ideias

Basta pegar um debate crítico saudável, com seus contrastes e suas batalhas e você pode, de fato, fazer emergir dele novas ideias que são selecionadas com critérios diversos daqueles ditados pelo mercado, das modas do momento. Só através de um confronto aberto entre os diferentes pontos de vista é possível revitalizar o mundo da arte – especialmente a ocidental – o que parece cada vez mais estagnado e homologado do ponto de vista da linguagem, nos quais os artistas da velha guarda e os talentos emergentes parecem fazer um pouco as mesmas coisas.

Talvez, a nível internacional, isso pode ser pouco utópico, mas se começarmos a fazer isso já na Itália, provavelmente poderemos dar um impulso útil para a nossa produção artística, por meio de um confronto direto, que não me parece que tenha nada de menos de outras nações'”.

Olhar Crítico

Nicola Maggi está certo quando pontua que a ausência da crítica é uma realidade. Além de alertar para o risco de confundir o papel do curador com o do crítico de arte. O curador está sempre preso ao artista, a obra, ou à instituição que ele promove ou faz a curadoria – ao qual é o tutor.

O grande risco, neste caso, é que haja uma prostituição de ideias que poderá interferir no livre debate sobre arte. A jornalista brasileira e pesquisadora, Paula Viviane Ramos, num texto publicado em 2008, diz que falar sobre ausência de crítica de arte no Brasil já se transformou num clichê, embora se permite fazer “algumas breves reflexões sobre o morno, para não dizer ausente panorama crítico na mídia contemporânea”.

Papel do curador

A pesquisadora também acentua a diferença entre o papel do curador e do crítico. “Trata-se, de fato, de uma nova função, articulada à lógica institucional das artes visuais na contemporaneidade e que difere daquela do crítico de antigamente, respaldado no discurso, na mediação”. (panoramacritico.com)

Certamente, o jornalista italiano tem razão em propor como essencial, a reabilitação da crítica de arte.

Se na Europa a situação é urgente no Brasil é uma necessidade para que o país possa ser salvo e resgatado em sua cultura artística. A participação dele nas duas últimas Bienais de Veneza são um exemplo de estagnação. O pavilhão brasileiro é sempre nostálgico (sempre artistas já renomadas, Ligia Clark este ano) e pouco aproveitado com grandes talentos que existem em nosso país.

Somente a atitude crítica dá elementos para julgar e apreciar uma obra de arte e consequentemente a arte, como segmento da cultura será capaz de provocar uma transformação.

Salvo alguns cadernos especializados em cultura, como o Ilustríssima, da Folha de São Paulo, a revista Bravo, e outros poucos, a arte não tem espaço na grande mídia e como já disse uma vez o crítico de arte e professor e uma vez organizador da Bienal de São Paulo, Agnaldo Farias, a arte é considerada no Brasil o patinho feio das Ciências Humanas e o artista é sempre desprestigiado.