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Arte hoje é mercadoria e o culto ao capital fez desaparecer o papel do crítico

 A arte hoje é tratada como mercadoria e parte de uma guerra que envolve cultura e entretenimento,o mainstream, os dominantes e os dominados.

Em debates sobre jornalismo cultural e quando o assunto é colocado em pauta, a constatação é de que o crítico perdeu a sua função de intermediar a apreciação de uma mostra ou obra de arte porque é tragado pelo sistema capitalista selvagem.

Falta críticos

O empobrecimento no campo da argumentação ocorre paradoxalmente num momento em que existe mais espaço para interagir e informar. A grande mídia brasileira se restringe a divulgar atividades de entretenimento – programação de shows, teatro, exposições –  e cada vez menos destaca a opinião de um crítico, pela qual é possível não só avaliar ou identificar dentro de um contexto a obra ou artista, assim como, de estabilizar, com base em um conhecimento teórico e cultural, a variedade das opiniões e as diferentes sensibilidades.

A falta de crítica na avaliação de um trabalho artístico, que cedeu espaço às necessidades de mercado e aos interesses econômicos, não é um fenômeno observado somente no Brasil.

Hoje é uma situação que afeta quase todo o mundo capitalista.

Na Itália, o berço das artes no Ocidente, o jornalista italiano e crítico de arte, Nicola Maggi, que vive hoje em Florença, confirma que a crítica de arte não existe mais. A matéria publicada originalmente no CollezionedaTiffany.com coloca claramente que o crítico de arte está extinto ou sem conteúdo teórico ou obrigado a se curvar ao que o mercado exige.

Eis o conteúdo traduzido da matéria:

“Há um ano, numa bela entrevista publicada na Revista Neuramagazine.com  por ocasião da inauguração da Arte Fiera, o colecionador Giorgio Fasol, destacou uma situação que está visível a todos, mas que poucos parecem ter coragem de denunciar de modo explícito: ‘Não existe mais crítica de arte hoje.

As críticas são ao máximo as escaramuças e os ressentimentos que um crítico diz ao outro ‘da próxima vez eu vou fazer você pagar’. Se a opinião de Fasol parece exagerada, vamos então percorrer as páginas culturais de qualquer de nossos jornais ou de uma revista do setor para confirmar o fato.

Excluindo as páginas da Reppubblica, com opiniões de Jean Clair , e ler os artigos dedicados a exposições dos mestres incontestáveis da arte moderna e contemporânea (pouco mais do que a História da Arte publicadas pela editora Bignami ) e resenhas de exposições de artistas que, neste momento, estão tendo algum sucesso no mercado que por trás têm uma galeria influente. Nada mais.

 E o pior é que as opiniões são muitas vezes o resultado de um copiar e colar dissimulados pela imprensa porque são escritas pelo escritório das galerias ou apresentações feitas pelo curador do momento, a nova figura dominante no Sistema Internacional de Arte Contemporânea de imprensa.

Com o resultado de que, no papel, tudo parece bonito e cada artista um talento. Mas que contribuição pode dar essa situação para o debate sobre a arte, divulgação e compreensão da arte contemporânea? A resposta é simples : nenhuma!

Classificar e dar votos

Como explica Demetrio Paparoni, de fato, o papel do crítico não é classificar gráficos de merecimento, dar votos e conselhos para quem deseja comprar, mas, sim, mover-se em paralelo com os artistas cujas ideias aprecia e também fazer suas escolhas formais, explicar a obra, quando e onde acontece.

Somente desta forma, a crítica pode oferecer uma contribuição fundamental para o debate aberto sobre arte, protegendo-a da ação corrosiva de seguidores nostálgicos. De beleza, que hoje em dia se produz em demasia, a tarefa crítica é esclarecer onde elas se escondem, como e onde ocorrem, o que as torna visível ou a verdade oculta.

“Não é só isso, a crítica também tem a tarefa de trazer à tona, em sua análise da obra de um artista, as referências à história da arte, com destaque para os elementos que são inovadoras e aqueles que, no entanto, se ligam à tradição mais ou menos recente.

Hoje ele é bom quando nos confrontamos com escritos que são meros exercícios de estilo, um exemplo de texto criativo – normalmente árduo de compreender – que tem somente o efeito de relegar a arte contemporânea ao mundo dos adeptos aos trabalhos, questionando a credibilidade de sua mensagem social.

Declínio

Simplificando, com o declínio da crítica – começou na década de oitenta – não cumpriu o papel de ‘mediação cultural’, que é fundamental para a compreensão (entender) para o pleno desenvolvimento da arte do nosso  tempo. Como se isso não bastasse, com o desaparecimento das páginas de revistas e jornais que mantinham os críticos militantes, que colocando em jogo contribuíam para o surgimento de novos talentos, não foi possível conseguir para o colecionador pontos de referência para descobrir o que existe ou o que está surgindo, mas também para os artistas que  nas palavras de um crítico poderiam encontrar indicações importantes sobre como crescer e ter sucesso.

Com o colapso das ideologias, o fim do movimento de vanguarda, a globalização e o afastamento de todos os tipos de discursos e de expressão artística, o debate intelectual enfraqueceu, chegando à situação que eu descrevi no início e que, de fato, coincide com uma abdicação total de críticas e uma consequente aceitação incondicional por parte do mundo da arte, de qualquer tipo de obra (pelo menos aparentemente) e a necessidade de um julgamento de mérito: basta funções e em particular, que as funções sejam para o mercado.

Aqui que se encaixa, muitas vezes substituindo a do crítico, a figura do curador, isto é, nas palavras de Mark Meneguzzo , aquele que é experiente, que sabe como organizar, mas acima de tudo, é um testemunho do existente e do presente, sem querer ir mais longe. “

Curador substitui o papel do crítico

Pessoalmente não tenho nada contra a figura do curador, mas a questão que opino ao fato que ele possa substituir o papel do crítico. O máximo deveria ser considerada uma figura complementar. Isso é, independentes e de ou relacionados com as instituições de arte, de fato, o curador é frequentemente condicionado – num modo mais ou menos consciente – às escolhas  daqueles que são os poderes do Sistema de Arte, em particular, do mercado.

E que, dada a importância que obteve a sua figura a nível internacional, repercute também sobre os componentes  acima de qualquer suspeita do sistema, tais como os museus de arte contemporânea.Tente dar uma olhada nos resultados de leilões nos últimos anos e compará-los com as escolhas feitas por algumas das instituições de arte líderes no mundo em termos de exposições temporárias e você vai entender o que quero dizer.

Mudanças

O mundo está mudando cada vez mais rapidamente e como acontece com outras indústrias, a arte está em um estágio intermediário entre antes e depois em busca de seu novo equilíbrio. E a incerteza em que vivemos é certamente ligada a esta situação. Mas se você pensa que é ser avesso aos costumes atuais, tentar desfazer completamente as mudanças que estão ocorrendo, eu por outro lado, acredito que é vital, embora talvez irrealista. E nesse sentido, eu acho que a “reabilitação” da crítica de arte é essencial.

Novas ideias

Basta pegar um debate crítico saudável, com seus contrastes e suas batalhas e você pode, de fato, fazer emergir dele novas ideias que são selecionadas com critérios diversos daqueles ditados pelo mercado, das modas do momento. Só através de um confronto aberto entre os diferentes pontos de vista é possível revitalizar o mundo da arte – especialmente a ocidental – o que parece cada vez mais estagnado e homologado do ponto de vista da linguagem, nos quais os artistas da velha guarda e os talentos emergentes parecem fazer um pouco as mesmas coisas.

Talvez, a nível internacional, isso pode ser pouco utópico, mas se começarmos a fazer isso já na Itália, provavelmente poderemos dar um impulso útil para a nossa produção artística, por meio de um confronto direto, que não me parece que tenha nada de menos de outras nações'”.

Olhar Crítico

Nicola Maggi está certo quando pontua que a ausência da crítica é uma realidade. Além de alertar para o risco de confundir o papel do curador com o do crítico de arte. O curador está sempre preso ao artista, a obra, ou à instituição que ele promove ou faz a curadoria – ao qual é o tutor.

O grande risco, neste caso, é que haja uma prostituição de ideias que poderá interferir no livre debate sobre arte. A jornalista brasileira e pesquisadora, Paula Viviane Ramos, num texto publicado em 2008, diz que falar sobre ausência de crítica de arte no Brasil já se transformou num clichê, embora se permite fazer “algumas breves reflexões sobre o morno, para não dizer ausente panorama crítico na mídia contemporânea”.

Papel do curador

A pesquisadora também acentua a diferença entre o papel do curador e do crítico. “Trata-se, de fato, de uma nova função, articulada à lógica institucional das artes visuais na contemporaneidade e que difere daquela do crítico de antigamente, respaldado no discurso, na mediação”. (panoramacritico.com)

Certamente, o jornalista italiano tem razão em propor como essencial, a reabilitação da crítica de arte.

Se na Europa a situação é urgente no Brasil é uma necessidade para que o país possa ser salvo e resgatado em sua cultura artística. A participação dele nas duas últimas Bienais de Veneza são um exemplo de estagnação. O pavilhão brasileiro é sempre nostálgico (sempre artistas já renomadas, Ligia Clark este ano) e pouco aproveitado com grandes talentos que existem em nosso país.

Somente a atitude crítica dá elementos para julgar e apreciar uma obra de arte e consequentemente a arte, como segmento da cultura será capaz de provocar uma transformação.

Salvo alguns cadernos especializados em cultura, como o Ilustríssima, da Folha de São Paulo, a revista Bravo, e outros poucos, a arte não tem espaço na grande mídia e como já disse uma vez o crítico de arte e professor e uma vez organizador da Bienal de São Paulo, Agnaldo Farias, a arte é considerada no Brasil o patinho feio das Ciências Humanas e o artista é sempre desprestigiado.

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Seu Estefano

Por Luiz Ernesto Wanke –

(Durante o tempo que fui dentista na Penitenciária Central do Paraná ouvi muitas histórias dos internos. Esta, da morte do Seu Estefano é uma das poucas documentadas, no jornal interno, que o ‘Repórter Maluco’ – como ele se autodenominava – registrou no seu jornalzinho ‘Notícias das Grades’, mimeografado na secretaria da penita e distribuído entre os internos).

Tinha as mãos suaves e milagrosas de anjo como os companheiros de cativeiro alardeavam pelos cantos da penitenciária. No seu ofício de massagista entendia como ninguém de músculos doidos e nervos fora do lugar. Trabalhava como preso voluntário lá no fundão, na ala da saúde e numa maca improvisada. Na sua arte usava somente sua bendita mão, esfregando água como linimento e ia subindo nas massagens pelos arredores do problema chegando ao exato lugar do machucado.

Num lugar onde nada é de graça, ele não aceitava nada pelo bem que fazia. Recusava dos colegas até um ‘courinho de rato’, como chamam lá dentro uns trocadinhos de pouco valor. Quando um aliviado insistia, repetia orgulhoso que – graças a Deus – ele não dependia de paga:

“- Tenho dois filhos que qualquer dia desses vão aparecer na visita de domingo…” E como ninguém nunca viu no pátio nenhum desses parentes, ele arremedava sua desculpa: “- Sabe do sítio até aqui é chão!”

Como suas palavras fizessem parte de uma conspiração, ninguém se atrevia a perguntar mais nada. Todos disfarçavam virando o rosto. Mas do canto de olho lá estava sempre a lágrima furtiva que o massagista procurava disfarçar, tossindo.

Também estava implícito neste acordo silencioso do massagista e seus pares, que ninguém perguntasse mais nada. Sua história era repetida a toda sessão de massagem e ouvida automaticamente em silencio sepulcral.

Por sua vez, enquanto trabalhava, seu Estefano continuava sua prosa, agora mudando para outros causos mais alegres:

“- Sabe, quando eu era moço fui namorador… Mas durou até que conheci a falecida Maria na fazenda do compadre de meu pai. Nem terminei de botar o olho grande nela e me encantei desde a primeira vez… Estava sentada de costas, distraída, tirando leite da vaca quando eu cheguei por trás e taquei-lhe um beijo. Não sei o que me deu na cuca, tanto que a menina ficou desorientada e nem tirou seus olhos do ubre da vaca. Na surpresa, o susto fez que ela resvalasse no balde entornando todo o leite e tingindo de branco o chão lamento. Depois, deu no que deu e nos casamos”

Passado o papo nostálgico, a conversa era livre. Então o pessoal podia provoca-lo:

“- E aquela ‘chinfra’ (mulher bonita) da visita do domingo? Benza Deus, que mulherão!”

Parava a massagem e arrancava uma carcomida carteira do bolso, com as mesmas fotografias coloridas e sebosas para mostrar para os assistentes como se fosse uma  novidade:

“- Veja, está com a filharada criada como eu!”

Na semana que antecedeu o dia das mães seu Estefano tirou folga para preparar um bonito e vistoso cartão para a nova namorada quarentona. Desenhou um grande coração vermelho no centro da cartolina e cobriu-o colando um pedaço de veludo vermelho. Pediu para o companheiro de cela que copiasse em letras caprichadas as palavras bonitas ditadas pelo enfermeiro, falando de amor, felicidade e esperança.

No dia da entrega, infelizmente, o cartão ficou abandonado em cima da maca. Acharam-no morto na cama na manhã do domingo festivo. No sábado, tinha reclamado de uma dorzinha no peito, mas coisa sem importância, segundo ele relatou para os companheiros. Ia esperar até a segunda feira para consultar com o médico da cadeia.

E quando a segunda chegou e na penitenciária voltou à rotina de trabalho, os funcionários e guardas de segurança da ala da saúde ficaram chocados com a repentina perda, já que Seu Estefano era um cara querido por todos. Diante daqueles comentários aos bons que aparecem nestas ocasiões, um dos guardas encasquetou:

“- Destino cruel pro seu Estefano… Morrer assim? O que será que ele fez para merecer este castigo dos infernos?”

Alguém se lembrou:

“- Quer saber mesmo? Pergunte na secretaria pro Zé das Fichas.”

  O guarda foi mesmo consultar o prontuário do falecido, lá no prédio da administração. Voltou furibundo:

“- Então o que o velho fez de grave?”

“- Rapaz, numa noite escura em seu sítio, ele esfaqueou a mulher – aquela do balde de leite – esquartejou-a em nacos pequenos, colocou as partes dentro de uma mala, completou com pedras e atirou tudo no fundo do rio que passa atrás de sua casa.”

 

Foto: 20minutos.es

“Tudo o que você pensa e sofre, dentro de um abraço se dissolve.”

Onde você gostaria de estar em esse exato momento? Martha Medeiros já sabe. Já sabe e repete pro mundo: não há lugar melhor para estar que dentro de um abraço. E assim é. Entre todos os lugares do mundo, entre todos os lugares físicos e imateriais, que lugar melhor pode haver que estar dentro de um abraço.

Abraço de amigo, de irmão, de pai e mãe. De todas as formas e reformas. Abraço pelo simples fato de abraçar.

Quando estive na Alemanha, minhas duas melhores amigas de longa data estavam ali pra me receber: e que menos que um abraço. Um abraço forte e caloroso que poucas vezes encontrei nos braços de outras culturas. Alemães, que são considerados um povo frio, seco, não fizeram mais que me encher de abraços nesses 5 dias que fiquei em Berlim.

Me lembro que fui jantar com as minhas amiga Linda y Franzie e todos seus amigos (alemães claro) em um restaurante no centro de Berlim. Não conhecia ninguém mais que elas.

Quando as duas me apresentavam cada um dos seus amigos, o habitual aperto de mão reinava. Não nos conhecíamos de nada e pra mim parecia uma atitude mais que normal, ja que estavámos em um país anglo-saxão. Que mais podia esperar?! Olhos nos olhos, um sorriso tímido e um bom aperto de mão. Isso sim, firme, bem firme; daqueles que impactam com o forte que pode ser uma personalidade.

O curioso veio depois. Passamos 2 horas naquele restaurante, conversando e tendo uma janta super agradável. Acabei conhecendo a todos. Quando a janta terminou, todos os amigos dela me despediram com um abraço. E não um abraço tímido, mas sim cheio de afeto, daqueles que que envolvem toda as suas costas.

Perguntei a ela, sobre isso, meio constrangida, afinal, mesmo brasileira, não dou abraços assim a “tout plein”. Confesso que devo ter dado os piores abraços da minha vida. E, na verdade ,hoje não encontro esse porquê.

Os amigos de Linda me estavam demonstrando afeto. E por que eu não podia retribuir? Não é fácil fazer amigos em Alemanha, fazer parte de um grupo ou tentar conhecer alguém. Linda me estava rompendo barreiras que eu sozinha talvez não seria capaz. Naquele momento me senti como se fizesse parte de um grupo, de uma cultura, de um país. De certa forma, eles diziam que eu era bem vinda. E então por que não retribui esse abraço que todos, tão amavelmente estavam me dando?

A resposta eu não tenho, mas todos os anos penso em voltar ali, e ver todos de novo. Penso em cada minuto em abraça-los, e, por uma fração de segundo estar dentro de um abraço. Penso em quão amável me resultou eles e que viagem mais profunda realizei. Acabei quebrando tabus, rompendo paradigmas e aceitando, de forma até sobrenatural, que o diferente pode ser lindo.

Porque Martha Medeiros tem razão. Tem coisa melhor que estar dentro de um abraço?!

– Às minhas amigas Linda y Franzie

“Tudo o que você pensa e sofre, dentro de um abraço se dissolve.”  – Martha Medeiros – Livro: Feliz por Nada

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Duas surpresas em Cortona

Instigada primeiramente pelo romance/filme “Sob o sol da Toscana” elegi para conhecer a cidade italiana de Cortona.

É uma cidade localizada entre as regiões de Umbria e a Toscana, situada no alto de uma montanha, espreitando o vale fértil de azeitonas e parreiras entremeadas por altos ciprestes, típicos da região, formando uma paisagem verde de muitos matizes.
Ainda no Brasil, conversei com meu sobrinho Carlo que disse ter se apaixonado pelas paisagens mostradas no filme, e mais que isso, o seu filho João, um menino de doze anos, que assistira o filme duas vezes despertado pelas imagens maravilhosas da região Toscana. Prometi enviar todas as fotos que fizesse no percurso, o que cumpri religiosamente para alegria de João.

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Não sabia nada sobre aquela cidade, a não ser ter sido cenário do famoso filme.

Em Florença de onde partimos, eu e minhas amigas, de trem o primeiro destino foi Camucia, cidade onde se chega para ir até Cortona, lá em cima dos montes, isto porque não circulam carros nem trens na cidade fechada com as muralhas típicas das cidades medievais.

Desânimo total, pois chovia torrencialmente.

Que fazer, “estamos na chuva para se molhar”.

Chegamos, finalmente, em Cortona, e, entre uma estiada e outra, começamos a nos deslumbrar com suas lindas ruelas, com as casas medievais, com surpreendentes escadas pelo caminho, flores caindo sobre as janelas, promenades, aqui e ali, que descortinavam as mais belas paisagens toscanas.

É como mergulhar num passado longínquo.

E, foi caminhando nesse tempo, que a primeira surpresa aconteceu, me deparei com um Museo Etrusco, indicando que eles estiveram por ali, daí o estilo etrusco das muralhas que havia percebido no início do caminho..

Cortona foi construída por aquele povo que admiro muito, vez que desenvolveram uma civilização admirável, tanto sob o ponto de vista político quando artístico, e, principalmente no reconhecimento do papel da mulher na sociedade.

Vanguardistas, permitiam ativa participação sociais delas inclusive nas atividades econômicas.

Se destacavam nos negócios, os etruscos detinham poder econômico sobre os demais povos na época, com o acúmulo de riqueza, despertavam a cobiça dos vizinhos, obrigando-os a cercar suas cidades com grandes muralhas. Deixaram fortes marcas em várias cidades da Toscana que eram dominadas por eles.

Etruscos

Foi no Museu Etrusco de Roma, há alguns anos atrás que conheci mais de perto, pelas peças ali exposta, um pouco da maravilhosa civilização que foi.

Mas, continuando na minha peregrinação em Cortona, admirando a pequena cidade, nem imaginava me deparar com a segunda surpresa que me extasiou.

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Fra Angélico

Vi na frente da Igrejinha de Jesus, no alto da cidade onde se depara com uma vista grandiosa da Toscana, o pequeno Museu Diocesano, resolvi entrar certa de que abrigava apenas obras de arte marginais.

Eis que me deparei com muita alegria com nada mais do que a “Anunciação” (em italiano, Annunciazione) de Fra Angélico, a obra do beato foi das que mais busquei nos museus que visitava. Existe outra obra “Anunciação” do frei, no Museu do Prado, mas esse tríptico ( é geralmente, um conjunto de três pinturas unidas por uma moldura tríplice dando o aspecto de serem uma obra), tempera sobre madeira, é especial.

O do Prado foi pintado antes (1430/32) o do Diocesano (1433/34), neste, o beato destaca mais a notícia do anjo para Maria, e, no canto esquerdo diminui a importância da expulsão de Adão e Eva do paraíso), e, embaixo relata cenas importantes na vida da Virgem, ambos são belos.

Delicadeza dos traços

Fico deslumbrada, com a delicadeza dos traços nas pinceladas de Fra Angélico, sua pintura é um prenúncio do renascimento, com a preocupação essencial com a técnica, já demonstrando a noção da perspectiva, dando uma certa tridimensionalidade à obra, enquanto até então predominava a linearidade.Na obra se observa uma verdadeira aliança com o divino.

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Outra obra importante de Angélico é “ O juízo Final”, onde existe uma certa modernidade em revelar o estado íntimo dos personagens.

Sinto e penso, que ver a Anunciação, foi um dos grandes presentes que a vida me deu.