Em meio as matizes de verde da paisagem natural de Inhotim, em Minas Gerais, o vermelho se destaca em instalações que são assinadas por dois artistas que construíram parte da história da arte contemporânea no Brasil. Tunga (1952-2016), com seu “True Rouge” (Vermelho Real- 1977) e Cildo Meirelles ( 1948), com “Desvio para o Vermelho ( 1967-1984)”.
O pavilhão em que Tunga ancorou seu Vermelho Real – exato, ancorar é o verbo mais apropriado para definir a construção que avança sobre as águas de um lago do parque – é lúdico visto à distância. Talvez, pelos objetos suspensos em vermelho vivo, intenso, e a sensação que o projeto arquitetônico também flutua sob a água. Lembra os móbiles de Alexander Calder como num sonho de criança.
Tunga era emblemático e quase sempre usava a performance para inaugurar suas obras. Nessa instalação, na época em que foi inaugurada, atores nus interagiram com os objetos pendentes: recipientes contendo um líquido viscoso vermelho que derramavam sobre si e os vidros, em diversas formas remetendo aos ciclos vitais. O trabalho surgiu do poema que lhe deu título, escrito por Simon Lane (1957-2012) e que descreve uma ocupação do espaço pelo vermelho, valendo-se de trocadilhos entre a língua inglesa e a francesa.
Um detalhe: o tempo é implacável e o vermelho desbota, evapora como o sangue também, sem o sangue, sem fertilidade, a vida se esvai. A instalação contemporânea é temporal, sobretudo True Rouge, o Vermelho Real, que contextualizado evapora pela luz, a energia da vida….
Na instalação de Cildo Meirelles, “Desvio para o Vermelho”, não é o lúdico, algo etéreo, suspenso, subjetivo. É a matéria, o cotidiano que consome e aprisiona pelos detalhes. Ao colocar três ambientes articulados entre si, o artista coloca a realidade da matéria, dos móveis, também o sangue que escorre no espaço escuro ao lado.
A instalação é aberta para simbolismo e metáforas e se a leitura for num plano social e político, o sangue da ideologia escorre por um espaço monocromático que oscila em diversos tons de vermelho, à exaustão, à violência, à tortura em todos os níveis….
“Em termos muito simples o desvio para o vermelho (também conhecido pelo termo inglês (redshift) corresponde a uma alteração na forma como a freqüência das ondas de luz é observada no espectroscópio em função da velocidade relativa entre a fonte emissora e o receptor observador.
Devido à invariância da velocidade da luz no vácuo e admitindo um emissor e um receptor em repouso relativo, um raio de luz é captado como uma cor padrão em função de sua frequência”. Fonte: wikipédia