Estava em Fnideq, cidade litorânea ao norte de Marrocos, quando aconteceu o terremoto no sul. O mar Mediterrâneo azul e cristalino terminava na areia branca e a vida seguia seu curso nas praias do norte...
Ao sul, milhares de mortos e comunidades inteiras destruídas, e monumentos de valor histórico inestimável numa das cidades ícones de Marrocos – Marrakech. É assustador o contraponto, de um lado a tragédia e de outro a vida seguindo seu curso, mais assustador é -acompanhar a situação assistindo tudo numa realidade virtual e ao mesmo tempo, estar tão perto da tragédia.
Dolorosa sensação de incapacidade e medo!
Nesse momento temos a exata noção da impotência diante da fúria da natureza e a impermanência da vida, na qual cada pessoa nesse mundo tem uma trajetória a percorrer para evoluir ou não. Por que? … é sempre a pergunta.
Uma tristeza e constrangimento invadiram o meu coração e por um tempo perdi a motivação para escrever. Tanto vi e muito senti pelo povo marroquino. Por isso, decidi colocar aqui o meu olhar sobre uma cultura, sobretudo de mulher ocidental independente interpretando modos diferentes de vida e tentando entender o papel da mulher em sociedades, cujo sistema é autoritário e rigoroso.
Apenas rápidas impressões sobre a vida de pessoas que seguem e acreditam numa outra verdade, que interfere em seu comportamento cotidiano. Marrocos é um país, cuja religião, comida, hábitos são totalmente diferentes do nosso modo de vida ocidental. Um país com belas paisagens, rico em cultura e que vive em aparente tranquilidade sob o comando de um rei ( todos os estabelecimentos comerciais e públicos tinham a foto de Moammed VI). Enfim, vamos aos flagrantes que fazem a arte da vida e a vida como arte.
Essa imagem do camelo ou dromedário (não soube definir qual deles era) e seu guia é a representação de carinho na forma como ele trata o animal. Foi gostoso de ver o prazer do animal saborear os famosos figos da região. Assistam o vídeo e percebam que o olhar do camelo perdia-se no horizonte mastigando a fruta que seu amigo homem colocava em sua boca com a mão, sem receio de que escapasse uma dentada em seus dedos.
Não pensem que vivenciei um filme no deserto vendo inúmeros camelos passarem pelas areias quentes ou ruas da cidade. Ali, no norte, um tanto distante do deserto os camelos ( que importa se é camelo ou dromedário) aparecem um ou outro na praia, apenas para fins turísticos. Por uns trocos levar turista interessado na experiência de andar num camelo.
A realidade de fato, era que estávamos a 641 quilômetros de Marrakech, distante do sismo e ali em Fnideq o mar continuava intensamente límpido e turquesa. A ruas arborizadas e tudo muito comportado (para turista ver) e limpinho num país que é governado por um rei – Moammed VI – pertencente a uma dinastia que tem reinado em Marrocos desde 1666.
Pessoalmente adorei a comida cheia de especiarias, tomilho, cúrcuma, açafrão, etc.
Além do cuscuz marroquino, os tajines são pratos poderosos que alimentam sem deixar espaço no estômago. As opções de carne são cordeiro, frango, ou peixe, bem cozidos numa panela especial de barro. O que aparece na foto, com batatas fritas, é de frango e as fritas são uma adaptação ocidental. O tradicional é com legumes.
O mais interessante na alimentação deles, é que não usam muito os talheres. Os tajines são praticamente consumidos com as mãos. A família se alimenta com o pão embebido no molho e vai beliscando a carne.
Os tapetes e utensílios que mostramos na imagem são do centro de artesanato da Medina Antiga de Tetouan.
Medinas são um aglomerado de casas e ruelas, partes antigas e históricas, que costumam ser muradas. São verdadeiros labirintos de ruas estreitas e comércio diversificado.
Não se arrisque a andar sem guia nesses locais porque jamais achará o lugar por onde entrou. Apesar disso, uma medina é imperdível e deve ser visitada. Por acaso, mas não tanto, um guia nos abordou e conseguimos fazer o percurso dentro da Medina de Tetouan, é claro, que foi muito rápido e gostaria de retornar sozinha, sem dúvida com GPS. Isso para parar onde sentia vontade e não nos que o guia já tinha acordo. Caso queira arriscar sozinho é fundamental ter um GPS ligado. Não posso garantir que a internet seja funcional onde estive visitando.
A cidade Fnideq faz fronteira com a Espanha e oferece aos turistas europeus belas praias e a possibilidade de chegar a Marrakech numa viagem mais longa. Mas vale permanecer pelas praias do norte de Marrocos, O trajeto de Lisboa passa por AAlgarve, Sevilha, Algeciras- local que se pega o Ferry e atravessa o estreito de Gibraltar para Ceuta, ainda na Espanha e chega a Fnideq. O famoso e histórico estreito de Gibraltar tem várias companhias que transportam carros e pessoas. Os bilhetes podem ser adquiridos online.
No passado foi uma importante rota de passagem comercial que ligava a Europa ao Oriente Médio. Antes de qualquer coisa, garanta seu bilhete para o ferry que sairá de Algeciras e prepare-se para pagar em euros carro e pessoas. Importante também fazer um seguro específico para o carro que é solicitado na aduana marroquina. Aliás, inspeção minuciosa na entrada e na saída. Inclusive nas bagagens por parte de Marrocos. Intimida um pouco!
As montanhas que compõem a cidade Gibraltar, vista de longe, parecem a imagem de pessoa deitada sobre o mar que placidamente permanece olhando para o céu sem se incomodar com o intenso “ir e vir” de navios, ferries que passam ao seu lado.
Como toda área turística, essa região no norte Marrocos é bem cuidada, nas ruas principais, agradável e cheia de casas brancas com detalhes ou azuis ou verdes. Suas sacadas são esplendorosas, espaçosas para saborear ensolarados cafés da manhã ao ar livre. Típicas casas mediterrâneas. Conseguimos alugar uma dessas num condomínio muito legal, num preço mais acessível que nas badaladas praias do Algarve. Tudo online, via aplicativos específicos para aluguéis e turismo.
Fnideq é a primeira cidade marroquina, saindo de Ceuta. As praias são belíssimas e a região oferece opções em outros balneários próximos como Smir, M’Diq, Tetouan. Verdadeiras piscinas de águas transparentes e próprias para mergulho. Um tanto geladas mas irresistíveis.
Num país como Marrocos é importante falar bem o idioma francês ou inglês. Melhor o francês porque grande parte da população te entenderá e não haverá equívocos nas compras e nos preços. Porém. tudo é muito barato em relação ao euro. Um euro por 10 Dirhan (moeda marroquina).
Essas rápidas impressões foram suficientes para perceber que as diferenças culturais devem ser respeitadas, assim como nós queremos ser acolhidos como visitantes. Marrocos é um país com 37 milhões de habitantes (censo de 2021, informação Google), com visível desigualdade social, liderada por um rei e com a maior parte da população adepta ao islamismo.
Na sociedade muçulmana não se admite bebidas alcóolicas. Para o turista desavisado é importante alertar que não é vendida bebida alcóolica em bar, restaurante e supermercado. Pelo menos, na região que visitamos de Fnideq até Teutoua.
De acordo com as leis islâmicas é proibido consumo de álcool em locais públicos. Se for pego estará sujeito a multa e prisão.
Os bares vendem café e chás e são frequentados por homens.. Aliás, o mundo é dos homens em diversos aspectos que vamos abordar em outro artigo.
Portanto, a cervejinha gelada debaixo do guarda-sol apreciando o mar azul é para outras paragens. Não esqueça disso! Na praia poderá saborear bons sucos de laranja e um delicioso chá quente de hortelã, que os vendedores ambulantes vendem aos banhistas. Um país inteiro não consumir bebida alcoólica é algo incrível pela força de persuasão à população contra a indústria das bebidas!
Mas sempre haverá um jeitinho…. basta perguntar onde!