As bonecas karajá são únicas, tanto pelo significado e simbolismo, como pela proteção cultural. São feitas por mulheres indígenas e representam os saberes dos povos originários.
O modo de fazer das bonecas Karajá é um “bem” cultural protegido pelo Iphan desde 2012 e representam, muitas vezes, uma fonte de renda para as famílias indígenas no Tocantins.
As pequenas e interessantes peças de barro confeccionadas pelas mulheres da etnia indígena karajá ou Carajá, da Ilha do Bananal, no Tocantins, foram as primeiras bonecas reconhecidas pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) para o fortalecimento da cultura dos povos originários do Brasil.
O projeto Bonecas karajá: Arte, Memória e Identidade Indígena no Araguaia foi o primeiro artefato feito por índios, transformado em patrimônio imaterial nacional, aprovado pelo Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural do Brasil.
As bonecas Karajá representam o modo de viver e os saberes tradicionais dos Karajá, etnia indígena que habita as áreas naturais, junto com os Javaés, da maior ilha fluvial do mundo, localizada no sudeste da região Norte do Brasil.
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As esculturas de cerâmicas contam histórias do cotidiano da tribo e ajudam a repassar fatos e lendas místicas da origem do povo karajá.
A coordenadora do projeto Narubia Karajá ( fonte Iphan) explica que as peças artísticas traduzem os valores sociais, cosmológicos e pedagógicos e regras em sociedade para crianças da tribo, que é repassado principalmente para a menina, quando recebe a boneca como primeiro brinquedo.
A atividade de confecção é exclusiva das mulheres e desenvolvida com o uso de três matérias-primas básicas: a argila ou o barro – suù; a cinza, que funciona como antiplástico; e a água, que umedece a mistura do barro com a cinza.
A luta pela preservação do modo de fazer das bonecas começou em 2009, a partir de um trabalho minucioso de identificação das matérias-primas, técnicas e etapas de confecção e resgate dos mitos e histórias narradas pelos Karajá que expressam a rica relação entre seu povo e o rio, a fauna e a flora, as relações sociais e familiares e a organização social. Este registro está delineado nas formas e nas cores preto e vermelho das bonecas que representam, muitas vezes, a única ou a mais importante fonte de renda das famílias.
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“Atualmente, as bonecas Karajá integram o acervo de vários museus no país, são procuradas como objetos de decoração e comercializadas junto a turistas e lojas de artesanato locais, regionais e nacionais. Entretanto, devem ser compreendidas além da sua expressão material, visto que, desde a sua confecção, desempenham um papel importante na reprodução cultural do povo Karajá. Desta forma, o DPI/Iphan pede a inscrição do Ofício e dos Modos de Fazer as Bonecas Karajá no Livro dos Saberes e, ainda, a inscrição das Ritxòkò – Bonecas Karajá no Livro das Formas de Expressão, como patrimônio cultural brasileiro.
O objetivo é estimular a sua produção entre as mulheres Karajá, possibilitando o crescimento das condições de autonomia das ceramistas frente às demandas externas e, ainda, fortalecer os mecanismos de reafirmação da identidade Karajá”. Fonte: Iphan
Tocantins abriga a maior ilha fluvial do mundo: a Ilha do Bananal. Um espaço de 20 mil quilômetros quadrados de extensão, considerado um dos santuários ecológicos mais importantes do país, onde convivem os ecossistemas de cerrado e floresta Amazônica. Em seu território pode ser vista uma rara diversidade de animais e plantas. A maior parte da ilha está dividida em duas áreas de reserva ambiental: ao Norte, o Parque Nacional do Araguaia; ao Sul, o Parque Indígena do Araguaia, que abriga indígenas das etnias Carajás e Javaés. Localizada entre os rios Araguaia e Javaés, a Ilha do Bananal fica com até 80% de sua área inundada no período de chuva, de setembro e março
As esculturas e cerâmicas indígenas registram os saberes dos povos originários do Brasil. Nesses artefatos, os indígenas condensam suas relações com o meio, emoções, costumes e cultura e nos ensinam sobre a vida na floresta. seus animais e plantas.