Hélio Leite e Efigênia Rolim vivem em outra dimensão da matéria. Os dois artistas paranaenses são geniais na maneira como se relacionam com o mundo!
cconseguem transformar um objeto insignificante em algo lúdico e colorido. O lixo descartado por um sociedade sem limites de consumo. É o sapato velho que se transforma em presépio, ou um teatro minimalista de botão adaptado na velha mala, a Fênix esplendorosa de asas abertas feita de caixinhas de fósforos.
Esse universo incrível de obras somente citando Hélio Leite, mas pera aí, a criação de Efigênia Rolim, hoje com mais de 90 anos e vivendo no asilo São Vicente em Curitiba, é outro universo à parte. Também repleto de boas vibrações e cor que simples palavras não descrevem a intensidade de suas obras recriadas em personagens do mundo da fantasia.
Cada peça é uma poesia que ela mesmo cria e produz e dá vida. Assim vive Efigênia, como vidente de um mundo utópico fazendo seu sapato voador, enfeitado e cheio de cor viajar pelo mundo afora nos mistérios de sua mente.
A mostra ‘Os significadores do insignificante’ foi uma das mais extraordinárias exposições de arte que visitei nestas andanças pelo mundo. Ao entrar na sala com mais de 200 peças expostas no Museu de Arte Contemporânea, temporariamente funcionando no Museu Oscar Niemeyer, alcancei o mundo dos sonhos e fui envolvida pela magia de cada obra ali exposta. Todas elas têm seu lugar numa história criada pelos artistas, numa eterna metamorfose do que era um palito de fósforo, um sapato velho, uma cabeça de boneca, um papel de bala, um plástico descartado. Sempre minuciosamente elaborado com cor e criatividade dando-lhes um novo papel numa dimensão mais digna do que foi quando objeto descartado em sem uso.
significadores do insignificante”são dois artistas visionários do Paraná e suas obras deveriam estar permanentemente disponíveis para o público visitar como patrimônio da humanidade. Obras que reforçam o papel da arte como um meio de transformação.
Hélio Leites nasceu em 21 de janeiro de 1951 na cidade da Lapa (Região Metropolitana de Curitiba). Formado em Economia, trabalhou 25 anos como bancário até a década de 1980. Porém, desde os anos de 1970 desenvolve o trabalho de performer e artista plástico, tendo desde então recebido diversos prêmios em salões e festivais pelo Brasil.
Em 1986 começa a expor, interagir com o público e vender suas obras na Feira do Largo da Ordem, no Centro de Curitiba. Sua barraca é um movimentado ponto de encontro de pessoas interessadas nas suas histórias e obras, sempre relacionadas com a estética do mínimo.
Em 2010 formou-se na Escola de Música e Belas Artes do Paraná. Criador da Associação Nacional de Colecionadores de Botão, secretário-geral do Fiu-Fiuuu Sport Club – Clube de Assobiadores, diretor de Harmonia da Ex-Cola de Samba Unidos do Botão, coordenador da Campanha Mundial de Antitaxidermismo, secretário da Associação Internacional de Kinderovistas, curador dos museus do Óculos, da Caixa de Fósforos, do Lápis e do Minipresépio.
“Para canonizar pessoas é preciso milagres,. Pra canonizar poetas, poemas”. Retrato de Sócrates – madeira, papel machê, tinta acrílica e metal. Hélio Leite, 2010.
Fênix- Quando a caixinha de fogo se transforma em caixinha de luz – Hélio Leite – madeira, caixa e palitos de fósforos, tinta acrílica, metal e fio de cabelo do artista.
Hélio Leite – madeira, mala, tecido, botões e caixas.
Por ocasião do lançamento do catálogo da exposição, a professora e crítica de arte, Maria José Justino e a jornalista Dinah Ribas Pinheiro, que fizeram a curadoria da mostra e assinam o catálogo. Junto eu, papagaio de pirata(rsss) de duas incríveis profissionais, Maria José minha professora na pós de História da Arte que lembro com respeito e admiração e Dinah, escritora e colega de profissão incansável em seu trabalho junto à Efigênia Rolim.
A noiva – 2018. Efigênia Rolim. Brinquedos, tecidos, papel de bala, madeira, metal, borracha, material de plástico.
Efigênia Rolim é artesã, contadora de histórias, poeta, assobiadora, performer e estilista. Nasceu em 1931, em Vila Granada, Santo Antônio de Matipó, município de Abre Campo (MG). Em 1965, foi morar com a família no Norte do Paraná, e em 1971 chegou em Curitiba. Participou de inúmeras exposições coletivas e individuais, desde o ano de 1991 até hoje, além de ter lançado livros, participado de performances, desfiles de moda, filmes, congressos, e concedido entrevistas a nomes como Jô Soares e Caco Barcellos.
O documentário “O filme da Rainha”, com direção do argentino Sergio Mercúrio, foi premiado no Festival de Cinema do México; recebeu do Ministério da Cultura em 2007 e 2008, respectivamente, as premiações “Culturas Populares Mestre Duda” e “Medalha da Ordem do Mérito Cultural”. Obteve várias outras menções honrosas, teses acadêmicas, entre outras realizações.
“Peguei meu conta gotas e comecei a pingar de uma conta na outra foi até formar o mar. Ie Oh Oh.” – Efigênia Rolim – Boneca, plástico, metal, crochê, madeira e plástico. sem data. Mais detalhes no www.pan-horamarte.com.br.
Trecho de vídeo extraído da mostra Significadores do Insignificante, no Museu de Arte Contemporânea do Paraná.
Eu sou uma girafa dentro de um sapato elegante. Viajo pelo mundo inteiro sem precisar de acompanhante. Efigênia Rolim. 2019/ sapato, papel de bala, metal e fio de lã.
Encontrei os brinquedos não tem mais segredo, agora é só alegria, nome e melodia Efigênia Rolim.
Um pequeno resumo da essência interior de dois artistas incríveis que permanecerão no tempo e no espaço. Por falar nisso, Helena Kolody define muito bem essa sensação que vive em todos os nós.
Loucura Lúcida
“Pairo, de súbito noutra dimensão
Alucina-me a poesia, loucura lúcida”.