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“Sanfona é tudo na minha vida. A música me mantém jovem”

A gaúcha Vercy Prietto encontrou na música o relacionamento ideal para manter-se jovial e saudável aos 83 anos. Começou seu caso de amor com a sanfona aos 12 anos, quando recebeu de seu pai um acordeon de presente de aniversário. Logo em seguida entrou num conservatório para aprender a tocá-lo. Hoje integra a Orquestra Sanfônica Potiguar, em Natal, e participa de eventos musicais junto à ONG Baobá.

“Sanfona é tudo para mim. Graças a ela é que estou assim”, garantiu a artista.

Uma resposta rápida., é claro, porque Vercy sabe que sua aparência física, de pequena estatura, magra, cabelos brancos brilhantes e pele saudável compõem um conjunto de fatores que  transmite uma vivacidade, que nem de longe lembra o estereótipo criado pela sociedade em relação a idade como um entrave para colocar em prática projetos de vida ousados.

Vercy nasceu, estudou, casou -se e teve três filhos e também separou-se no Rio Grande do Sul, mas foi em Natal, onde vive desde 1992, que a música retornou à sua vida e hoje faz parte do seu dia a dia. “Fiquei 50 anos sem tocar  sanfona”, conta. É importante explicar que esse espaço tão grande não interferiu no seu talento e foi provocado por circunstâncias da vida, sobretudo porque é mulher e ainda viveu num tempo em que elas, na maioria, eram preparadas para ser ‘do lar’.  Vercy formou-se no conservatório  aos 18 anos, num final de dezembro de 1954, para em seguida casar-se em janeiro.

A musicista lembra que foram os livros e partituras das netas que estudavam flauta a ponte para o retorno à música. “Comecei a estudar muito nos livros e dedilhava na mesma sanfona que foi presente de meu pai e que a conservo até hoje”. Assim foi lembrando de tudo que aprendeu no conservatório.

Orquestra e o Baobá

A retomada à música foi um passo para começar a sua carreira artística e participar de apresentações.

O link  aconteceu no dia do músico, quando estava assistindo  uma apresentação da Orquestra Sanfônica Potiguar no centro de Natal. “Ao final fui conversar com o maestro José Roberto e contei a ele sobre a minha formação musical”, lembra. Resultado desse encontro foi o convite para integrar a orquestra, que é composta por cerca de 30 figuras, entre 10 a 15 sanfoneiros.

A formação de Vercy pelo conservatório tem destaque para o acordeon clássico, mas hoje ela domina músicas do erudito ao popular. “Tem uma orquestra completa no acordeon, na direita é o solo e a esquerda acompanha”.  Ela não esconde a paixão que tem por boleros. “É a minha perdição”.

https://www.facebook.com/cantoranaracosta/videos/803447833183058/

O vídeo está no perfil da cantora Nara Costa. Assistam e vejam Vercy no canto esquerdo envolvida com sua sanfona num vibrante forró.

Haroldo Mota

A história do Baobá na vida de Vercy tem também um significado muito especial. Conta que sempre gostou de ‘Bonsai”e aprendeu a técnica para cultiva-lo e curte muito experimentar com diversas espécies de árvores. Um ‘Baobá bonsai’ foi uma de suas criações.

No entanto, o Baobá só cresceu e quebrou alguns vasos até ela decidir doar a muda. Segundo o seu relato, foi difícil achar quem se interessasse pela muda até achar Haroldo Mota e sua Ong Baobá. A muda de Baobá foi plantada na rodovia do Sol, em Natal, ao som do Bolero de Ravel, interpretado por Vercy. Foi uma festa!

Haroldo tem trabalho reconhecido como ambientalista no Rio Grande do Norte e frequentemente promove eventos para ressaltar a importância da espécie e a preservação da natureza.

Beleza na maturidade

A foto da capa e a atual revelam que o brilho nos olhos é o mesmo quando o assunto é música. A arte, em todas as suas manifestações, é alimento para alma. A beleza de Vercy, o seu envelhecimento corporal, neste caso, assume um outro patamar de beleza.

Não mais a beleza estética de um corpo exageradamente perfeito. Aqui me refiro uma beleza que transcende a matéria e transita no campo da energia, que se apresenta no brilho dos olhos e na força espiritual e psíquica de cada ser humano. Isso significa que as rugas transformam-se em marcas que refletem cada minuto vivido intensamente na trajetória de uma pessoa. É o corpo físico que se expressa numa narrativa poética de uma obra de arte.

Quando escrevo sobre beleza na maturidade lembro de uma entrevista encantadora que fiz com a poetisa paranaense Helena Kolody (1912- 2004), quando ela tinha 80 anos. Ela me fascinou pela sua beleza.

 “Ela é uma bela mulher. Os 80 anos deixaram apenas as marcas da sabedoria em seu rosto. Seus olhos de um azul cristalino, brilham quando fala de uma vida dedicada à poesia e ao ensino…”

Vercy Prietto é uma bela mulher em seus vibrantes 83 anos e seus olhos brilham quando fala de sua sanfona!

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