Como muita gente no Brasil, na adolescência frequentei o psicólogo. Não porque tivesse grandes problemas, problemas impossíveis de ser resolvidos ou porque alguém pensou que eu não fosse normal. Na realidade, fui ao psicólogo porque sou normal.
E adolescente, como tantos outros experimentei essa fase hormonal, esta transição entre ser criança e vida adulta… a aproximação, a realidade e comecei e notar que dentro de mim tinha muitas e muitas dúvidas.
Preconceito
Eu falo isso, porque noto que aqui na Espanha existe um certo preconceito com a palavra psicólogo ou terapia. Muitos dos meus amigos que vão hoje ao psicólogo não têm coragem de falar em nenhum dos seus círculos que fazem terapia.
E isso foi um fator que me chamou a atenção. A terapia não é vista nem encarada com bons olhos, e muitos entendem que quando uma pessoa é derivada ao psicólogo é porque sofrem de algum problema ou transtorno bastante avançado.
Às vezes chego a pensar que algumas dessas pessoas que eu conheço chegaram a esse ponto porque na hora certa não foram ao psicólogo. Se eu pergunto por aqui, muitas pessoas dizem que preferem falar com um amigo a pagar um profissional para serem escutados. Ledo engano. O psicólogo não substitui o amigo nem o amigo substitui o psicólogo.
Um bom psicólogo
O certo e aonde vou com tudo isso é que um bom psicólogo no momento certo pode ajudar muito agente entender a nós mesmos e esforçarmos e nos tornarmos aquilo que queremos ser. Obviamente o psicólogo vai te dar ferramentas, mas o único motor de mudanças nisso tudo é você. E você só vai começar a entender o que te falta ou o que você quer, ou quem você quer ser, se você se conhece.
Platão, um dos filósofos mais lidos e estudado de todos os tempos, é um dos pensadores que fala sobre o autoconhecimento. Conhece-te a ti mesmo. Tarefa difícil, sem dúvida. Muita gente quando é perguntada sobre si mesma não sabem nem responder: não sabem o que gostam, o que admiram, o que as motiva ou que tipo de pessoas querem ser. E isso é normal.
Principalmente na adolescência. Se nós adultos, que somos seres cambiantes e inconstantes não sabemos e não nos conhecemos, como vamos deixar que um adolescente se enfrente a todos estes desafios sozinhos?
Não pretendo defender a terapia na adolescência, senão defender a terapia nessas fases da vida em que estamos mais perdidos que o normal e que uma ajuda profissional orienta a encaminhar essas decisões.
Encarar a pessoa que vejo no espelho
O psicólogo na minha adolescência, com o meu pouco conhecimento e experiência de vida, me ajudou muito a encarar essa pessoa que vejo diariamente no espelho. Me plantou a semente sobre quem sou e aonde quero ir. Junto com elas muitas pessoas no meu entorno me ajudaram obviamente, mas não com todo o conhecimento que se requer.
Com este trabalho feito anteriormente e com as ferramentas na mão pude caminhar em frente e começar a fazer um trabalho de autoterapia: entender o que me deixa feliz, o que me deixa triste ou o que me deixa frustrada. E isso é o motivo do porquê que estou escrevendo esse texto.
Frustração
Esse domingo, passei por uma situação realmente frustrante no final da minha tarde e me alterei tanto pela impotência de pode-la resolver que no caminho de casa me correram umas lagrimas.
Hoje, vendo a coisa já com outra perspectiva, o tema não é tão grave, mas naquele momento teve a capacidade de alterar de certa forma meu estado de ânimo. O curioso é que quando entrei no metrô e estava metida na minha dor e frustração, comecei a respirar e dizer a mim mesma: isso tem solução e você não pode deixar que estes terceiros, que estas pessoas alterem o teu estado de humor.
Tinha uma cara de tão brava que notava que as pessoas no metrô me olhavam. Era visível o meu enfado. Foram 30 minutos no trajeto de casa em que comecei a dialogar comigo mesma: dizia que tinha coisas que não estavam na tua mão, mas o último que você pode deixar é que certas pessoas determinem seu estado de ânimo. Sei que tinha pilates mais tarde e que se chegasse em casa para resolver o tema perderia pilates e ficaria mais frustrada.
Diálogo comigo mesma
Então, basicamente, depois de todo esse diálogo comigo mesma, quando sai do metrô estava relativamente mais calma e fui pra casa com algumas decisões tomadas: primeiro que não ia perder pilates, que o tema podia ser resolvido depois e isso não implicaria e nenhum problema.
Segundo que ia a pilates correndo para de certa forma soltar toda esta frustração que tinha dentro de mim transformando em energia para o meu próprio benefício. E terceiro que não ia pensar no tema até voltar a casa porque isto só me causava ansiedade e não tinha porquê. E por último, olhando com perspectiva o tema realmente não era grave, já que tinha solução, ainda que me sentisse lesada.
Exercitar-se
De repente fazer esse exercício não foi fácil, mas foi muito produtivo. Já não é a primeira vez que faço isso, mas quem sabe ontem foi um desafio pelo tamanho da questão. Assim mesmo, passado todos estes meses lendo sobre filosofia, literatura junto com a minha passagem pelo psicólogo pude ver o bom que foi ter tido um profissional na minha vida.
No fim do dia, depois de sair a correr, fazer pilates, voltar para casa correndo e fazer ligações para resolver o problema, me senti orgulhosa de mim mesma e fui para cama feliz, fazendo que o meu fim de tarde que parecia que se ia torcer, se tornasse agradável de novo, porque soube identificar o problema, gerenciar meus sentimentos e aportar uma solução. Ou seja, depois de tanto tempo indo a terapia, fui capaz de fazer autoterapia comigo mesma e entender vários pontos de mim mesma e da minha frustração.
Autoconhecimento
Coisas como estas passam a diário na nossa vida e vemos como muitas pessoas soltam para fora a sua frustração de forma incontrolada. Até os mais controlados perdem o controle. E aqui não se trata de dizer que as pessoas têm que ser controladas sim ou sim. O que quero dizer é que o autoconhecimento proporciona ferramentas para entender e gerenciar o que se passa com nós mesmos e isso é muito importante para determinar o teu nível de felicidade no fim do dia.
O psicólogo foi essencial para entender isso. Outra parte essencial foi eu mesma, como pessoa que queria mudar de atitude e ser uma pessoa mais positiva e emocionalmente inteligente. O resto do trabalho foi eu comigo mesma, os livros e as horas de solidão, reflexão contínua sobre o EU, trabalho continuo para seguir adiante.
Encarar a si mesmo sem complexos é fundamental.
Tendemos pensar que os nossos medos e dúvidas são únicos e não passam com os nossos amigos. Ledo engano. Passa e mais do que pensamos. Não é porque eles não falam ou não se manifestam sobre o que está acontecendo que isso não ocorre. Eu sigo tendo muitos medos e traumas, e ainda muitos deles não saberia com enfrentar. O caminho andado, o trabalho já feito me permite saber quais são esses medos e saber identificá-los no momento apropriado.
E se for necessário voltar a fazer análise. Os resultados sempre foram positivos.