É engraçado ver como o tempo passa e o pouco que a gente assimila sobre isso.
Nesse último feriado aqui da Espanha comprei um bilhete pra Londres, só para ver uma das minhas melhores amiga da infância. A gente estudou juntas até os 15 anos e depois cada uma foi para um lado.
Ela foi estudar em outro colégio e eu também troquei. Anos mais tarde mudou-se para São Paulo e eu fui viver na Europa.
Mantivemos algum contato e até encontrávamos de vez em quando; mas não como antes. Acho que até os 15 eu dormi mais na casa dela que qualquer namorado que teve por toda a sua vida até casar. Só não dá para competir com o marido porque ele dorme com ela todos os dias.
Essência
O curioso dessa época de criança é que eu conheci minha amiga na sua essência e o seu desenvolvimento até a adolescência. O que aconteceu depois ficou de certa forma no limbo. Ver ela novamente, uma mulher feita e direita, é possível dizer que foi um choque.
Não ver o desenvolvimento de alguém que foi muito próximo nosso, faz a gente olhar a vida com perspectiva, e nos dá a condição de analisar a nossa própria evolução.
Camila criança e moleca
Eu ainda tenho a impressão de ver aquela Camila criança, moleca, que me pedia sempre ajuda nas provas de matemáticas. Também acho que ela me via como a Jaqueline tagarela e cara de pau, que não tinha vergonha de dizer o que vinha na cabeça.
Com certeza a gente mudou: bom, nem tanto… mas com certeza o fato de você apreciar essa mudança no rosto da tua amiga foi como um choque. Sim, nós estudamos juntas, saímos juntas, comíamos juntas e fazíamos quase tudo juntas… a separação não foi traumática.
Mas revê-la foi quem sabe um trauma – foi a vida acariciando um lado da tua cara mostrando o bonito da nossa amizade e na outra face, dando um tapa traiçoeiro do tempo que vocês não viveram.
Não que isso seja ruim, na verdade é maravilhoso. Dos olhos da minha amiga pude reviver meus melhores anos e perceber o passo do tempo como algo irreversível. Ali estávamos ela e eu, sentadas, contando as coisas que passaram e lembrando, ou tentando lembrar de todas as pessoas que passaram pela nossa vida nessa época.
A ignorância – Milan Kundera
Dizia Milan Kundera no seu livro “A Ignorância”, que a palavra nostalgia se revela como a dor da ignorância.
No nosso português mais singelo, a saudade.
Saudades daquilo que não vivi. Esse sentimento tão profundo e sincero nos revela de muitas formas no decorrer da nossa vida; o da mãe que não sabe o que se passa com o filho quando ele sai de casa, o do filho em relação ao pai ou a família, os nossos amigos que vão e vem no decorrer da nossa vida, os lugares que a gente vive, os países, os continentes.
Queremos viver tudo e sempre parece que algo nos escapa: e daí as saudades.
Somos saudosos por natureza. Porque nunca vamos conseguir alcançar esse estado de plenitude de estar em todos os lugares, em todas as horas. É preciso saber deixar as coisas pra trás: deixar que cada um tome seu rumo. E no dia que você as retoma, saber que elas nunca vão ser as mesmas.
Vida de imigrante tem muito disso: a gente aprende a deixar a coisas para trás. Se desapegar e tomar decisões que seriam ‘superdifíceis’ para outros tomarem. Não porque possuímos ‘superpoderes’: mas porque os sentimentos também se domam.
Para sofrer menos, precisamos deixar que as coisas vão-se. Um dia quem sabe nos reencontramos, em outro nível: como a Camila e eu nos reencontramos naquele dia.Fico feliz que essa parte da vida dela que eu ignorei por tantos anos a tenha feito mais bonita por dentro e por fora.
Do fundo do meu coração desejo a você Camila, muitos anos de ignorância feliz, para que quando nos encontrarmos de novo tudo seja mais bonito e florido como foi no Royal Albert Hall, daquele 14 de agosto de 2017.
E daí, que a ignorância que eu e você vivemos possa ser apreciada na forma mais transcendental da nossa amizade.
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“En griego, «regreso» se dice nostos.
Algos significa “sufrimiento”. La nostalgia es, pues, el sufrimiento causado por el deseo incumplido de regresar. La mayoría de los europeos puede emplear para esta noción fundamental una palabra de origen griego (nostalgia) y, además, otras palabras con raíces en la lengua nacional: en español decimos “añoranza”; en portugués, saudade. En cada lengua estas palabras poseen un matiz semántico distinto.
Con frecuencia tan sólo significan la tristeza causada por la imposibilidad de regresar a la propia tierra.
Morriña del terruño. Morriña del hogar. En inglés sería homesickness, o en alemán Heimweh, o en holandés heimwee. Pero es una reducción espacial de esa gran noción. El islandés, una de las lenguas europeas más antiguas, distingue claramente dos términos: söknudur: nostalgia en su sentido general; y heimfra: morriña del terruño.
Los checos, al lado de la palabra “nostalgia” tomada del griego, tienen para la misma noción su propio sustantivo: stesk, y su propio verbo; una de las frases de amor checas más conmovedoras es styska se mi po tobe: “te añoro; ya no puedo soportar el dolor de tu ausencia”.
En español, “añoranza” proviene del verbo “añorar”, que proviene a su vez del catalán enyorar, derivado del verbo latino ignorare (ignorar, no saber de algo). A la luz de esta etimología, la nostalgia se nos revela como el dolor de la ignorancia.
Estás lejos, y no sé qué es de ti. Mi país queda lejos, y no sé qué ocurre en él.
Algunas lenguas tienen alguna dificultad con la añoranza: los franceses sólo pueden expresarla mediante la palabra de origen griego (nostalgie) y no tienen verbo; pueden decir: je m’ennuie de toi (equivalente a «te echo de menos» o “en falta”), pero esta expresión es endeble, fría, en todo caso demasiado leve para un sentimiento tan grave.
Los alemanes emplean pocas veces la palabra “nostalgia” en su forma griega y prefieren decir Sehnsucht: deseo de lo que está ausente; pero Sehnsucht puede aludir tanto a lo que fue como a lo que nunca ha sido (una nueva aventura), por lo que no implica necesariamente la idea de un nostos; para incluir en la Sehnsucht la obsesión del regreso, habría que añadir un complemento: Senhsucht nach der Vergangenheit, nach der verlorenen Kindheit, o nach der ersten Liebe (deseo del pasado, de la infancia perdida o del primer amor).”