É curioso como as coisas que um dia você aprendeu na infância, às vezes reaparecem na sua cabeça sem pedir permissão.
De repente, assim do nada, algumas lembranças adquirem vida e começam a brotar no seu misterioso inconsciente e, de repente, não mais que de repente, lembramos de alguma aula que tivemos quando éramos criança, de algum poema que lemos ou costumávamos declamar, de alguma música, de algum momento especial em família.
Alguns deles nem tão especiais, mas que por passe de mágica, reaparecem como uma lembrança bonita e terna de um momento que parece que não teve importância nenhuma.
É engraçado pensar como esses momentos nos definem como pessoa. Às vezes tenho a impressão de ver meus professores diante de mim contando a mesma coisa. A única diferença é que a perspectiva das suas palavras, hoje em dia, é completamente diferente. Depois de muitos anos parece que vamos tomando consciência daquilo que nos disseram quando pequenos e vamos tomando rumos nas nossas vidas de acordo ou em desacordo com aquilo que aprendemos.
Na realidade não aceitamos tudo que nos ensinaram como um dogma.
Questionamos, processamos, depuramos toda essa informação, e junto às experiências adquiridas, pouco a pouco, vamos dando forma ao protagonista da nossa história.
Hoje de manhã, no caminho do trabalho, divagando no metrô, estava justamente pensando num poema atribuído a Shakespeare, mas que na realidade é de autoria de Veronica Shafttal, que o declamou no dia da sua formatura. Acho que vi esse poema pela primeira vez com mais ou menos 15 anos, da mão de uma professora de literatura que deve pensar até hoje que esse era realmente um poema de Shakespeare.
Pouco importa de quem é o poema. Desde o seu texto original até todas as suas alterações são bastante pertinentes e me tocaram fundo no momento que o li pela primeira vez.
Fiquei pensando na frase: “Não importa em quantos pedaços seu coração foi partido; o mundo não para, para que você o conserte”.
No meio da multidão do metrô, feita uma sardinha enlatada, lia meu livro e pensava nessa frase, não atribuindo um sentido romântico, da dor do amor não correspondido, mas sim na dor do sentido da vida. Quantas vezes na vida, não rompem nosso coração? Quantas vezes nossos amigos, famílias, etc. já nos defraudaram?! Nos decepcionamos com os outros e com nós mesmos, por nossas atitudes, pelas atitudes alheias e sofremos. E ainda assim é preciso levantar a cabeça e seguir adiante, porque como bem diz o poema “o mundo não para, para que você o conserte”.
É complicado falar sobre dores, porque cada um sabe o que sofre e como as sofre. Acho que a grande diferença está em como as encaram e as ferramentas que lhe deram para que as supere. Porque quando falamos de sentimentos, temos que entender que eles são singulares e nessa singularidade temos que aprender a gestiona-las sozinha. Quem sabe essa é a parte oculta do poema. Ou a extensão que eu atribuo. O mundo não para, para que você o conserte e quem vai consertá-lo é você mesmo.
Não porque o mundo é cruel, não porque as pessoas não querem. Mas somente você é a pessoa capaz de entender o que está passando por dentro e saber na realidade o que está sentindo. Não mentir para si mesmo quem sabe é o grande desafio da humanidade, porque só assim um entenderá o que quer, o que sente e em que direção vai. E nessa direção, nosso aprendizado, o que aprendemos ontem e hoje é útil porque por vezes temos que voltar no caminho e buscar nossas ferramentas e armas para encarar o que vem.
Isso é como os desenhos animados dos super-heróis de quando éramos pequenos: cada um tem o seu poder e ele é intrasferível. Nietzche explica isso como ninguém. A teoria do super-homem deveria ser um imperativo em si mesmo.
Como todo mundo, meu coração já foi partido milhões de vezes.
Isso não é nada novo, porque por muito forte que um tente parecer todos sabemos que dentro de si leva tristezas e decepções. Faz parte da vida. Consigo também, se carrega momentos de felicidade, de êxtases, de diversão. Convenhamos que se a vida fosse feita só de tristezas metade da humanidade não estaria pelo labor de vive-la. E em vez de 7 bilhões de homo sapiens vagando pela Terra, teríamos não muito mais que 3 bilhões com tendências masoquistas para sobreviver essa maré de infelicidade. Porque convenhamos, tem gente que adora fazer da sua vida um drama.
Mas é lei de vida, as decepções vêm e o mundo não para, para que você as entendas e recobre sentido. Não temos mais remédio que seguir adiante, fazendo do dia -a-dia o melhor que um pode fazer. Por vezes vou entender situações passadas e superadas só anos mais tarde, quando num ataque de epifania tenho um insight sobre o ocorrido. Geralmente passa quando justamente tenho essas lembranças como hoje de manhã e aquilo que de certa forma já estava esquecido, recobra força quando um menos espera.
Devo ter nascido saudosista, não sei. Piegas quem sabe. Mas essa auto-terapia que me faço, por vezes, me ajuda muito a entender o meu entorno, o comportamento dos outros e meu mesmo. E, como diz o poema, um dia você aprende. Aprende que aquilo que te ensinaram só vai servir de algo quando você toma consciência que é responsável pelo seu destino, responsável pelas decisões tomadas e responsável pela sua própria felicidade.
Um dia você aprende que…
Depois de algum tempo você aprende a diferença,
a sutil diferença entre dar a mão e acorrentar uma alma.
E você aprende que amar não significa apoiar-se,
e que companhia nem sempre significa segurança.
E começa a aprender que beijos não são contratos e presentes não são promessas
E começa a aceitar suas derrotas com a cabeça erguida e olhos adiante,
com a graça de um adulto e não com a tristeza de uma criança.
E aprende a construir todas as suas estradas no hoje,
porque o terreno amanhã é incerto demais para os planos
e o futuro tem o costume de cair em meio a um vão.
Depois de um tempo você aprende que o sol queima se ficar exposto por muito tempo.
E aprende que não importa o quanto você se importe,
algumas pessoas simplesmente não se importam…
E aceita que não importa quão boa seja uma pessoa,
ela vai feri-lo de vez em quando
e você precisa perdoá-la por isso.
Aprende que falar pode aliviar dores emocionais.
Descobre que se leva anos para se construir confiança
e apenas segundos para destrui-la,
e que você pode fazer coisas em um instante,
das quais se arrependerá pelo resto da vida.
Aprende que verdadeiras amizades continuam a crescer
mesmo a longas distâncias.
E o que importa não é o que você tem na vida,
mas quem você tem na vida.
E que bons amigos são a família que nos permitiram
escolher.
Aprende que não temos que mudar de amigos
se compreendemos que os amigos mudam,
percebe que seu melhor amigo
e você podem fazer qualquer coisa,
ou nada, e terem bons momentos juntos.
Descobre que devemos deixar as pessoas que amamos com
palavras amorosas,
pode ser a última vez que as vejamos.
Aprende que as circunstâncias e os ambientes
tem influência sobre nós,
mas nós somos responsáveis por nós mesmos.
Começa a aprender que não se deve
comparar com os outros,
mas com o melhor que pode ser.
Descobre que se leva muito tempo
para se tornar a pessoa que quer ser,
e que o tempo é curto.
Aprende que não importa onde já chegou,
mas onde está indo, mas se você não
sabe para onde está indo,
qualquer lugar serve.
Aprende que, ou você controla seus actos
ou eles o controlarão, e que ser
flexível não significa ser fraco
ou não ter personalidade,
pois não importa quão delicada
e frágil seja uma situação,
sempre existem dois lados.
Aprende que heróis são pessoas
que fizeram o que era necessário fazer,
enfrentando as consequências.
Aprende que paciência requer muita prática.
Descobre que algumas vezes
a pessoa que você espera que o chute,
quando você cai é uma das poucas
que o ajudam a levantar-se.
Aprende que maturidade tem mais a ver
com os tipos de experiências que se
teve, e o que você aprendeu com elas,
do que com quantos aniversários você celebrou.
Aprende que há mais dos seus pais em você
do que você supunha.
Aprende que nunca se deve dizer
a uma criança que sonhos são bobagens,
poucas coisas são tão humilhantes,
e seria uma tragédia se ela acreditasse nisso.
Aprende que quando está com raiva
tem o direito de estar com raiva, mas isso
não lhe dá o direito de ser cruel.
Descobre que só porque alguém não o ama do
jeito que você quer que ame,
não significa que esse alguém não sabe amar,
contudo, o ama como pode,
pois existem pessoas que nos amam,
mas simplesmente não sabem como demonstrar
ou viver isso.
Aprende que nem sempre é suficiente
ser perdoado por alguém,
algumas vezes você tem que aprender
a perdoar-se a si mesmo.
Aprende que com a mesma severidade com que julga,
você será em algum momento condenado.
Aprende que não importa em quantos
pedaços seu coração foi partido,
o mundo não pára para que você o conserte.
Aprende que o tempo não é algo que possa
voltar para trás, portanto, plante seu jardim
e decore sua alma,
ao invés de esperar que alguém lhe traga flores…
E você aprende que realmente pode suportar…
que realmente é forte,
e que pode ir muito mais longe depois de
pensar que não se pode mais.
E que realmente a vida tem valor
e que você tem valor diante da vida!
Nossas dúvidas são traidoras
e nos fazem perder o bem que poderíamos
conquistar, se não fosse o medo de tentar.
Texto original – poema original de Veronica Shaffstal
After a while
After a while you learn
the subtle difference between
holding a hand and chaining a soul
and you learn
that love doesn’t mean leaning
and company doesn’t always mean security.
And you begin to learn
that kisses aren’t contracts
and presents aren’t promises
and you begin to accept your defeats
with your head up and your eyes ahead
with the grace of woman, not the grief of a child
and you learn
to build all your roads on today
because tomorrow’s ground is
too uncertain for plans
and futures have a way of falling down
in mid-flight.
After a while you learn
that even sunshine burns
if you get too much
so you plant your own garden
and decorate your own soul
instead of waiting for someone
to bring you flowers.
And you learn that you really can endure
you really are strong
you really do have worth
and you learn
and you learn
with every goodbye, you learn…