Como se moldou a arte brasileira de vanguarda

Arte no Brasil era pura imitação do que se fazia na Europa. Importada como eram importados alguns dos povos que viviam neste gigantesco território.

A pesquisa realizada por Maria de Fátima Morethy Couto, na obra “Por uma Vanguarda Nacional”, faz um mergulho na história da arte do país – 1940 a 1960 – e de forma minuciosa apresenta o debate crítico desenvolvido nesse meio tempo.

Aliás, na escolha deste período autora já reforça a condição que os momentos mais ricos em acontecimentos da história da arte brasileira começam a partir dessas décadas. Século XX.

Certamente, a afirmação é verdadeira, considerando a história do Brasil, um país colonizado por europeus, por uma corte escravagista. Como a arte brasileira se moldou dentro desse contexto?

Imitação

Como fica arte num país em que, numa reflexão metafórica ainda é jovem, com pouco mais de 500 anos – comparando aos mil tantos anos da Europa – e que seus filhos são, em alguns estados, a terceira ou a quarta geração de estrangeiros estabelecidos no país.

De tal forma, a gestação e infância histórica – no Brasil Império e nos primeiros anos de República – na arte era pura imitação do que se fazia na Europa. Importada como eram importados alguns dos povos que viviam neste gigantesco território.

Os movimentos artísticos surgem de forma mais acentuada depois da segunda guerra mundial, quando o mundo desenvolvido (colonizador) se tornou vulnerável vacilou economicamente ao ponto, inclusive, de possibilitar ao já então povo brasileiro, o de sonhar em se tornar o novo centro cultural artístico mundial…..

Portanto, na evolução da história a certa personalidade que a arte brasileira começa a adquirir é após a segunda guerra. Pelo menos é o que se observa nos registros da época.

Os antropólogos, com certeza, diriam que  é preciso de no mínimo 200 anos para uma família imigrante adquira os hábitos e costumes do novo país que adotou como pátria.

Portanto, o nosso país colonizado pelos portugueses, negros vindos como escravos, alemães, italianos, poloneses, entre outros – pudesse depurar a cultura anterior e estabelecer características próprias e harmonizar-se com seu novo habitat, precisou no mínimo de 200 anos para formar o novo povo brasileiro.  Incluindo mais o índio que é o verdadeiro brasileiro,  o esse novo brasileiro que surgiu dessa grande mixagem precisou de mais de dois séculos para formar a identidade própria, uma personalidade.

 É neste quadro de evolução histórica, étnica, social que também a arte brasileira se molda.

‘Por uma Vanguarda Nacional’  é uma obra que envolve o leitor ao resgatar artigos e escritos da época, os debates, as controvérsias, crises, questões de um país que foi colônia e agora atingiu o patamar do sub  –  colonialismo mais moderno –  e o quanto as aberturas políticas, a repressão dos regimes  autoritários interferiram na estruturação de uma cultura artística no país.

(….)Se, em um primeiro momento, ser moderno significa acertar o passo com a Europa, após 1924 os artistas da vanguarda brasileira julgaram primordial participar da construção de uma cultura “verdadeiramente” nacional. Tornou-se então essencial não mais assimilar de maneira correta as “lições do estrangeiro”, mas voltar o olhar para o território brasileiro e criar uma arte livre de interferências externas.(…) [1]

Depois da tentativa de alguns dos fundadores da modernidade do país, como Anita Malfati e Tarsila do Amaral, tentarem afinar com a vanguarda pouco se fez de diferente até 1940, com a introdução da arte abstrata. Nesta época, no livro de Maria de Fátima é possível entender como foi forte a resistência da crítica ao novo, principalmente, de Mário de Andrade.

(…)  Entretanto, em um ambiente cultural fortemente nacionalista e preocupado com o poder de comunicação da obra de arte como era o do Brasil da época, a reação da crítica só poderia ser negativa. (…) Mário de Andrade, como era de se esperar, rejeitou de imediato o caráter abstrato desses trabalhos (…)

Mais adiante, a pesquisa da autora mostra com detalhes o impacto que as grandes Bienais começaram a provocar no mundo da arte no Brasil. Na década de 50, que se apresenta como um “boom” no desenvolvimento da vanguarda brasileira.

Bienal

Principalmente a primeira Bienal do Museu de Arte de São Paulo, realizada em 1951, que contou com a participação de 20 delegações estrangeiras e  apresentou mais de 1.500 obras. A amplitude desta Bienal – diz a pesquisa – atesta a intenção de seus promotores de incluir o país no circuito internacional de exposições, rivalizando com as Bienais como a de Veneza.

(…) Entretanto, se os anos 1950 foram marcados por uma revolução profunda na produção artística nacional e pela difusão da arte  abstrata em todo o país, a ascendência da geração modernista sobre o meio artístico e intelectual brasileiro era ainda evidente em 1951. (…)

Desta Bienal participaram artistas consagrados como Lasar Segall, Di Cavalcanti, Cândido Portinari, entre outros e quem recebeu o prêmio de melhor pintor nacional foi Danilo Di Prete, artista italiano que se estabelecera no Brasil. Isso causou grande polêmica.

Na verdade, os regastes da crítica apresentado na obra de Maria de Fátima demonstram a grande confusão existente no meio cultural brasileiro e o fato do Brasil estar ainda atrelado às tendências internacionais, de tal forma, que não conseguia extrair de seu meio um talento capaz de ganhar uma Bienal, que não fosse os já projetados e conhecidos como Portinari, Cavancanti e outros.

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