Ao apresentar um espetáculo de malabarismo, a artista italiana Emilia Tau estabelece uma conversa com a platéia sobre a importância da vida. É a sua catarse.
Mensagem
“A técnica para o artista é apenas um meio que deve surpreender ao ponto de abrir espaço para que, por intermédio dela possamos passar a nossa mensagem, seja ela qual for, política, ambiental ou social ”, afirma Emilia.
“Quando a técnica impressiona, é perfeita e forte, dá credibilidade para que possamos falar de tudo e provocar como ser humano o encontro com o outro”.
Circo
Emilia conta que o circo na Europa está vivendo um momento de muita efervescência, de um lado pela grande criatividade dos artistas e de outro pelas inúmeras possibilidades de trabalho, tanto em escolas de circo quanto em apresentações de espetáculos. Porém, em alguns países da Europa, o circo não tem muita força como é o caso da Itália.
A França e os países do norte são os que mais apreciam as artes circenses. Ela estará este ano participando da Convenção Européia de Malabarismo, que será realizada na Finlândia, em agosto.
Esta jovem italiana, que é formada em Direito Internacional e há mais de 10 anos se dedica às artes circenses, não pertence ao chamado circo tradicional, aquele que é administrado por uma família e apenas se apresenta sob uma lona. Ela faz parte do circo moderno que envolve a performance, teatro, música e outras formas de expressões artísticas.
“As artes circenses não estão mais restritas a uma habilidade técnica, sobretudo desenvolvem uma maneira de exprimir sentimentos”, diz ela.
Dramaturgia
Sua dramaturgia está direcionada aos problemas do homem em relação ao mundo, no aspecto contemporâneo, no consumismo, no excesso de valores materiais. A artista usa a arte como uma catarse que a possibilita conectar-se com o público.
“Quando uma pessoa assiste um espetáculo alguma coisa se transforma dentro dela, mesmo que ela não entenda totalmente o que está sendo apresentado. “É um momento em que se fala de algo novo que pode ser capturado pelo público para que depois possa ser questionado e colocado em discussão”.
Cirque di Soleil
Para Emilia, o Cirque di Soleil é uma mutinacional que deixa um pouco de lado a poesia do verdadeiro circo, porém, funciona como um grande catalizador para mostrar às pessoas o que é o circo contemporâneo.
“Na viagem que fiz à Grécia conheci em diversos locais, muitos espaços reservados para o teatro na antiguidade e percebi o papel importante que ele teve na história desta civilização e acredito que sempre terá na evolução de uma cultura. É uma necessidade social. O método do circo é simples e aproxima as pessoas.”
Um exemplo, conta, foi o trabalho que desenvolveu na Índia com a Companhia Francesa Jonglorsion, de Jean Daniel Fricker, seu professor. Segundo ela, os indianos se identificaram muito com a técnica do malabarismo e isto os motivava a se aproximarem de nosso grupo.
Balcãs
Emilia Tau esteve na região dos Balcãs, Leste europeu, com o espetáculo World Autobigrafia , um projeto dela e do fotógrafo Bertrand Depoortére. A proposta foi de contar sobre a vida de uma forma lúdica a um povo que vivenciou a guerra. “O circo oferece condições de se aproximar de pessoas marcadas pelo sofrimento”.
O espetáculo apresentou uma visão do mundo, com projeção de super 8, registros de sons, sob a responsabilidade do fotógrafo Bertrand Depoortère, e a manipulação de objetos e antipodismo. O malabarismo com os pés, o que faz Emília, é originária do circo tradicional, mas era feito com cadeiras e objetos maiores. Ela faz com “pallina”, bolas pequenas.
A artista nasceu em Lecce, Sul da Itália e hoje vive na França. Considera a internet uma importante ferramenta de comunicação e contato, contudo, faz a ressalva, que hoje, apesar dos jovens aprenderem muito com a web, até a técnica do malabarismo via internet, o uso abusivo da ferramenta, poderá ser maléfica, viciar, quando utilizada exaustivamente. A artista finaliza dizendo que busca a simplicidade e acredita na igualdade entre as pessoas.