2

O castelo

Por Luiz Ernesto Wanke –

De longe é branquinho

E suas torres terminam no céu,

Bonito de doer

(Estou sendo piegas?)

Os pinheiros a encobrem aumentando a imponência

Num tapete verde escuro

Como moldura, as montanhas da Serra do Mar

Pré-Cambrianas.

A brisa roça a pele, o som é o do vento e o cheiro, o do mato.

 

De perto, uma cerca…

De arame trançado,

Que já assusta:

– Meu Deus, onde fui me meter?

 

Porque:

 

O castelo não é castelo

Mas uma sólida fortaleza

As torres? São guaritas

Cheia de guardas,

Armados

Mirando os desarmados

Paredes alvas? De perto, não!

São altos muros que projetam sombras

Sinistras!

As janelas? Não, buracos trancados com ferro.

 

Ali vivem feras

Perigosas

Cerradas pelo concreto

E mais fios de aço farpado

Vigiando o muro, outro alambrado;

Entre eles, cães ferozes,

No meio de um mar de cocô.

 

E onde foram os pinheiros?

Só ficaram os tocos.

E as velhas montanhas?

Tem os dorsos pelados pelas pedreiras,

Lembrando as companheiras ratazanas,

Com as costas peladas pela lepra.

 

Elas, livres

Entram e saem pelos buracos do chão.

 

Para a sociedade, um monte de lixo inútil.

Mas por baixo dele,

Num monte de folhas secas

Dorme uma perigosa urutu,

Cruzeiro,

Inerte e traiçoeira

Potente

Para o bote fatal!

Comments are closed.