O Natal é um período de contemplação e reflexão, um momento em que as pessoas trazem a alma à superfície. O biólogo inglês Rupert Sheldrake, autor de diversos livros, entre eles ‘Caos’, ‘Criatividade’ e o Retorno do Sagrado’, disse certa vez, numa entrevista, que há muitas formas de tocar ou invocar a alma.
A meditação, toque de tambor, o canto, o ato de escrever, a pintura, a composição musical, as visões de grande beleza, a oração, a contemplação, os ritos e rituais e até mesmo ideias arrebatadoras e disposições de ânimo estão entre as sugestões dele. “Todas elas são convocações psíquicas que chamam a alma da sua morada até a superfície”, garantiu.
Os estudos de Sheldrak – conhecido por sua teoria dos campos morfogenéticos (memória coletiva), pesquisa em telepatia entre outras questões relativas à mente – é apresentar uma visão científica da parte espiritual existente em todos os seres vivos.
A sua grande busca é saber onde termina o território cinzento do cérebro e começa o espaço luminoso da mente.
Para ele, o bloqueio para a evolução desses estudos, a confusão atual, começou no século XVII, com René Descartes (1560-1650), que esvaziou a noção da alma e colocou em seu lugar uma mente racional em mínima interação com o cérebro, através da glândula pineal, que está localizada no centro da cabeça e, que, na antiguidade era entendida como a sede da alma.
Para a ciência, esta conexão entre a matéria e o espírito ainda é um mistério e os avanços nas pesquisas são tímidos para dar respaldo ao homem envolvido no caos da vida moderna, que ele mesmo constrói e alimenta dentro de uma visão cartesiana e lógica.
Independentemente, as religiões se mantém ao longo do tempo e oferecem ao homem o alimento que necessita para o fortalecimento da alma. Porém, na bagagem histórica destas religiões, muitas vezes, existem marcas sangrentas de poder e manipulação.
https://www.youtube.com/watch?v=8bsvJfPyB5o
A soprano norte-americana Jessye Norman diz que não gosta do termo religião, que hoje, devido a sua má interpretação está associado a dogmas que excluem outras crenças e geram intolerância. “Sou alguém que se esforça e trabalha duro. Faço apenas aquilo que amo, que me atrai, e dou o melhor que tenho.
O meu limite é a imaginação e acredito que a arte pode ajudar pessoas a exprimirem o que sentem”, disse numa entrevista publicada no Estado de São Paulo, quando visitou o Brasil, em fevereiro de 2002.
Portanto, seguindo a linha do raciocínio científico de Rupert Scheldrake sobre as formas de chamar a alma pela oração, meditação, ritual, é possível aproveitar este período em que se festeja, no mundo ocidental, o nascimento de Jesus, mestre das religiões cristãs, para conectar-se com a parte luminosa da mente.
Além disso, mirar-se no exemplo da soprano, no sentido de fazer o que se ama e dar o melhor de si mesmo, tendo como limite a imaginação, sem se perder em dogmas e intolerâncias. Enfim, buscar a arte como forma de expressão dos sentimentos.
Para lhes desejar um bom Natal, o site pan-horamarte oferece dois vídeos de missas cantadas, um na Igreja de Santa Maria Maggiore, em Roma, Itália, e outro na Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, Salvador, Bahia, Brasil, sendo que essa última representa a força do sincretismo religioso e a emoção com que se eleva a espiritualidade em duas crenças com rituais tão diferentes. É belo!
E por fim, depois de trazer a alma à superfície se elevar na contemplação da imagem de Jesus feita em mosaicos do Museu de Santa Sofia, em Istambul, na Turquia, que, ao longo da história abrigou duas crenças opostas. O olhar de Cristo, na obra em mosaicos, segundo os turcos, nos acompanha em todas direções.
Três magníficos monumentos históricos artísticos que de qualquer forma são válidos como espaço para chamar a alma `a superfície, embora tenham sido construídos, por um lado, com objetivo de demonstrar poder, ostentação, com a riqueza de alguns e pobreza de outros, porém, por outro lado, pelas mãos sensíveis e criativas de artistas que delinearam, esculpiram, pincelaram em suas obras o melhor de sua criatividade interior. O importante é apreciar o que surge com a beleza, que aliada à música estimula o retorno ao sagrado e proporciona paz interior.