Já sei que esse título chega a ser duvidoso de tão perfeito. Parece tão conciso, tão quadrado, tão medido, como se no mundo existisse duas barras chocolate: a negra ou a branca. Você só tem que escolher qual você gosta mais. Quando você é criança você quer as duas, e teus pais insistem que você tem que decidir por uma. Você segue indeciso que quer as duas, afinal você gosta das duas. O chocolate negro é tão bom como o branco. Porque eu não posso ter os dois. E teus pais explicam que os dois não é possível. Você tem que escolher. Você não se decide e teus pais aí então entram com a ameaça:
– Você vai acabar sem nenhuma!
Quantas situações como essa vivenciamos ao longo da vida? Quando a gente pensa dá até vontade de voltar no tempo. Ai se as escolhas na vida fossem tão fáceis como escolher entre o chocolate preto ou branco.
Comecei a me dar conta dos pesos das decisões quando sai de casa. Até a Universidade realmente as decisões não foram algo que me custasse muito. Sempre fui muito segura do que eu queria e muito honesta comigo mesma sobre isso. Tomava as decisões sem muitas dificuldades. Até na hora mais complicada da adolescência, o de escolher as profissões tive claro que priorizava o jornalismo sobre o ballet clássico.
Até hoje não questiono sobre essa decisão e se o faço, não é com remorso ou arrependimento. No entanto, entendi que quando saí de casa, cada decisão tinha uma peso maior sobre o meu futuro ou a minha vida. Ainda lembro quando decidi não retornar ao Brasil e estender meu visto por mais um ano na Inglaterra. Passei semanas pensando: às vezes decidia voltar, às vezes ficar. Não tinha certeza sobre nada e me causava dias e noites de ansiedade pensar em ir ou voltar.
Outras das decisões que me custou foi quando tinha que decidir sobre mudar de trabalho: o que eu tinha me oferecia muitas vantagens, o outro crescimento profissional, aprendizado, melhor salário mas também mais horas. Decisões: é um toma lá, da cá.
Eu sei, é uma angústia porque tudo que, na verdade, não custa tomar uma decisão é porque a decisão já está tomada. Agora quando entra em jogo vantagens e desvantagens, medo, mudança, expectativas e possíveis decepções, aí o bicho pega.
Foi lendo Martha Medeiros outro dia que me dei conta que o que me aflige, é o que aflige a 99,9% da população. Todo mundo tem medo que a decisão que toma seja a errada: e isso só acontece porque somos humanos. Só nos tornamos adultos, ou pelo menos nos damos conta da nossa maturidade, quando a gente perde o medo de errar.
Escolher errado todo mundo vai fazer: saber redirecionar suas escolhas para que elas saiam mais ou menos como o esperado não é todo mundo que vai fazer. Por isso muita gente tem medo da mudança. A mudança é escolha, é crescimento, é aprendizagem. Parafraseando Martha Medeiros, “não somos apenas a somas das nossas escolhas, mas também o produto das nossas renúncias”. Crescer é tomar decisões e viver em paz com a dúvida.
O que não dá é idealizar aquilo que não aconteceu. Ou tentar decidir de forma precipitada pra se livrar do problema. Buscar certezas talvez seja o maior erro de ser humano: porque certeza absoluta só temos da morte. E mudar nem sempre tem porque ser mal. Tomar as rédeas da vida e se dar conta que você é o protagonista da sua própria história é o que faz de você singular diante de um mundo com tantas pessoas que passam a vida deixando que outros decidam por eles.