Foi um encontro inusitado, naquela manhã de sábado, porque eu não esperava o turbilhão. Mas a XV de Novembro é assim mesmo, a cada quadra, uma manifestação. Vi perucas coloridas, ouvi uma canção. As vadias vinham ao meu encontro! Mergulhei na atmosfera do desfile, emocionada, sorrindo e concordei com o que elas solicitavam e denunciavam à cidade. Nas palavras escritas em cartazes e nos corpos seminus, a expressão de liberdade, de ser dona de si, abria espaço. Mulher pode vestir-se como achar melhor e deve ser respeitada. Assim, passaram como uma enxurrada, aplaudidas, fotografadas.
Meu feminino se solidariza com todas as vadias, desde muitos séculos.
Segui em frente, ainda pensando nelas e deparei-me com uma tenda que mostrava fotos de animais maltratados/processados, antes de chegar “à nossa mesa”. Fotos horríveis! A tristeza reavivou a culpa pela responsabilidade de ainda consumir e trouxe novamente a ideia de não comer mais carne. A vaga sensação de enjoo me impeliu a sair logo dali.
A carne, de dois jeitos, passou por mim, naquela manhã. Em ambos é desejada.
Não se passa pela XV, incólume!