Hidden Sun - Obra de Zilvinas Lanzbergas, Bienal de São Paulo 2018, un sguardo fatto da una parte che si vedi la natura nel Parco Ibirapuera. Un sguardo di Marcovaldo.

Sugestões de leitura para a passagem das estações

Atenção leitores de plantão. Atenção todos aqueles que adoram ler livros sobre a cotidiano da vida e singeleza do belo. Atenção a aqueles que amam a literatura e que ainda não leram nada de Italo Calvino. Sugiro colocar ele na sua lista; aliás… coloca no topo da lista!

Italo Calvino chegou nas minhas mãos ainda quando estudava Italiano, e queria poder ler alguns autores em língua original. Minha professora então me disse que se eu quisesse ler um escritor que escrevesse muito bem em italiano deveria ler Italo Calvino. Alexia, a professora, esqueceu de me dizer sobre o maravilhoso mundo que estava por descobrir quando um dos seus relatos chegou as minhas mãos.

Marcovaldo

Ali estava Calvino, Marcovaldo* e eu. Buscando na cidade grande a poesia que ela esconde. Quem é Marcovaldo? Marcovaldo é o personagem principal da novela que se titula com o seu nome. Marcovaldo é o homem simples da cidade grande. Aquele que ninguém fala, ninguém viu; que se esconde detrás de milhões de caras da classe trabalhadora do meu e do seu país.

Como Calvino próprio descreve; Marcovaldo é uma alma simples, um pai de família numerosa, que trabalha ora de pedreiro ora de recadeiro de uma empresa. Malcovaldo vem do campo, ou isso entendemos. Porque a poesia em forma de prosa desse livro de Calvino é justamente sobre esses pequenos detalhes que um pai de família sofrida, pertencente a classe trabalhadora, pode encontrar na cidade.

E assim o livro começa:

“No meio da cidade de cimento e asfalto, Marcovaldo vai em busca da Natureza. Mas, ainda existe? O que ele encontra é uma natureza rancorosa, contra propósito, comprometida com a vida artificial”.

E assim olho todos os dias para essa cidade.A que eu vivo. Assim como olhava outrora para Curitiba. Parece que em meio a tanta casa, a tanto shopping, a tanto parque temático vamos perdendo a humanidade das cidades… estamos transformando-as em monstros em pró do avance, em pró da lógica pós-moderna.

E onde ficou os cidadãos? Condenados a andar de carro numa cidade sem calçada?! A entrar em centros comerciais sem janelas e que escondem a saída para que você se perca em meio a tanto consumo. Durante muito tempo eu vivi nessa dinâmica. Na dinâmica americana tão aclamada no Brasil.

Obra de Zilvinas Landzbergas na exposição de Claudia Fontes. 33a Bienal de São Paulo. 06/09/2018 © Leo Eloy / Estúdio Garagem / Fundação Bienal de São Paulo. A obra vista em outro ângulo. Depende do olhar…

Menos vida artificial

Treze anos atrás, quando cheguei na Europa, tudo me parecia estranho. Essa coisa de fazer compra na rua, de andar de um lugar ao outro sem carro, de tomar café com os amigos, de fazer quem tenha carro pague mais e mais impostos. Aqui eu vi o humano que pode ser uma cidade.

Andar de metro, caminhar no centro, se encontrar em cafeterias, passar dias chuvosos do cinema (que está na cidade, não no shopping) e os dias ensolarados no parque.

Aqui eu vi que é preciso sim, ter lugares bonitos, construções bonitas e que elas entrem em consonância com a natureza existente. Cidades mais humanas. Assim a chamamos. Exemplos não faltam: Bruxelas, Amsterdam, Hamburgo, Lisboa, Roma, e a lista segue.

Andando pelas ruas de Madrid, a prefeitura tratou de colocar frases, uma poesia em cada passo de zebra. Ali mesmo no asfalto, no chão… Enquanto estamos esperando pelo semáforo, podemos parar e ler essa frase, esse pensamento, essa poesia…

Daí, quem sabe essa frase leve a uma ideia, a um pensamento que faça brotar dentro de nós um olhar distinto a tudo que nos rodeia.

Essa é a ideia do livro de Calvino. De colocar num personagem simples, a possibilidade de olhar para uma cidade como nenhum outro. De ver poesia e graça aonde ninguém veria e de levar dia a dia a sua vida ingrata melhor que muitos que vivem comodamente.

“Esse Marcovaldo tinha um olho pouco adequado para a vida da cidade: avisos, semáforos, vitrines, letreiros luminosos, cartazes, por mais estudados que fossem para atrair a atenção, jamais detinham o seu olhar, que parecia perder-se nas areias do deserto. Já uma folha amarelando num ramo, uma pena que se deixasse prender numa telha, não lhe escapavam nunca: não havia mosca no dorso de um cavalo, buraco de cupim numa mesa, casca de figo se desfazendo na calçada que Marcovaldo não observasse e comentasse, descobrindo as mudanças da estação, seus desejos mais íntimos e as misérias de sua existência”.

Marcovaldo é uma lição de vida para todos aqueles que não sabem ver além do umbigo que vida é uma poesia em si mesma. Marcovaldo é a prova que qualquer um, por mais humilde que seja tem a capacidade de viver e levar uma vida cheia de aventura e magia, e que não é preciso ter estudos ou ser intelectual para apreciar um por do sol, o crescimento de uma planta, ou a lua cheia no verão.

Masrcovaldo é feliz com o cheiro da marmita, com dormir num banco de praça no verão, com ir no cinema no outono e com o crescimento de uma planta que está no escritório do seu patrão.

Marcovaldo é feliz por viver. Eu to aprendendo com Marcovaldo… e com Calvino… que a felicidade é aquilo que eu decido e outorgo poder…

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