Certa vez empapelei as pernas da mesa, fazendo paredes.
Vazei porta e janela, e tive longos papos de comadre com minha mãe, que no andar de cima passava roupas.
Improvisei uma casinha no paiol, meio espremida entre as ferramentas do meu pai. A proximidade com a horta possibilitava grande variedade de verdinhos, para as panelas. Os brinquedos, tão lindos quanto o aparelho de chá de verdade, da minha mãe, abrilhantaram as festas das bonecas.
A humilde casinha do porão, era na terra de debaixo da casa, as panelinhas improvisadas com tampinhas de lata de leite e pauzinhos como talheres para a comida de grama.
Na casinha do sótão, a mais rica, podia-se descer as escadas com os sapatos de salto da mãe, fazendo pose para fotos.
Mas foi numas férias, na casa da avó materna, que criei uma bem bonita, com as capas duras dos velhos livros de contabilidade do meu avô. Empilhados e sem uso, pediam para virar brinquedo e a avó permitiu. As capas duras devem ter se tornado mais felizes, com a nova utilidade: paredes decoradas da casinha de papel. Recortei propagandas das revistas Seleções de Reader Digest e compus os cômodos. Aquela revista fornecia cozinhas, eletrodomésticos, quartos, banheiros, carros e uma infinidade de objetos de decoração para tornar as horas de brincar, as mais felizes da infância.
Essa casinha, portátil, era disparadora de sonhos, de romance, num universo de possibilidades de felicidade. Uma casa para meus afetos de menina. Uma casa de palavras!
Imagem de casa é distinta para cada um de nós. É composta da nossa experiência relativa a casa: o cheiro, o calor do lar, a segurança, o jardim, uma saudade e os segredos.