Hoje, regressei de uma viagem que me proporcionou um agradável sabor de boca. Por quê? É difícil explicar o que faz de uma viagem ser melhor que a outra. Fico me perguntando porque gostei tanto de retornar a Bélgica depois de tantas vezes e por quê essa vez teve algo diferente das outras. Sei la, talvez o fato dessa viagem ter me feito pensar e poder planificar melhor a minha vida.
Viajar sozinha quem sabe seja um dos poucos prazeres e aprendizagens que tenho sempre vontade de repetir. Pensar na vida, conhecer gente nova e poder refletir. Quem sou e pra onde estou indo. Voltei cansada, com dor de cabeça mas feliz de tudo aquilo que me deu tempo em fazer, em pensar, em planificar.
Bélgica foi uma caixa de surpresa: e voltar a revê-la me surpreendeu mais que outras vezes. Conheci bairros, monumentos, historia. Mergulhei na cultura e aprendi mais que as últimas 5 vezes que fui. É… Não importa quantas vezes você regresse a um lugar; ele sempre vai ser diferente.
Infelizmente, toda essa felicidade durou um milésimo de minuto. Hoje de tarde, recebi a noticia que abalou as minhas estruturas. Uma pessoa que eu amo muito padece de um câncer; não um câncer fácil, ou simples, mas daqueles que espanta quando se conta as pessoas a nossa volta. E ainda que exista possibilidade, esse minuto de felicidade foi arrebatado pela complexidade da vida.
É nessas horas que as lembranças mais duras da minha vida voltam de supetão. E penso como ainda estou inteira; sem muita feridas abertas, apenas cicatrizes de guerra.
Eu e um milhão de pessoas; que muitas vezes passam por momentos piores e mais complicados.
Não sei, mas como dizia Sheakespeare, não importa em quanto pedaços seu coração foi quebrantado, a vida não para para que você o concerte.
E diante da realidade você tem que continuar, tentando responder a eterna pergunta: Como se sobrevive a dor da ausência? Não sei, mas continuar andando é a única coisa que sei fazer. E ainda que chorar é um remédio que alivia a alma, tem dores que não passam. O tempo apenas te ensina a conviver com ela.
Não sei como concluir essa crônica. Nem pensava em escrever sobre coisas tristes, senão sobre a viagem mais maravilhosa dos últimos tempos. Mas o segundo de alegria foi desvanecido e, pouco a pouco, substituindo pela esperança.
Foi então que nesse exato momento lembrei de uma pessoa que já me respondeu essa pergunta em outra altura da minha vida. Clovis de Barros Filho, Professor Catedrático da USP em ética, dizia que “sem fórmula nenhuma, estamos num mundo extraordinariamente competente para nos entristecer, mas aqui e ali também capaz de nos proporcionar grandes alegrias, grandes surpresas, momentos que nunca mais gostaríamos que acabasse. São esse momentos que a gente percebe e que farão da vida sempre alguma coisa digníssima de ser buscada e fantástica de ser vivida”.
Amanhã é outro dia.
Sentimental e lindo o teu texto Jaqueline! É verdade. A vida continua e mesmo na tristeza podemos destacar as nossas doces lembranças!
Certo Mari. E é inevitavel nao lembrar das pessoas que amamos com carinho. a recordaçao é o nosso maior bem. Acho que é por isso que até hoje escrevo diarios. Tem coisa que a gente nao quer esquecer mesmo!!!
Li o texto curto, inebriador, suscito, mas de uma fluidez incontestável, de uma objetividade profundamente mágica, de uma construção de belas palavras e expressões que pretendo adotar! Mas minha surpresa maior foi ver que este texto lindo é da Jaqueline, uma menina nova, inteligente, que tive o prazer de conhecer pessoalmente, não menos talentosa na vida (porque sente) e na arte de escrever! Parabéns! Amei!
Muito obrigada Suzel pelo carinho. O exilio nos força a pensar, e a sentir muito.
Ah, e suscito é com n, aprendendo a digitar melhor, não faz a ninguém!