Por Luiz Ernesto Wanke – (Esta crônica faz parte do livro ‘Contos e Crônicas’ de 2005, edição comemorativa da Associação dos Professores do Paraná.)
Nós, ponta-grossenses, somos tidos pelos gringos alienígenas como um povo muito orgulhoso. Ledo engano. Só porque dizíamos que as sombras dos nossos prédios estavam tirando o sol dos castrenses? Aliás, pândegos eles que afirmam ter sido Castro a capital do Estado, mas será que não sabem que Ponta Grossa é uma das quatro cidades que no passado foram capitais federais? (Salvador, Rio de Janeiro, Brasília e Ponta Grossa). Não sabem? Ora, Getúlio, na revolução de 30, praticamente tomou posse da presidência em Ponta Grossa!
Brincadeirinha, mas que é, é!
Esta tendência de forçar uma suposta importância surgiu no tempo que éramos a segunda cidade do Paraná e batalhávamos para superar a capital. Mas isto foi há tanto tempo!
Nossa principal festa não é o carnaval pífio nem a festa da cerveja, hoje aguada pelo comércio desenfreado. É quando se veste o uniforme engomado, passa-se alvaiade no tênis e as professorinhas capricham nos ensaios de marcha da garotada. É isto mesmo, na festa de aniversário da cidade, o 15 de setembro. Com muito orgulho desfilamos na Avenida, nem dando bola para o 7 de setembro. Lembro-me que uma vez o General comandante do então 13 RI reclamou! Não seja por isso, nos intitulamos a ‘capital cívica do Paraná’, mesmo que seja caolha!
Pensando bem, hoje em dia civismo exacerbado é doença. Num mundo globalizado, a melhoria da qualidade de vida das pessoas e o cuidado com o meio ambiente são prioridades.
E a tal ‘capital da soja’? Pelo título pomposo levamos um ‘pito’ dos moradores de Palotina que realmente são os grandes produtores da leguminosa. São merecedores da honra, mas, pelo amor de Deus, o ‘mundial’ já é nosso e ninguém tasca!
Já o ‘capital do chope escuro’ até cai bem. O problema é que a cervejaria que o produzia na Avenida foi ‘simbora’.
Onde ficava ‘o maior entroncamento do sul do Brasil’? Onde, onde? Em Ponta Grossa! Ficava porque os trens sumiram! Para compensar, o então ministro Andreazza, fazendo média mudou para “maior entroncamento rodoferroviário do sul do Brasil”! Pintamos isto numa placa e a colocamos vistosamente na Rodovia do Café…
Depois puseram outra: ‘a capital dos caminhões’! Ora, ter que aturar muitos caminhões não gera sentimento de orgulho para ninguém. Ao contrário, eles produzem muita poluição, sendo tão indesejáveis que ninguém os quer dentro da cidade!
Quem sabe não ficaria mais verdadeiro chamar nossa cidade de ‘capital mundial dos ponta-grossenses’?
Também não seria a hora de abandonarmos esta mania de ser a capital de tudo e, ao mesmo tempo, de nada?
E, finalmente, não seria má ideia colocar lá mesmo na Rodovia do Café – de preferência no Contorno com a cidade visível – uma placa escandalosamente iluminada, com letras enormes, piscando intermitente e tendo como moldura uma flecha apontando a cidade, com dizeres:
“AQUI SOMOS FELIZES!”
Melhor ainda?
Só se fosse verdade!
COMPLEXO DE NABUCO: Este hábito de enaltecer ou a si ou sua comunidade de algumas qualidades suspeitas e depois divulga-las, chama-se de ‘complexo de Nabuco’. Um exemplo é achar que um hino nacional cantado entusiasticamente ganhava jogos. O pior é que todo mundo acreditou, mas só foi verdadeiro até os 7 a 1. Outro exemplo é que ‘temos as mulheres mais bonitas do mundo’ ou ainda, que ‘nosso povo é o mais alegre do Universo!’ E por aí vai…
Mas por que deram esse nome, pondo o coitado do Nabuco nesta historia?
Dizem que ’pegou’ por que ele mesmo se achava ‘formoso’! Mas, como vimos nesta crônica, pode ter sido mais uma lenda.
Brincadeirinha, mas que é, é!