Foto retirada da internet publicada no site da Oi Futuro

‘Poesia Visual é a liberdade da palavra’

A Poesia Visual materializa as rimas do poeta como se palavra adquirisse vida fora do papel. A alquimia só é possível com uso da tecnologia que cria a realidade virtual. Isso não significa o fim do poema declamado ou lido em um deleite solitário, apenas um jeito inovador de sentir intensamente as cismas do poeta sonhador.

Quando a amiga VeraLu Andrade começou contar sobre o projeto Poesia Visual e Digital que desenvolve no Rio de Janeiro, lembrei da exposição sobre Fernando Pessoa que visitei no ex, ‘in memorian’, Museu da Língua Portuguesa. Inesquecível e difícil de verbalizar a emoção de penetrar na ‘alma das palavras’ dos poemas de Pessoa, visualizando sua figura projetada e palavras que se desfaziam no ar, num contraste de luz e sombra. Cria um ambiente tão envolvente que nenhum adjetivo que colocar aqui irá descrever a sensação.

‘Palavra-Movimento’

Um ambiente tão sedutor como ‘Palavra-Movimento‘, do bailarino, coreógrafo e poeta Eduardo Macedo, que acontece no Centro Cultural da Oi Futuro, no Rio de Janeiro. A exposição é a mais recente produção do projeto Poesia Visual e Digital, cujo curador é Alberto Saraiva e patrocinador é a própria Oi Futuro. É ele que diz: Poesia Visual é a liberdade da palavra.

Eduardo Macedo criou 17 poemas relacionados à palavra. Em 10 monitores com áudios que integram o espaço em som ambiente, Eduardo dança e coreografa as letras com o corpo.

“A poesia, hoje, rompeu os limites que continham sua liberdade. A produção atual unifica o poema como coisa visual, objetual, sonora, gestual e textual. Esse fluxo é uma das principais características da poesia de nosso tempo,” afirma o curador.

No papo vai e papo vem com VeraLu, descobri que o projeto tem bons anos de trabalho árduo e criativo. São 120 títulos já publicados. Além das mostras com recursos digitais, publica-se também o que foi feito durante o ano. Um testemunho.

Ganhei dela dois livros magníficos, os últimos saídos do prelo, que mostram parte das exposições realizadas e identificam os poetas. Em um deles, no volume Poesia Visual 4, Antonio Cícero, filósofo, escritor e poeta, junto com Jorge Salomão, também poeta, compositor e diretor de teatro, assinam o Manifesto Supernovas. Nele, os dois reforçam o papel da poesia na contemporaneidade.

“A valorização da Ação, da Produção, da Experimentação, da Contradição e da Novidade, que tantos deploram, é a própria evidência do triunfo da Poesia em nosso tempo. Poesia é fazer, produzir. Produzir não é reproduzir prosaicamente o que já existe. Por isso, nenhuma outra época da história e nenhuma outra sociedade jamais foi tão rica de possibilidades criativas quanto esta, MOSAICAL, que exalta o tempo, a transformação e e as diferenças, e NÃO, a identidade estilística; NÃO, a estabilidade do bom gosto, NÃO, a ditadura do passado. O passado, como a natureza, não é para nós nem totem , nem tabu. Ambos são matérias-primas e alimentos. Podemos e devemos usá-los. Mas não podemos nem queremos voltar atrás. O nosso caminho é cada vez mais radical, mais crítico, mais reflexivo. Hoje, mais do que nunca, a arte é combate, liberdade e transformação do mundo”.

Liberdade

A arte em todas as suas manifestações liberta o homem da vida inodora e insonsa.  Ao ler este Manifesto lembrei das palavras da cineasta francesa Claire Denis. “A vida é real e precisamos acrescentar bastante fantasia para aguentar o que é insosso nela”.

Quando vivemos o cotidiano sem ampliar o olhar com poética artística, não vivemos em plenitude. Somos marionetes nas mãos de um poder que tem como foco uma sociedade sem lirismo, sem diferenças, controvérsias e sem transgressão.

Os fracos têm medo dessa liberdade que aflora no coração dos poetas, artistas, que são testemunhos de seu tempo. Não foi ontem, nem hoje e nem será amanhã que veremos a arte sucumbir à mediocridade.

Salve a Poesia Visual que se conecta com as diferentes linguagens virtuais!

 “Não estamos aqui para aceitar a divisão de trabalhos que tentamos nos impor, mas para derrubar as cercas de arame farpado do APARTHEID CULTURAL (…)”

Palavras que não perderam a atualidade num momento em que a cultura e educação no Brasil correm riscos de retrocesso.  Jorge Salomão e Antonio Cícero publicaram o Manifesto Supernovas em 1985 e suas reflexões permanecem para sempre!

Abaixo o Apartheid Cultural!

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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